"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

29 agosto, 2005

As Faces da Pobreza

Mais de um bilhão de pessoas no mundo vivem com menos de um dólar por dia . Outros 2.7 bilhões lutam para sobreviver com menos de dois dólares por dia. A pobreza nos países em desenvolvimento, no entanto, vai muito além da pobreza de renda. Significa ter de caminhar mais de 1,5 quilômetros todos os dias, apenas para ir buscar água e lenha; significa sofrer de doenças que, nos países ricos, foram erradicadas há décadas. Todos os anos, morrem onze milhões de crianças , a maioria das quais com menos de cinco anos; e mais de seis milhões morrem devido a causas totalmente evitáveis como a malária, a diarréia e a pneumonia.
Em alguns países extremamente pobres, menos de metade das crianças freqüentam o ensino primário e uma percentagem inferior a 20% passa para o ensino secundário. No mundo inteiro, 114 milhões de crianças não recebem instrução sequer ao nível básico e 584 milhões de mulheres são analfabetas.
Apresentamos em seguida alguns dados elementares que revelam as causas e expressões da pobreza que afeta mais de um terço da população mundial.

Saúde
Todos os anos, seis milhões de crianças morrem de má nutrição de fazer cinco anos.
Mais de 50% dos africanos sofrem de doenças relacionadas à qualidade da água, como cólera e diarréia infantil.
Todos os dias , o HIV/AIDS mata 6.000 pessoas e infecta outras 8.200 .
A cada 30 segundos, uma criança africana morre devido à malária – o que significa mais de um milhão de crianças mortas por ano.
A cada ano, aproximadamente 300 a 500 milhões de pessoas são infectadas pela malária. Aproximadamente três milhões de pessoas morrem por causa da doença.
Tuberculose (TB) é a principal causa de morte relacionada com a AIDS e, em algumas partes da África, 75% das pessoas portadoras do vírus HIV também têm TB.

Fome
Mais de 800 milhões de pessoas vão se deitar todas as noites com fome; dentre elas, 300 milhões são crianças.
Desses 300 milhões de crianças, apenas 8% são vítimas de fome ou de outras condições de emergência. Mais de 90% sofrem de má nutrição prolongada e de um déficit de micronutrientes.
A cada 3,6 segundos , mais uma pessoa morre de fome; em sua grande maioria, crianças com menos de 5 anos.

Água
Mais de 2,6 bilhões de pessoas - mais de 40% da população mundial – carecem de saneamento básico e mais de um bilhão continua a usar fontes de água imprópria para o consumo.
Quatro em cada dez pessoas no mundo carecem de acesso a uma simples latrina.
Cinco milhões de pessoas, na sua maioria crianças, morrem todos os anos de doenças relacionadas à qualidade da água.

Agricultura
Em 1969, a África era um exportador líquido de alimentos; hoje, o continente importa um terço dos cereais de que necessita.
Mais de 40% dos africanos não têm capacidade de obter diariamente os alimentos suficientes.
A decrescente fertilidade dos solos, a sua degradação e a pandemia da AIDS levaram a uma diminuição da produção de alimentos per capita da ordem dos 23%, nos últimos 25 anos, apesar de a população ter aumentado muito significativamente.
O agricultor africano paga pelos fertilizantes convencionais entre três e seis vezes mais do que o seu custo no mercado mundial.

O efeito devastador da pobreza nas mulheres
Mais de 80% dos agricultores da África são mulheres.
Mais de 40% das mulheres africanas carecem de acesso ao ensino básico.
Se uma menina receber instrução durante seis anos ou mais, a sua utilização, quando adulta, dos cuidados pré e pós-natais e a taxa de sobrevivência ao parto aumentam significativamente.
As mães que possuem instrução vacinam os filhos com uma freqüência 50% superior à das mães não-instruídas.
A AIDS propaga-se com o dobro da rapidez entre as meninas não instruídas, em comparação com aquelas que têm alguma escolaridade.
Os filhos de uma mulher que freqüentou o ensino primário durante cinco anos apresentam uma taxa de sobrevivência 40% superior aos filhos das mulheres sem qualquer instrução.
Uma mulher da África sub-saariana tem 1 possibilidade em 16 de morrer durante a gravidez ou o parto. Na América do Norte, o risco de é 1 em cada 3700 casos.
Em cada minuto, uma mulher morre no mundo durante a gravidez ou o parto. Isto significa que, no total, morrem 1.400 mulheres por dia – isto é, 529.000 por ano – devido a causas relacionadas com a gravidez. Quase metade dos partos, nos países em desenvolvimento, não são assistidos por um técnico de saúde.

fonte: http://www.pnud.org.br/milenio/numeroscrise.php

Artigo - Jornal da Unicamp

A blindagem e o retorno à superfície na dimensão dos interesses republicanos.
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A face do Racismo

Por Emir Sader

"A gente vai se ver livre desta raça (sic), por, pelo menos, 30 anos", disse o senador Jorge Bornhausen (PFL). Ele merece processo por discriminação, embora no seu meio - de fascistas e banqueiros - é usual referir-se ao povo dessa maneira - são "negros", "pobres", "sujos", "brutos".

“A gente vai se ver livre desta raça (sic), por, pelo menos, 30 anos” (Jorge Bornhausen, senador racista e banqueiro do PFL)
O senador Jorge Bornhausen é das pessoas mais repulsivas da burguesia brasileira. Banqueiro, direitista, adepto das ditaduras militares, do governo Collor, do governo FHC, do governo Bush, revela agora todo o seu racismo e seu ódio ao povo brasileiro com essa frase, que saiu do fundo da sua alma – recheada de lucros bancários e ressentimentos.
Repulsivo, não por ser loiro, proveniente de uma região do Brasil em que setores das classes dominantes se consideram de uma raça superior, mas por ser racista e odiar o povo brasileiro. Ele toma o embate atual como um embate contra o povo – que ele significativamente trata de “raça”.
Ele merece processo por discriminação, embora no seu meio – de fascistas e banqueiros – sabe-se que é usual referir-se ao povo dessa maneira – são “negros”, “pobres”, “sujos”, “brutos”, - em suma, desprezíveis para essa casa grande da política brasileira que é a direita – pefelista e tucana -, que se lambuza com a crise atual, quer derrotar a esquerda por 30 anos, sob o apodo de “essa raça”.
É com eles que anda a “elite paulista”, ultra-sensível com o processo de sonegação contra a Daslu, mas que certamente não dirigirá uma palavra de condenação a seu aliado estratégico (da mesma forma que a grande mídia privada). São os amigos de FHC e de seus convivas dos Jardins, aliados do que de mais atrasado existe no Brasil, ferrenhamente unidos contra a esquerda e o povo.
Mas não se engane, senhor Bornhausen, banqueiro e racista, muito antes do que sua mente suja imagina, a esquerda, o movimento popular, o povo estarão nas ruas, lutarão de novo por uma hegemonia democrática, anti-racista, popular, no Brasil. Muito antes de sua desaparição definitiva da vida pública brasileira, banido pelo opróbio, pela conivência com a miséria do país mais injusto do mundo, enquanto seus bancos conseguem os mairores lucros especulativos do mundo, sua gente será defintivametente derrotada e colocada no lugar que merece – a famosa “lata de lixo da história”.
Não, senhor Bornhausen, nosso ódio a pessoas abjetas como a sua, não os deixará livre de novo para governar o Brasil como sempre fizeram – roubando, explorando, assassinando trabalhadores. O seu sistema, o sistema capitalista, se encarrega de reproduzir cotidianamente os que se opõem a ele, pelo que representa de opressão, de expoliação, de desemprego, de miséria, de discriminação – em suma, de "Jorges Bornhausens".
Saiba que o mesmo ódio que devota ao povo brasileiro e à esquerda, a esquerda e o povo brasileiro devotam à sua pessoa – mesquinha, desprezível, racista. Ele nos fortalece na luta contra sua classe e seus lucros escorchantes e especulativos, na luta por um mundo em que o que conte seja a dignidade e a humanidade das pessoas e não a “raça” e a conta bancária. Obrigado por realimentar no povo e na esquerda o ódio à burguesia.
Emir Sader, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de “A vingança da História".

fonte: http://www.novae.inf.br/pensadores/odio_burgues.htm

Cuidados Paliativos

Por Eduardo Macedo de Oliveira


O autor de "O Mundo de Sofia", o norueguês Jostein Gaarder volta ao Brasil para o lançamento do seu novo livro "A garota das Laranjas" (Cia. Das Letras, 136 págs.), seu 14º livro. Por telefone, de Oslo (Noruega), concedeu entrevista ao jornal Estado de S.Paulo (p.10, 17/08/2005). Em um trecho da mesma é indagado: "[...] Você acredita em vida após a morte?" e responde: "Não, mas gostaria de não estar certo. O fato é que adoro viver. É uma lastima que tenhamos de morrer [...]".
Um dia, todos nós estaremos diante desta certeza absoluta. Vida e morte é uma questão de dignidade. Morrer em paz, realizado, sem sofrimento e agonia é o desejo de todos nós. Por razões naturais e/ou estruturais, nem sempre isso será possível. Talvez, muito de nós teremos que passar nossos últimos dias fora de nossos lares, familiares e amigos. Vítimas de doenças incuráveis, poderemos tornar um paciente terminal, internado num leito hospitalar.
Para a medicina, a morte é inimiga. Numa unidade de tratamento intensivo (UTI), o procedimento padrão é investir em todas as possibilidades tecnológicas de cura. Mas a morte é um processo conseqüente da vida. A médica Maria Goretti Maciel afirma "uma paciente fora de possibilidade de cura não é um doente fora de possibilidade de vida" (Jornal Folha de S.Paulo, 04/07/05), ou seja, é possível ter qualidade de vida mesmo diante de uma doença incurável.
Surge uma nova concepção médica, chamada de Cuidados Paliativos. Essencialmente, defende que "quando existe uma chance de cura, vale tudo na medicina, efeitos colaterais, dor, tudo. Mas, quando não há cura, o tratamento tem de ser focado no alívio dos sintomas e no conforto do paciente", diz o oncologista Císio Brandão, do Hospital do Câncer (SP) (Jornal Estado de S.Paulo, 03/04/05).
No Brasil, há cerca de 30 grupos de tratamentos paliativos ligados a hospitais, 10 deles com equipes multidisciplinares. Em São Paulo, a Secretaria de Estado da Saúde tem o serviço de cuidados paliativos no Sistema Único de Saúde (SUS).
É importante destacar que os pacientes continuam a receber os cuidados terapêuticos, mas com o intuito principal de aliviar os sintomas da doença. Cuidados Paliativos, de acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS), englobam cuidados com a dor física, psicológica, social e espiritual. Pesquisas americanas indicam que mais da metade dos paciente com câncer em fase terminal tiveram sofrimento físico durante os últimos dias de vida (jornal Estado de S.Paulo, 27/03/05), afirma o ex-capelão do Hospital das Clínicas de SP, Leo Pessani. No Brasil, com todas as suas deficiências na área de saúde, ocorre a eutanásia social, "uma abreviação coletiva de vida, em que a exclusão e a desigualdade dizimam camadas mais vulneráveis da sociedade (idem)".
Enfim, esta nova concepção médica, propõe uma nova postura, que em vez de manter pessoas indefinidamente presas a uma máquina, seria mais apropriado investir em cuidados paliativos que dessem mais conforto aos mesmos em fase terminal.

25 agosto, 2005

Construindo Sempre - Ferramenta de apoio

Programa de educação continuada da USP [Ensino Médio] Clique aqui para acessar

Aperfeiçoar as metodologias de ensino dos professores da rede pública de ensino, evidenciar as novas formas de interação do trabalho escolar e chamar a atenção para as principais mudanças pedagógicas dos últimos anos.
Com objetivos muito bem definidos, a Universidade de São Paulo (USP) acaba de lançar um cd-rom com o conteúdo didático do Programa de Educação Continuada PEB II Construindo Sempre. Trata-se de um projeto de capacitação que teve 150 horas/aula e foi aplicado em 2003 a mais de 2 mil professores de escolas públicas do Estado, por meio de um convênio com a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo.
“O projeto visa à formação dos professores em serviço, com a proposta de divulgar conteúdos significativos das diferentes disciplinas ministradas no ensino médio”, disse Sônia Penin, pró-reitora de graduação da USP, à Agência FAPESP.
Sônia acredita que a reprodução do projeto em mídia digital se fez necessário devido às grandes diferenças curriculares das escolas. “Hoje, não há um programa muito bem definido na rede pública estadual. O que existe são diretrizes curriculares. Por isso, o cd-rom propõe uma série de alternativas para a organização curricular e diversificação de modalidades didáticas nas escolas”, explicou.
O material, lançado pelas pró-reitorias de Graduação e de Cultura e Extensão Universitária, conta com 21 módulos de história, geografia, língua portuguesa, biologia, física, química e matemática. Inclui ainda atividades da ferramenta learning space utilizada durante o curso. “Essa ferramenta promove a utilização de diferentes mídias alternativas na prática docente, como a aprendizagem por meio de videoconferências e da internet”, explica Sônia.
A intenção é distribuir inicialmente 20 mil cópias do cd-rom a escolas públicas do Estado de São Paulo. O conteúdo também está disponível para download no site http://paje.fe.usp.br/estrutura/pec.

fonte: http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?data[id_materia_boletim]=4230

Lugar de criança é no orçamento público

Dizer que o lugar de criança é na escola ou em casa é incorrer em um erro simples: o de não garantir os indivisíveis e interdependentes direitos dessa população. "O lugar de criança e do adolescente é o orçamento público. É impensável que o acesso à cultura, à educação, ao lazer e ao esporte estejam dependentes de cortes ministeriais", argumentou Fernando Silva, presidente do Conanda, no primeiro dia de atividades da Consulta Nacional.
Pela lógica de Silva, não adianta universalizar o acesso à escola, deixando de lado direitos elementares estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. "A Consulta está para antever os aspectos orçamentários de políticas públicas em prol dos direitos humanos".
E pelas estatísticas, há muitos investimentos a serem feitos. Segundo a senadora Patrícia Saboya (sem partido-CE), conhecida por seu trabalho no combate das rotas de exploração sexual nas estradas brasileiras, a cada dia 16 adolescentes morrem violentamente por todo o Brasil. "É uma chaga que envergonha o país. E por mais que parlamentares digam em seus discursos que a criança é o futuro do país, poucos realmente fazem alguma coisa em seus Estados", critica.
A opinião vem do trabalho como coordenadora da Frente Parlamentar pelos Direitos da Criança e Adolescente, no qual investiga mais de 200 roteiros de prostituição infantil pelo país. "Existem a cada dia novas alianças da sociedade civil sendo firmadas, basta que cada senador e deputado se articule com essas lideranças, muitas delas sem nome ou rosto", acredita Saboya.
Nesse panorama, o discurso de Paulo Sérgio Pinheiro, independent expert para o estudo mundial da violência contra a criança, pela organização das Nações Unidas (ONU), sintetiza a preocupação de Saboya e Silva. "Temos que mobilizar e responsabilizar nossos governantes. Nós damos uma vida mole aos parlamentares", enfatiza.
Segundo ele, os deputados e senadores brasileiros "defendem bobagens, como palmadas disciplinadoras". "Eles devem ser confrontados por sua estupidez. As crianças e adolescentes em todo o mundo dizem que não querem continuar apanhando, e a população precisa pressioná-los".

fonte: http://aprendiz.uol.com.br/content.view.action?uuid=e9e7f92b0af4701001722456a87b48cd

23 agosto, 2005

Google passa a indexar teses da Unicamp

O Google passou a indexar em seu buscador as teses da biblioteca digital da UnicampAlém de facilitar, a nova sistemática permitirá um aumento no acesso e downloads às teses publicadas pela Unicamp. Segundo informações da universidade, a biblioteca digital, que tem cerca de 60 mil acessos por mês e de 900 a 1.200 downloads de seus textos ao dia, já vê o aumento desses números, apesar do pouco tempo.Até o último dia 17, já foram registrados 39 mil acessos. A intenção do coordenador da Biblioteca Central, Luiz Atílio Vicentini, é de que até o final deste mês, se chegue ao número de 70 mil acessos.O Sistema de Bibliotecas da Unicamp pode ser acessado pelo link http://www.unicamp.br/unicamp/servicos/servicos_bibliotecas.html#acervos . E o Google pelo http://www.google.com.br (Com informações da Unicamp) (Gestão C&T, 399).

Aumenta diferença entre ricos e pobres

A diferença entre as economias pobres e ricas está aumentando, assim como a que existe dentro dos próprios países. Por causa das enormes diferenças sociais que existem em países da América Latina, a redução de mortalidade ou o melhor acesso a alimentos tende a não ocorrer entre a população mais carente. Isso pode causar uma situação inusitada: o Brasil e outros países afirmando que atingiram as Metas do Milênio, mas na realidade criando um fosso ainda maior entre a população mais miserável e o restante.
Outra disparidade seria entre as regiões urbanas e rurais na América Latina. Nas cidades, o número de pessoas com acesso à água potável é de 84%, ante 44% na zona rural. A realidade é semelhante quando se trata de avanços na mortalidade infantil. O Brasil conseguiu reduzir em 40% as vítimas entre 1990 e 2003, mas esses avanços ocorreram em grande parte dos centros urbanos e não no interior do Nordeste ou entre as comunidades indígenas.
No caso da fome, os países conseguiram fazer que o número de pessoas sem comida caísse 7% nos últimos 13 anos. Quanto à mortalidade infantil, a queda foi de 54 vítimas para cada mil em 1990 para 32 em 2003. O acesso à água potável passou de 83% da população para 89% nesse período. Mas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), esses números podem ser enganosos por não atingirem a população de forma homogênia.

fonte: http://aprendiz.uol.com.br/content.view.action?uuid=e48e4b2b0af4701001722456e9948653

22 agosto, 2005

A Educação e o ECA

Por Denise Carreira(*)

Apesar das conquistas legais obtidas a partir da Constituição de 1988 e ao longo dos anos de 1990, na qual o ECA representa um marco fundamental, o direito à educação pública de qualidade segue sendo algo muito distante para a gigantesca maioria da população brasileira. Como em outras áreas sociais, a avaliação de movimentos, organizações e redes de educação, como a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, é a de que os avanços conquistados na legislação, nas últimas décadas, não se traduziram em políticas públicas consistentes e com condições de financiamento para a universalização da educação como direito humano fundamental de todos e todas. Na última década, o país ampliou o acesso ao ensino fundamental, chegando a matricular 97% das crianças de 7 a 14 anos, avanço obtido graças a uma política pública que garantiu a expansão baseada em um limitado investimento por aluno (comparado a outros países no mesmo patamar de desenvolvimento) e na oferta de uma escola de baixa qualidade para a maioria. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INEP/MEC), somente 2,79% e 10,29% daqueles que conseguem chegar ao final do ensino fundamental atingem patamares adequados em matemática e língua portuguesa, respectivamente. Dados como esse também aparecem em muitas outras pesquisas nacionais e internacionais, nas quais a posição do Brasil com relação à aprendizagem ocupa sempre um lugar crítico. Além dos problemas de qualidade, o país tem gigantescos desafios de acesso e permanência, sobretudo com relação à educação infantil, ao ensino médio, à educação de jovens e adultos, à educação especial, à educação do campo, sem falar, do ensino superior. Mesmo no ensino fundamental, na faixa etária de 7 a 14 anos, foco de políticas nos anos 90, ainda permanecem mais de 1 milhão e meio de crianças e adolescentes fora da escola. A educação de crianças de 0 a 3 anos constitui uma das situações mais vulneráveis da educação pública. Segundo IBGE, somente 11,7% da população de 0 a 3 anos têm acesso às creches. Avaliação técnica realizada pela Câmara dos Deputados no início de 2005 apontou que a meta do Plano Nacional de Educação (lei aprovada em 2001) de chegar a 50% de cobertura na educação infantil de 0 a 3 em 2011 não será alcançada caso não ocorra uma mudança significativa das condições de financiamento da área, sob responsabilidade constitucional dos municípios. A decisão do governo federal de excluir as creches da proposta do novo fundo para toda a educação básica (FUNDEB), atualmente em tramitação no Congresso, inviabiliza a possibilidade da meta das creches ser alcançada e fere o conceito de educação básica, excluindo aquela que seria parte de sua primeira etapa. Tal decisão tem impacto negativo na vida de milhões de crianças e de mulheres trabalhadoras, sobretudo, as de baixa renda. Desigualdades sociais As desigualdades sociais de renda, raça/etnia, gênero, regional, entre outras presentes na sociedade brasileira estão refletidas na educação pública. De acordo com os estudos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD/2002), apenas 7,3% das crianças de baixa renda, na faixa etária de 0 a 3 anos de idade, freqüentavam um estabelecimento de educação (a média nacional é de 11,7%). As pessoas afrodescendentes constituem a maior parte dos analfabetos no Brasil e das crianças e adolescentes que enfrentam problemas para a permanência e aprendizagem na escola. Enquanto 44% das crianças brancas e pobres entre 10 e 14 anos estão matriculadas entre a 5ª a 8ª série, apenas 27% das crianças negras e pobres dessa idade frequentam a escola. Os negros têm em média 1,6 ano a menos de estudo que os brancos (4,3 e 5,9 respectivamente). A diferença é maior ainda entre mulheres brancas e negras: 1,8. Enquanto os brancos formam 7,5% dos analfabetos com mais de 15 anos, os negros somam 17,2%. A discriminação racial está presente em grande parte das instituições de educação do país, mantida sob um manto de invisibilidade em que ninguém admite discriminar. Embalado pelo “mito” de que no Brasil não há racismo, o silêncio sobre o preconceito e a discriminação alimenta situações absurdas e produz efeitos terríveis na auto-estima de crianças, jovens e adultos negros e não contribue para o desenvolvimento de uma sociedade inclusiva que respeite e valorize as diferenças. Quebrar o silêncio e assumir o problema da discriminação constitui o primeiro passo para superá-la. A lei 10.639, de 2003, representa uma conquista do movimento negro ao estabelecer o ensino e valorização da cultura e da história afro-brasileira na educação de todo o país. Na última década, os indicadores educacionais tiveram melhoria em todas as regiões do país. Porém, os indicadores educacionais dividem o Brasil em dois grandes blocos. Um deles é formado pelas regiões mais desenvolvidas: Sudeste e Sul. O outro, pelas regiões Norte e Nordeste. O descompasso entre os dois blocos é de cerca de uma década. Subordinada à lógica do ajuste fiscal, que impõe a limitação de recursos às políticas sociais, a educação pública segue sendo tratada como uma política destinada a “aliviar a pobreza” e não a garantir o direito à educação para todos como base de projeto de desenvolvimento que enfrente as profundas desigualdades no pais. A mudança dessa realidade é o desafio assumido por diversos movimentos, organizações e redes da sociedade brasileira que desenvolvem experiências inovadoras e ações políticas locais, regionais, nacionais e internacional. A Campanha Nacional pelo Direito à Educação representa um desses esforços de articulação de diferentes atores destinada a aumentar a força política daqueles e daquelas que atuam por uma educação pública de qualidade para todas as pessoas.

(*) Coordenadora da Campanha Nacional pelo Direito à Educação Articulação que reúne 200 organizações, redes e movimentos do país www.campanhaeducacao.org.br

fonte: http://www.ilanud.org.br/index.php?cat_id=92&pag_id=707

Um dia sem os economistas

Por Emir Sader

Diante das últimas denúncias, Palocci e Meirelles deveriam se afastar do governo. Farão falta? Eu diria que nenhuma. Se for para manter a mesma política, há uma máquina de fabricação de modelos similares. Mas bem que podíamos experimentar algo novo. Quem sabe um dia sem os economistas.

Alguém se surpreende com que as duas mais importantes autoridades econômicas do governo sejam acusadas de manejos ilegais de dinheiro? Henrique Meirelles tem processo formado na Justiça, apresentado pela Procuradoria Geral da República, com acusações de enriquecimento ilícito, de sonegação fiscal etc. E Palocci, de participar da caixinha de Delúbio.
Sejam certas ou não, uma conseqüência deve derivar imediatamente: ambos não possuem condições de ocupar os cargos que ocupam. Devem se afastar ou ser afastados imediatamente, sem que isso represente uma condenação prévia, mas sim que as simples suspeitas que recaem sobre eles são suficientes para inviabilizá-los para os cargos que ocupam.
O que será o governo sem eles? Farão muita falta? Eu diria que nenhuma falta. Se for para manter a mesma política, há uma máquina de fabricação de modelos similares – vários deles já passaram pelo próprio Ministério da Fazenda e delo Banco Central –, podem substituir os dois, fazendo exatamente a mesma coisa. O pensamento único forjou também os dirigentes econômicos únicos, que fazem e dizem as mesmas coisas, com as mesmas fisionomias sérias ou com um sorrisinho de auto-confiança nos lábios – conforme o nível das bolsas.
Ou, melhor ainda, o governo pode aproveitar para mudar os auxiliares e mudar a política econômica. O que seria o Brasil sem eles? Experimentemos. Tentemos viver um dia sem os economistas. (Talvez o sábado e o domingo sejam os melhores dias das semanas justamente porque ficamos livres das cotações da Bolsa, do dólar, da Nasdaq e companhia limitada. Fiquemos livres das entrevistas dos operadores de mercado, dos colunistas econômicos, dos ministros e presidentes dos bancos centrais.)
Tentemos substituí-los por gente como a gente, que priorize os objetivos sociais – nível de emprego, de salários, universalização e qualidade das políticas de saúde, educação, cultura –, em detrimento dos objetivos financeiros. Que diminua drasticamente ou desapareça com os superávits fiscais, que diminua drasticamente as taxas de juros, que eleve o salário mínimo a R$ 400, que só conceda créditos governamentais em troca de garantia de empregos e com carteira de trabalho assinada, de aumentos salariais. Gente que privilegie a saúde, a educação, a cultura, em detrimento das taxas de juros e das bolsas de valores.
Um dia sem os mexicanos é impossível para os estadunidenses, porque os mexicanos trabalham muito. Um dia sem os economistas se revelará perfeitamente factível e saudável. Veremos que podemos ser autônomos, independentes, felizes, sem os economistas. Comecemos agora, pelo Ministério da Fazenda e a Presidência do Banco Central, sem os economistas.

Emir Sader, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de “A vingança da História".

fonte: http://www.novae.inf.br/pensadores/sem_economistas.htm

Vozoteca

Vozes de personalidades da vida política, cultural e social brasileira, fornecidas pela Vídeo Vozoteca LEK.

19 agosto, 2005

Telescópios para os alunos

Estudantes do ensino fundamental, médio e superior já podem fazer uma análise virtual das galáxias. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) resolveu estimular as investigações científicas em astronomia, física, informática, engenharia e matemática, colocando à disposição das instituições de ensino um telescópio para observações on line chamado Miniobservatório Astronômico. A primeira foi realizada na semana passada, na Escola Moppe, em São José dos Campos (SP).
Os interessados devem preencher um formulário disponível na página eletrônica do Inpe. Se a proposta for aprovada, a instituição recebe uma senha para acessar o telescópio no dia e horário agendados. Segundo o pesquisador da Divisão de Astrofísica (DAS) do Inpe, André Milone, os estudantes vão poder analisar a dinâmica de aglomerados de estrelas, nebulosas, galáxias e planetas. “E até registrar a ocorrência de um grande fenômeno astronômico em tempo real.”
O novo programa do Inpe integra o projeto Educação em Ciências com Observatórios Virtuais, coordenado pelo Instituto Astronômico e Geofísico (IAG) da Universidade de São Paulo (USP). “O projeto pretende expandir as observações para outros sites astronômicos. Em breve outros observatórios também estarão funcionando de maneira remota”, prevê Milone.

fonte: http://portal.mec.gov.br/seb/index.php?option=content&task=view&id=2567&FlagNoticias=1&Itemid=2690

César Benjamin

Ex-petista acusa Delúbio de usar FAT para financiar PT nos anos 90

César Benjamin diz que ex-tesoureiro usou dinheiro oficial para ajudar corrente de Lula e Dirceu a dominar máquina partidária

RIO - Militante do PT de 1980 a 1995, o editor César Queiroz Benjamin, de 51 anos, situa no início dos anos 90, com a atuação do então representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Delúbio Soares, no Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), o início da mudança que levou o partido à atual crise. De acordo com Benjamin, com repasses do FAT para sindicatos Delúbio Soares fortaleceu a tendência Articulação, da qual fazem parte o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado José Dirceu (SP), que assim dominou a máquina partidária.
Na direção do PT, conta ele, Delúbio, com aval do hoje presidente e do ex-ministro da Casa Civil, formou com outros petistas o grupo conhecido como "os operadores", cujo objetivo prioritário era dinheiro.
"Então esse grupo consolida a sua hegemonia", diz Benjamin, que não apresenta provas, mas alega que no PT "todos sabiam" do que ocorria. Ele deixou o partido há uma década, denunciando o que chamou de "ovo da serpente", a entrada maciça na legenda de dinheiro de bancos e empreiteiras. Hoje, acha que suas previsões se confirmaram e avalia que Lula sabia das irregularidades. "Eu, que já estava fora do PT, sabia. Como o Lula poderia não saber?"
O senhor acha que as previsões que fez ao sair do o PT se cumpriram?
Vamos situar a saída. Na campanha de 1994, eu era da direção e da coordenação da campanha. E depois ficou claro que tinha havido uma série de financiamentos que desconhecíamos. De bancos e empreiteiras, para a campanha do Lula.
Eram financiamentos ilegais?
Do ponto de vista partidário não eram legais. Porque tanto a direção quanto a militância nunca souberam disso. Tentei discutir na direção nacional, não houve possibilidade, e resolvi levar ao Encontro Nacional do PT de 1995, que era o primeiro na seqüência da eleição. E aí ficou claro para mim que já estava havendo no PT o início do esquema que agora vem à luz, inclusive com os mesmos personagens. Eu tive a percepção de que isso continha um perigo extraordinário, que era a entrada no PT, pesadamente, de esquemas de financiamento que teriam um impacto grande na vida interna do partido. O Dirceu foi eleito para a presidência, esse grupo que agora está nas manchetes assume cargos-chave, e fica claro que o partido tinha tido uma inflexão para pior. Ser direção passava a ser gerenciar interesses. E saí, eu me lembro que no meu pronunciamento no Encontro Nacional disse que estávamos diante do ovo da serpente que ia nos devorar. Então, quando vejo essa situação atual, tenho consciência de que não começou agora e é a expressão de uma prática continuada e sistêmica, que foi introduzida através do Lula e do Zé Dirceu.
Pode-se dizer que o processo de corrupção começou em 1994?
Talvez tenha começado antes.
Quando?
Há notícias de processos semelhantes no Fundo de Amparo ao Trabalhador. Não por coincidência o representante da CUT no FAT chamava-se Delúbio Soares e se multiplicaram notícias de esquemas de financiamento heterodoxos.
O que houve?
Até essa época, a Articulação, que é o grupo do Lula e do Dirceu, ainda disputava a hegemonia no PT cabeça com cabeça. A minha interpretação é a de que esse grupo usou esquemas de financiamento heterodoxos para fortalecer a Articulação. Porque o FAT faz convênios com sindicatos. E assim fortaleceu as finanças da Articulação, que passa a manejar poder financeiro que é uma arma nova na luta. Passa a ter capacidade de financiar candidaturas, trazer pessoas, estabelecer pontes. Delúbio se tornou figura paradigmática. Foi tesoureiro da CUT, foi para o PT como tesoureiro. E esse grupo começa a ser conhecido como "os operadores".
Quem eram Delúbio, Sílvio?
Silvio Pereira, depois Marcelo Sereno... Esse grupo estabelece influência crescente no PT e na CUT. Ser da Articulação significava fazer campanhas muito caras. E se combina com o esvaziamento da militância. Então esse grupo consolida a hegemonia. Passa a operar em vários esquemas. Santo André é um deles. Passa a procurar maneiras de levantar dinheiro. E com a chegada ao governo federal as práticas ganham escala e um potencial de crescimento e visibilidade muito maior.
E o presidente Lula nisso tudo?
O Lula garante que foi traído, que não sabia. Mas eu não acredito nisso. Foram práticas sistemáticas durante mais de dez anos, do grupo que era mais próximo do próprio Lula. Me parece completamente inverossímil que ele fosse o único a não saber. Todos sabíamos. Eu, que já estava fora do PT, sabia. Como o Lula poderia não saber?
Qual é o efeito disso?
O principal legado é que a liderança do Lula dissolveu por dentro os valores da esquerda. Se você pegar para trás, Luiz Carlos Prestes morre pobre. Nunca tínhamos tido uma liderança que disseminasse o antivalor.
O que é isso?
O grande legado do Lula é essa disseminação do antivalor. O valor da esperteza, o valor de se dar bem, de não estudar, ter orgulho de não estudar... Eu diria que o Lula sempre foi um grande guarda-chuva para os oportunistas no PT. Uma coisa é o partido ter um líder que é honesto, honrado. Então, quem quer ser picareta fica meio acuado. Pode até querer ser picareta, mas não é a regra. Outra coisa é você estar num ambiente em que veio de cima o exemplo. Então, sob a liderança do Lula, eu diria que se formou a pior geração de militantes da esquerda brasileira de toda a sua história: pragmática, oportunista, individualista, carreirista.
Foram matando a militância?
Foram matando a militância e fazendo a ascensão dos carreiristas, dos oportunistas. Se você não tem militância e quer fazer campanhas competitivas, tem de ter dinheiro. No momento em que o PT optou por ser partido da ordem, teve de ir beber nas fontes da ordem.
O PT morreu?
Nem um roteirista de terceira categoria imaginaria esse fim para o PT. Nos últimos dias teve dólar na cueca, teve conta nas Bahamas, festa com cafetina, carro importado... Quer dizer, isso é roteiro de chanchada. Eu mesmo não imaginaria que esse fosse o fim do PT.

Benjamin foi preso político nos anos 70

HISTÓRIA: Formado em Economia pela Universidade Federal do Rio, César Queiroz Benjamin foi um dos fundadores do PT, em 1980, mas começou a militar na esquerda muito antes da criação do partido, ainda na adolescência, no fim dos anos 60. Aos 14 anos, participava das passeatas do movimento estudantil de resistência à ditadura. Sua trajetória e o crescente fechamento da política o levaram à clandestinidade e à luta armada, integrando o Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR8), de guerrilha urbana, que protagonizou ações armadas na tentativa de derrubar o regime militar. Escapou várias vezes de ser preso e morto, mas acabou "caindo" em 1971, aos 17 anos, tendo sido provavelmente um dos mais jovens presos políticos brasileiros. No meio da década de 70 foi libertado e exilou-se. Voltou com a anistia e ajudou a criar o PT - foi da direção fluminense e da nacional várias vezes. Em 1995, criticou fontes de financiamento do partido em discurso no encontro nacional e deixou o PT, num episódio que causou comoção. José Dirceu, por exemplo, chorou. Atualmente, Benjamin é um dos editores da Editora Contraponto, e autor de E o Sertão, de Todo, se Impropriou à Vida: um Estudo sobre a Seca no Nordeste (Petrópolis, Vozes, 1985, com Sérgio Goes de Paula), Diálogo sobre Ecologia, Ciência e Política (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1992), A Opção Brasileira (Rio de Janeiro, Contraponto, 1998) e Bom Combate (Rio, Contraponto, 2004).

Fonte: Jornal Estado de S.Paulo, 19/08/2005

18 agosto, 2005

Universo do Conhecimento

Planeta Terra - Um olhar interdisciplinar
Transmissão on-line: http://www.universodoconhecimento.com

PALESTRANTES

Celso Lafer - 18 de agosto de 2005 "Democracia e Paz"
Thomas Lovejoy - 8 de setembro de 2005 "Biodiversidade, Ciência e Governança”
Edgar Morin - 14 de setembro de 2005 "Educação na Era Planetária”
Pierre Lévy - 19 de setembro de 2005 "Desenvolvimento Humano e Unidade das Ciências"
Ray G. Young - 18 de outubro de 2005 “Corporações e Cooperação Global”
Carlos Byington - 8 de novembro de 2005 "Alma"

Jostein Gaarder

Autor de ' O Mundo de Sofia' volta ao Brasil com novo livro

O ex-professor de Filosofia norueguês Jostein Gaarder não se acomodou com o sucesso de livros como O Mundo de Sofia. Tem enfrentado desafios, como traduzir o conteúdo das Confissões de Santo Agostinho para adolescentes ou, no caso de A Garota das Laranjas, livro que lança amanhã, em São Paulo, associar a paixão de um homem à investigação do cosmo pelo telescópio Hubble. Seu 14º livro é comovente. Narra a história de um adolescente de 15 anos que recebe uma carta de seu pai morto, extraviada 11 anos antes. Nela, ele conta como conheceu a garota de seus sonhos. Gaarder, que participa de vários encontros pelo Brasil este mês, falou ao Estado, por telefone, de Oslo, onde reside.
Desde seu primeiro sucesso, O Mundo de Sofia, você escreve livros segundo o ponto de vista do adolescente. Por quê?
Escrevo livros para jovens, mas são os adultos que mais lêem. Acredito que o mundo está precisando de boas histórias, sejam elas histórias infantis consumidas por adultos ou vice-versa. Estamos atrofiando nossa imaginação. Tento, portanto, me comunicar com os jovens, os mais prejudicados com o isolamento que a tecnologia impõe, afastando o adolescente da vida comunitária que produz essas boas histórias.
É inusitado, mas A Garota das Laranjas está sendo recomendado por uma associação espírita estrangeira. Você acredita em vida após a morte?
Não, mas gostaria de não estar certo. O fato é que adoro viver. É uma lástima que tenhamos de morrer. Tenho a mesma crença do pai morto de A Garota das Laranjas. A vida continua com nossos descendentes e é preciso orientá-los. É exatamente o que faz o pai, deixando uma carta para que o filho, ao crescer, possa entender sua mensagem. Nesse sentido, talvez o livro possa ser lido como espírita, mas não deveria. É apenas uma obra sobre o diálogo. Como ele só pode ser travado entre pessoas da mesma estatura intelectual, o pai tem de esperar 11 anos para conversar com o filho. É o que pensa esse homem, que está morrendo de câncer. Nunca tive uma experiência sobrenatural, mas a palavra é fascinante. Sugere todo um universo mágico em que acreditamos quando crianças. Nesse estágio, não separamos o mundo natural do sobrenatural. Eles são iguais. A separação vem muito depois. De qualquer modo, não acredito numa revelação. O mundo já é uma revelação.
Porém, seus personagens recebem mensagens de um modo estranho. Georg, o menino de A Garota das Laranjas, acha uma carta do pai morto. Esse artifício não esconde a falta de crédito no entendimento, na possibilidade de um diálogo?
Você está certo. A comunicação, em meus livros, se dá por meio de cartas, mas devo argumentar que se trava sempre um diálogo real. Eu preciso do contraponto, para usar a linguagem musical. A dimensão polifônica é sempre melhor. Considere, por exemplo, a gravação Unforgettable com Natalie Cole e seu pai, Nat 'King' Cole. Esse registro impressiona pelo fato de sabermos que se trata de um diálogo entre a filha viva e o pai morto. Ora, uma criança jamais poderia entender o que sente seu pai, pois ela não está de posse do código da paixão nem tem a experiência de um adulto. A Natalie Cole adulta pode entender perfeitamente a gravação original e, portanto, 'conversar' com o pai. Isso justifica por que o pai de Georg, em A Garota das Laranjas, deixa a carta para ser lida pelo filho adulto.
Num outro livro seu, Vita Brevis, a mãe do filho de Santo Agostinho escreve uma carta contestando o livro mais famoso do filósofo da Igreja, Confissões. É a sua resposta à Igreja?
Sou fascinado por Agostinho. Confissões é um livro maravilhoso, mas a interpretação da Igreja é pavorosa. Ela instrumentaliza o livro. Oficialmente, se um homem e uma mulher vivem juntos sem a bênção papal, vivem em pecado, mas o fato é que Agostinho viveu com sua mulher por 12 anos - e bem -, amando-a e tendo com ela um filho que, por ironia foi chamado de Adeodato, ou seja, 'dado por Deus'. Eu vivo num país protestante e os luteranos tendem a concordar comigo. Tudo bem, Agostinho deu sua versão da história, mas quem fala pelas mulheres ou por sua mulher abandonada? Foi isso que me motivou a escrever Vita Brevis. Acho que a compaixão é o sentimento mais forte que um cristão pode experimentar.
Seu livro Ei! Tem Alguém aí? já foi comparado a O Pequeno Príncipe. Era seu objetivo emular o estilo de Saint-Exupéry ao contar a história de um ser do espaço que cai na Terra?
Fico lisonjeado com a comparação, porque gosto muito de Exupéry, mas nossas histórias só se cruzam no momento da queda do ser extraterrestre. Fiquei pensando no que teria acontecido se um meteoro não tivesse caído na Terra e matado os dinossauros. Hoje teríamos certamente dinossauros mais espertos, inteligentes. Acho que meu livro (sobre a conversa de Joe com o alienígena Mika, enquanto espera os pais chegarem do hospital com um novo bebê) deve ser lido como um conto de fadas sobre a curiosidade infantil. Ao contrário dos adultos, elas não tomam a existência como certa. Elas querem experimentar, conhecer novos mundos.
Simultaneamente ao livro A Garota das Laranjas, sua editora está relançando
O Livro das Religiões. Você tem alguma crença pessoal?
Na Índia ou no Irã, diria que sou cristão. Não necessito outra ética que não esteja na Bíblia. Jesus Cristo é muito importante para mim, mas se você me pergunta se eu acredito que ele seja o filho de Deus ou na sua ressurreição, direi que não. Como filósofo, tenho a obrigação de ser honesto. Digo, então, que acredito na vida.
Mas a vida é um processo dinâmico e um de seus personagens diz que uma pessoa disposta ao autoconhecimento deve, antes, ficar parada. Você poderia explicar o que quer dizer com isso?
A frase é de um livro que fala de um pai filósofo e seu filho, que sonha viajar. O pai o adverte que, se deixar a Noruega, ele pode se perder, reforçando a necessidade de termos raízes. A exemplo do menino Hans, acho que tenho raízes, mas também botas, o que me leva a conhecer outros países e outras histórias. Isso não significa que abandono minha identidade norueguesa ao buscar novos horizontes.
Como a literatura pode ajudar pessoas jovens a descobrir a alteridade quando a tecnologia aliena cada vez mais o indivíduo?
Sem dúvida, numa sociedade urbana como a nossa, os jovens parecem autistas. Antigamente, pais e filhos reuniam-se em torno da mesa de jantar, contando histórias uns para os outros. Porém, a velocidade da vida moderna impede esse encontro. O livro é, então, o veículo ideal para preservar a história individual e coletiva. Assim espero.

Um filósofo que se dedica ao ensino da vida para os jovens

Entre os muitos temas filosóficos do novo livro de Jostein Gaarder, A Garota das Laranjas (Companhia das Letras, 136 págs., R$ 27, tradução de Luiz Antônio de Araújo), o principal é a dificuldade que tem o narrador (ausente) de transmitir sua experiência ao filho adolescente. Trancado em seu quarto, Georg, de 15 anos, abre uma carta-testamento deixada pelo pai, morto de câncer 11 anos antes. Nela, o médico Jan Olav tenta descrever um encontro amoroso inesquecível. Há mais de 30 anos ele conheceu uma garota numa viagem de bonde, carregando uma gigantesca sacola de laranjas.
Esse encontro aparentemente banal vai mudar a vida de Jan Olav e seu filho Georg, que, coincidência ou não, acaba de fazer um trabalho escolar sobre o telescópio espacial Hubble ao ler a carta do pai, perguntando justamente como andavam as investigações fotográficas do mesmo. O médico, morto na Páscoa de 1990, talvez já estivesse doente quando a nave Discovery, que lançou o Hubble em órbita, partiu de Cabo Canaveral, em 25 de abril daquele ano. Georg cisma com a coincidência. Justamente um telescópio que tirou as fotografias “mais nítidas” do universo atrai pai e filho para uma aventura espacial e existencial às cegas.
O tema da viagem espacial como autoconhecimento já foi abordado no cinema por Kubrick, em 2001, Uma Odisséia no Espaço, mas Gaarder avança no terreno analógico. Como o Hubble, que quase conseguiu enxergar o Big-bang, a aventura amorosa do pai vai servir para que Georg não apenas descubra sua origem como o próprio mistério da vida. O médico quer legar ao filho um mundo “mágico”, onde nada do que existe é natural, mas sobrenatural – principalmente o encontro com a “garota das laranjas”.
Gaarder é perito em trocar em miúdos grandes questões filosóficas. A do adolescente atual, quase autista em sua recusa do outro, é um tema que preocupa o filósofo-escritor há algum tempo. O norueguês já contou, por exemplo, a história de um garoto, filho de pai alcoólatra, que empreende uma jornada mítica em busca da mãe desaparecida. Também explorou a necessidade que têm os adolescentes de se refugiar em fantasias extraterrestres (como em Ei! Tem Alguém aí?) para escapar ao mundo hostil do adulto. Desta vez, ele não precisou recorrer a nenhum alienígena. Bastou a figura hamletiana do pai morto.
O enigma do médico que deixa uma mensagem para ser lida pelo filho após sua morte comporta uma interpretação psicanalítica (e até religiosa), mas Gaarder prefere ficar no terreno filosófico. A questão do acaso surge tanto para o pequeno Georg como para os grandes homens que colocaram o Hubble em órbita. Não se trata de saber apenas de onde viemos. É preciso, principalmente, saber para onde vamos.

Fonte: Jornal Estado de S.Paulo, 17/08/2005

GUIAS DE AUTO-ESTUDO / UNIFESP VIRTUAL

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Diga SIM para a vida!

O referendo das armas (apresentação em Power Point)

fonte: http://www.referendosim.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?tpl=home

17 agosto, 2005

COMPRO, LOGO EXISTO

Livro "Eu S/A" descreve um mundo "privatizado" pelas grandes corporações

Hack Nike está em apuros. Assinou um contrato com a empresa em que trabalha, a Nike, para assassinar alguns adolescentes que compraram o último lançamento da companhia, os tênis Mercury.A estratégia do departamento de marketing da empresa é gerar burburinho em torno do produto e, assim, aumentar suas vendas. Mas nem tudo sai como o esperado, e uma agente, Jennifer Governo, passa a investigar o caso.Hack Nike chama Hack Nike porque num "futuro próximo" todo mundo tem como sobrenome o nome da companhia em que trabalha. É um mundo dividido entre os países aliados dos EUA e os não-aliados (como a França), liderado pelas grandes corporações, em que o governo pouco ou quase nada atua; um mundo em que os cidadãos têm de pagar para serem ajudados pela polícia.Este é o ambiente de "Eu S/A", segundo livro do australiano Max Barry. Ele já foi professor de marketing e utiliza seus conhecimentos para desencadear a história, contada a partir do ponto de vista de vários personagens.O livro tornou-se best-seller na Europa, gerou um game on-line ("NationStates") criado também por Barry, movimenta as conversas no site do escritor (www.maxbarry.com) e teve seus direitos comprados por Steven Soderbergh. Por e-mail, Max Barry conversou com a Folha.

Folha - Já teve problema por ter utilizado nomes de empresas?
Max Barry - Nunca. Talvez porque seja claramente uma história ficcional. Não estou, por exemplo, alegando que a Nike tenha como estratégia de marketing atirar em grupos de adolescentes. Ou talvez seja porque eu utilize nomes de empresas grandes, e iria pegar mal para essas corporações processar um escritor satírico. Não sei o motivo, o que sei é que continuo utilizando nomes de empresas em meus livros, e elas continuam não me processando.
Folha - Você escreveu o livro em 2000. De lá para cá, o modo de atuação das corporações mudou?
Barry - Escrevi "Eu S/A" entre 2000 e 2001. A grande mudança, pelo menos nos EUA, é que, após o 11 de Setembro, o governo adquiriu poderes maiores. No livro há quase uma guerra entre as corporações e o governo, mas o que vemos no mundo hoje é outra coisa: grandes empresas, como a Halliburton, estreitam relações com o governo até um ponto em que não distinguimos onde um termina e o outro começa.
Folha - O livro é ambientado num "futuro próximo". É realmente um "futuro próximo" ou seria um "quase presente"?
Barry - É mais um "presente alternativo". Queria escrever uma história que fosse ambientada num mundo diferente do nosso -plausível, mas diferente- e não queria perder tempo com os avanços tecnológicos de um livro ambientado no futuro. Então peguei a situação atual e mudei algumas coisas estruturais. Mas os editores preferem o "futuro próximo" porque é um jeito mais fácil de explicar do que "ambientado no presente, mas com algumas diferenças sociais importantes".
Folha - As grandes empresas são muito criticadas hoje por vários setores: ou pelos ambientalistas, ou por pagarem salários muito baixos, ou pelas táticas agressivas de marketing. Você vê nessas corporações um poder de influência maior do que o dos próprios políticos?
Barry - Há uma grande diferença entre os malefícios causados por corporações e os por políticos. Quando temos corrupção em setores do governo eleitos pelo povo, é porque alguém deliberadamente decidiu agir de forma antiética -abusando do poder que lhe foi concedido. Mas com as empresas, nós basicamente estamos dizendo a elas: "Façam o que for necessário para ganhar o máximo de dinheiro que conseguirem". A ganância corporativa nunca deveria nos surpreender, porque é inerente a esse sistema. O problema com as corporações é que elas são formatadas como instituições puramente capitalistas, mas depois elas passam a se alimentar do lobby político. É uma situação muito ruim quando você tem grandes empresas, cujo objetivo único é aumentar seus lucros, dizendo aos políticos os tipos de lei que as beneficiarão.
Folha - Você estudou e deu aulas de marketing em faculdades. Essas táticas descritas no livro foram aprendidas na escola?
Barry - Interessei-me por marketing na faculdade, mas utilizei as técnicas aprendidas principalmente em "Syrup". "Eu S/A" é mais o que os marqueteiros fariam se eles não tivessem de se preocupar com leis.
Folha - Muitas vezes você é comparado a Chuck Palahniuk e Naomi Klein, pelos assuntos abordados. Eles são uma referência para você?
Barry - Adoro os dois, e foi uma surpresa quando começaram a me comparar a Chuck Palahniuk. Gosto de seus livros, mas nunca vi tantas similaridades entre a gente. Ele é como um ícone desse tipo de ficção dark, bruta. Minhas histórias são menos sombrias.
Folha - Seu livro descreve uma sociedade assustadora, mas com bastante comédia. A sátira deixa o mundo menos sombrio?
Barry - Já ouvi opiniões diversas: alguns dizem que a sátira ajuda as pessoas a se preocuparem mais com o mundo; outros afirmam que uma piada pode fazer com que alguém não dê a devida importância a um problema. O que cada escritor busca é mostrar um pequeno pedaço do mundo, ou uma nova forma de olhar para ele.
Folha - Em "Eu S/A" vemos um mundo privatizado, em que a polícia só atua quando o cidadão a paga, em que pessoas têm sobrenomes de empresas... Você acredita que o capitalismo dos EUA caminha para esse tipo de situação? Você já foi chamado de comunista?
Barry - Às vezes, mas apenas por pessoas que têm problemas em entender que há outras camadas em política além das extremas-direitas e esquerdas... Acho que o mundo se tornará mais capitalista e que algumas das situações que parecem irreais no livro -como ter de pagar por uma ambulância ou levar o filho para estudar numa escola criada por uma empresa- não demorarão muito para tornarem-se realidade. As corporações acumularam um nível de poder e riqueza tão grandes que é impossível acabar com isso.
Folha - No livro, os personagens têm histórias separadas que se cruzam. Foi difícil essa edição?
Barry - Num primeiro rascunho, tinha todos esses personagens e situações que não se encaixavam. então reescrevi e reescrevi até que as histórias se intercalassem de maneira que me autorizasse a me descrever como escritor.

Eu S/A
Autor: Max Barry
Editora: Record Quanto: R$ 39,90 (352 págs.)

Fonte: Jornal Folha de S.Paulo, 16/08/2005

O que fazer? Nada

Por Elio Gaspari

Constituinte, revisão, Conselho da República, reforma política. Tudo parolagem. O que o governo precisa é fazer nada. Basta que governe.
Não se deve fazer nada porque tudo o que precisa funcionar está funcionando. Há três Comissões Parlamentares de Inquérito fazendo seu serviço, quase sempre ao vivo e a cores. A Polícia Federal e o Ministério Público cumprem suas tarefas com admirável serenidade. A imprensa e o Parlamento funcionam sem qualquer inibição. As pessoas que preferem se manifestar na rua pintam suas caras, gritam e voltam para casa. A crise é produto da normalidade democrática e os instrumentos da normalidade democrática revelam-se suficientes para abrigá-la. Uns poucos remendos convenientes não justificam uma reforma.
A idéia de que a cada rolo e a cada governo deve-se reformar o Estado e reinventar Pindorama é uma mistificação destinada a deixar as coisas como estão. Coisa assim: é preciso mudar as leis porque elas são falhas e, como são falhas, enquanto não forem mudadas, não serão cumpridas. De outra maneira: as leis não são cumpridas porque são falhas e são desrespeitadas porque não foram mudadas. Esses argumentos nada têm a ver com o aperfeiçoamento das leis. São disfarces da preservação do privilégio e da impunidade.
Qualquer transação de caixa dois, dessas que azeitaram a campanha de Lula e Duda Paz e Amor, envolve pelo menos três delinqüências que custam, por baixo, quatro anos de cadeia. É nessa moldura que o Ministério Público está investigando a roubalheira companheira. Não será a reforma das leis que levará Duda Mendonça a dispensar seus caraminguás caribenhos. Pelo contrário: cacarejou-os tanto com Maluf como com Lula. Ele e seus similares só vão parar de fazer campanhas com caixa dois quando tiverem medo de virar Toninho da Barcelona. Antonio Claramunt (seu verdadeiro nome) deixou o mercado de câmbio sem que fosse necessária uma reforma bancária. Bastaram a polícia, um promotor e o juiz que lhe deu 25 anos de cadeia, mandando-o para a penitenciária de Avaré. Se empresários, parlamentares, governantes e candidatos começarem a temer a Pousada Avaré, o caixa dois acaba.
Caixas pretas e mensalões são a raiz do contubérnio dos governantes com a plutocracia. Há ministros que negam a empresários o cumprimento das leis e empresários que redigem pacotes de projetos pecaminosos para burocratas deslumbrados. Quando a Telemar torna-se sócia do filho do presidente da República, um biólogo reciclado em micreiro, vê-se o grau de naturalidade com que se misturam concessionários de favores públicos e concessões de serviços privados.
Chega a ser risível que, a pretexto de uma reforma política, se queira empurrar o voto de lista em cima da patuléia. Trata-se de um sistema no qual deputados ganham suas cadeiras seguindo uma ordem de precedência organizada pelos partidos políticos. Isso significa que a lista do PT seria organizada por Lula e seus mosqueteiros: José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino. No PTB, a tarefa seria de Roberto Jefferson. No PL, decidiria Valdemar Costa Neto.
Faz tempo que o Brasil carece de um presidente que chegue ao Planalto às oito da manhã e fique lá até as seis, cuidando do cotidiano nacional. Não será fácil, mas Lula pode tentar.

Fonte: Jornal Folha de S.Paulo, 17/08/2005

Pedido de Impedimento

À
Câmara dos Deputados
Praça dos Três Poderes
70100-000 Brasília DF

PEDIDO DE IMPEDIMENTO

(Protocolado na Seção de Atendimento a População/SECOM - Câmara dos Deputados, em 11.08.2005, ás 9.33 h, sob número 8EBB56784)

Baseado nas provas já acumuladas até o momento pela CPI dos Correios, solicito, como cidadão brasileiro, à Câmara de Deputados, abertura de processo de IMPEDIMENTO contra o sr. Presidente da República Federativa do Brasil, LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, por IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA de sua gestão – artigo 10º da Lei 8.429 de 1992.

Nestes termos, peticiona,

Júlio César Zanluca
Contador CRC SC 13.363 T/PR
Av. Paraná, 1505 - cj. 2Curitiba PR

NOTA:
Conheça o processo de impeachment
A Constituição Federal, em seu artigo 51, diz que compete privativamente à Câmara dos Deputados autorizar, com o apoio de 2/3 de seus integrantes, a instauração de processo contra o presidente, o vice-presidente da República e ministros de Estado.
O impeachment propriamente dito é de responsabilidade do Senado Federal, a quem cabe processar e julgar o Presidente da República nos casos de crime de responsabilidade. Nessa circunstância, o Senado, comandado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, pode condenar o presidente da República à perda do cargo, com inabilitação por oito anos para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais. Para isso, é necessário o apoio de 2/3 dos senadores.
O Regimento Interno da Câmara, em seu artigo 218, permite a qualquer cidadão denunciar à Casa o presidente da República, o vice-presidente ou um ministro por crime de responsabilidade. A denúncia deve ser acompanhada de documentos que a comprovem ou da declaração de impossibilidade de apresentá-los, com indicação do local onde podem ser encontrados.
Ao receber a denúncia, o presidente da Câmara deverá lê-la na sessão seguinte do Plenário e despachá-la a uma comissão especial eleita, da qual participem, observada a respectiva proporção, representantes de todos os partidos. A comissão especial se reunirá dentro de 48 horas e, depois de eleger seu presidente e relator, emitirá seu parecer no prazo de cinco sessões do Plenário. Decorridas 48 horas da publicação do parecer da comissão especial, ele deverá ser incluído na pauta de votações do Plenário da sessão seguinte. O parecer será submetido à votação nominal.
É admitida a instauração do processo contra o denunciado se forem obtidos 2/3 dos votos dos integrantes da Casa. A decisão precisa ser comunicada ao presidente do Senado Federal no prazo de duas sessões.Fonte:

Fonte: Agência Câmara, site: http://www.portaltributario.com.br/noticias/impeachment.htm

Tributos no Brasil

Confira a lista de tributos (impostos, contribuições, taxas, contribuições de melhoria) que pagamos no Brasil: clique aqui para acessar

“Lula não caiu, mas terminou”, diz Fábio Konder Comparato

Clique aqui para acessar

Os guetos da segunda geração

Apesar de ter firmado redes sociais, comunidade brasileira enfrenta muitas dificuldades nos EUA. Clique aqui para acessar

Aquecimento global é uma questão política

Por JEFFERSON SIMÕES

A emissão de gases-estufa na atmosfera provoca um aquecimento global artificial que elevará a temperatura média da Terra em até 5 graus centígrados nos próximos cem anos. O resultado será um reordenamento da vida e das atividades produtivas no planeta, uma nova ordem que não será vivida pelas gerações atuais, na opinião do glaciólogo Jefferson Simões, professor do Departamento de Geografia e pesquisador do Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas (Nupac) da Ufrgs. “As calotas polares estão derretendo e isso vai modificar o ambiente. Vai sair muito caro para a humanidade, mais caro ainda para os pobres. Mas nada de pânico porque não é nada para amanhã. Claro que é para se preocupar. Se nós continuarmos com esse modelo econômico, não tenho dúvidas de que as conseqüências serão as piores possíveis, inclusive para a economia”, afirma Simões, que é Ph.D. pela Universidade de Cambridge (Inglaterra) e coordenador científico do Programa Antártico Brasileiro (ProAntar). Clique aqui para acessar

16 agosto, 2005

7 soluções para a escola pública

Especial Folha Trainee

Situação Mundial da Infância 2005 - Brasil

Clique aqui para acessar

Situação Mundial da Infância 2005

Clique aqui para acessar

Coleção de Textos - Proinfo

Estes textos são resultados de uma iniciativa do ProInfo MEC e contém excelente coletânea de material sobre informática educativa Como pode ser notado pelos seus sumários, os textos incluem conteúdos básicos de informática que podem ser de grande valia para usuários iniciantes das novas tecnologias.

Para fazer download, clique aqui.

A crise vista do campus

Não só o Planalto e a Esplanada vêem a crise com a apreensão. Também a universidade tem grande interesse no seu desfecho, assim como toda a sociedade brasileira. Os pontos de vista, como sempre (e ainda bem), são distintos. Para entender melhor o momento político, o Jornal da Unicamp ouviu cinco intelectuais do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, todos eles autores de importantes obras sobre a realidade brasileira: o historiador Edgar de Decca, o filósofo João Quartim de Moraes, o sociólogo Marcelo Ridenti,o filósofo Oswaldo Giacóia Júnior e o sociólogo Ricardo Antunes.

Prognósticos da esquerda discordante

Em mais de uma ocasião o Jornal da Unicamp convidou intelectuais da esquerda acadêmica a analisar o momento político e as possibilidades de sucesso de um governo que se pretendia, se não revolucionário, ao menos reformador da agenda nacional. Acostumados à antevisão de cenários, muitas de seus prognósticos se confirmaram. A seleção a seguir foi feita a partir de entrevistas concedidas pelo economista Wilson Cano e pelos sociólogos Francisco de Oliveira, Ricardo Antunes e Octavio Ianni. Foi a este jornal a última entrevista concedida pelo professor Ianni, falecido em 3 de abril de 2004

Einstein – Cidadão e cientista

Biografia breve
A importância da obra de Einstein
Einstein no nosso quotidiano
Vida cívica de 1900 a 1939
A era nuclear
Face ao sionismo
Porquê o socialismo?
O manifesto de Russell-Einstein
Alguma bibliografia online

fonte: http://www.resistir.info/rui/einstein.html

A arte de tomar decisões certas

Traduzido diretamente do latim, livro apresenta o conceito de prudência segundo Tomás de Aquino – um pensamento que pode ajudar o homem moderno a refletir sobre seus mais urgentes problemas existenciais

Existe uma receita, a norma dum caminho certo, estreito, de cada uma pessoa viver – e essa pauta cada um tem – mas a gente mesmo, no comum, não sabe encontrar; como é que sozinho, por si, alguém ia poder encontrar e saber? (Reflexão do jagunço Riobaldo em Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa)
Pensando agir com base na razão, o homem ocidental moderno acostumou-se a tomar decisões fundamentado, muitas vezes, em suas próprias paixões. Decide-se por inveja, por ambição, por medo e até por respeito ao “politicamente correto”, mas nem sempre pela ratio (razão, em latim). Nada mais prejudicial à conduta humana do que esse equívoco, poderia dizer o filósofo medieval Tomás de Aquino (1224-1274). Para ele, existe uma virtude capaz de fazer com que o ser humano encontre, em cada decisão que toma, aquela “receita”, aquele “caminho certo, estreito”, de que fala Guimarães Rosa através de Riobaldo. Essa virtude é a prudência – ou melhor, a recta ratio agibilium (reta razão aplicada ao agir), segundo a definição de Aquino.Para explicar esse conceito ao leitor brasileiro, o medievalista Jean Lauand, professor da Faculdade de Educação da USP, lançou recentemente A prudência – A virtude da decisão certa, de Tomás de Aquino, traduzido diretamente do original em latim. Publicado pela Editora Martins Fontes, o livro reúne artigos sobre a prudência – uma das quatro virtudes cardeais, segundo o pensamento medieval – extraídos da Suma teológica, a célebre obra de Tomás de Aquino.Mais do que uma contribuição para a história das idéias, o livro pode ajudar o homem moderno a refletir sobre sua própria conduta e a elucidar alguns de seus mais urgentes problemas existenciais – entre eles, a incerteza sobre o agir certo ou errado –, como diz Lauand na introdução. “É dessa perspectiva que tomamos as idéias fundamentais de Tomás, no que têm de potencial de diálogo antropológico com o homem de hoje.”
AçãoA prudência em Tomás de Aquino nada tem a ver com o moderno significado do termo, que hoje se refere à cautela – às vezes motivada pelo oportunismo ou pelo egoísmo – no momento de tomar uma decisão (ou não tomar), explica Lauand. Ao contrário, ela diz respeito à arte de decidir corretamente, não em virtude de qualquer tipo de sentimento, mas com base na realidade mesma. “Prudência é ver a realidade e, com base nela, tomar a decisão certa”, afirma o professor, que tem outros textos sobre Tomás de Aquino disponíveis na página eletrônica da Editora Mandruvá (www.hottopos.com).Ver a realidade é apenas uma parte da prudência, continua Lauand. A outra parte é transformar a realidade vista em ação. “De nada adianta saber o que é bom se não há a decisão de realizar esse bem”, nota o professor. Ele destaca que o homem moderno tanto desaprendeu a “ver a realidade” como tende a esquivar-se de tomar decisões, atentando assim frontalmente contra a prudência. “A grande tentação da imprudência (sempre no sentido clássico) é a de delegar a outras instâncias o peso da decisão que, para ser boa, depende só da visão da realidade”, acrescenta Lauand. “Há diversas formas dessa abdicação: do abuso de reuniões desnecessárias à delegação das decisões a terapeutas, comissões, analistas e gurus, passando por toda sorte de consultas esotéricas.”Para Lauand, a obra de Tomás de Aquino é o reconhecimento de que a direção da vida é competência do indivíduo e que não há “receitas” de bem agir, pois a prudência versa sobre ações contingentes, situadas no “aqui e agora”. “É que a prudência é virtude da inteligência, mas da inteligência do concreto: a prudência não é a inteligência que versa sobre teoremas ou princípios abstratos e genéricos. Ela olha para o ‘tabuleiro de xadrez’ da situação presente, sobre a qual se dão as nossas decisões concretas, e sabe discernir o ‘lance certo’, moralmente bom. E o critério para esse discernimento do bem é a realidade.”Deixar de ser prudente, no sentido dado por Tomás de Aquino, pode ser desastroso para o homem. Segundo o professor, isso equivale à despersonalização do indivíduo, à falta de confiança em si mesmo. Pode transformá-lo como que num “menor de idade”, incapaz de decidir, que transfere a direção de sua vida para outros – seja o Estado ou a Igreja. “Em qualquer caso, é sempre muito perigoso.”
“O bem é objeto da vontade”
A seguir, trechos extraídos de A prudência, de Tomás de Aquino.
Como dissemos ao discutir as virtudes em geral, virtude é o que torna bom aquele que a possui e seus atos. Contudo, o bem pode ser considerado em dois sentidos: materialmente, aquilo que é bom; e formalmente, sob o aspecto de bondade. O bem, sob o aspecto de bondade, é o objeto da vontade. Portanto, se há hábitos que tornam reta a consideração da razão sem levar em conta a retidão da vontade, eles terão menos caráter de virtude, pois encaminham ao bem materialmente, isto é, àquilo que é bom, mas não por ter caráter formal de bem. Mais caráter de virtude têm aqueles hábitos que se voltam para o bem não só materialmente, mas também formalmente, isto é, para o bem considerado como tal: levando em conta a retidão da vontade. Ora, é próprio da prudência a aplicação da reta razão ao agir, o que não ocorre sem a retidão da vontade. Daí que a prudência possua não só o caráter de virtude que têm as outras virtudes intelectuais, mas também o caráter de virtude das virtudes morais, entre as quais igualmente é enumerada.
O fim das virtudes morais é o bem humano. O bem da alma humana, porém, é ser segundo a razão, como fica evidente no IV cap. De Div. Nom. de (Pseudo) Dionísio. Daí que seja necessário que os fins das virtudes morais preexistam na razão.Do mesmo modo que na razão especulativa há certos conhecimentos evidentes, naturalmente conhecidos, que competem à “inteligência”, e outros conhecimentos derivados a que chegamos por meio deles, como conclusões, que competem à “ciência”; assim também na razão prática preexistem como que certos princípios naturalmente conhecidos e que são os fins das virtudes morais, pois o fim está para as ações assim como o princípio está para a razão especulativa. E há também no âmbito da razão prática o correspondente às conclusões (na razão especulativa), que se dirigem ao fim, por meio das quais atingimos o fim. E este é o papel da prudência: aplicar os princípios universais às conclusões particulares do âmbito do agir. E, assim, não compete à prudência indicar o fim das virtudes morais, mas somente lidar com os meios para atingir o fim.
Prudência, como vimos acima, é a reta razão aplicada ao agir. Daí que seu ato principal será o ato que for mais importante para o agir fundado na razão.Ora, a prudência comporta três atos: o primeiro é aconselhar, que diz respeito à descoberta, pois aconselhar é inquirir; o segundo ato é julgar, avaliar o que se descobriu, e este é um ato da razão especulativa. Mas a razão prática, que se volta para o agir, vai mais além no terceiro ato, que é comandar: aplicar ao agir o que foi aconselhado e julgado. E como este é o ato mais próximo ao fim da razão prática é também o principal ato dela e, portanto, da prudência. Um sinal claro disso é que a perfeição de uma arte consiste em julgar e não em comandar: considera-se melhor artífice aquele que, de propósito, erra em sua arte do que aquele que erra sem querer, pois nesse caso há um erro de juízo. Mas na prudência ocorre o contrário; como diz Eth., VI, 5, é mais imprudente quem erra sabendo (pois atenta contra o ato principal da prudência) do que quem erra sem querer.

Fonte: Jornal da USP, 15 a 21 de agosto de 2005, http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2005/jusp735/pag12.htm

8 jeitos de mudar o mundo

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Entrevista: Patch Adams, Doutor e palhaço

O médico americano cuja vida virou filme diz que o humor e a esperança são bons auxiliares no tratamento dos doentes.
"O paciente é tratado como cliente de loja. Se o médico gastar tempo com amor, não tem retorno financeiro. Só ganha dinheiro se dá remédio ou faz alguma intervenção cirúrgica"
Quem vê o médico americano Patch Adams com nariz de palhaço e cabelos coloridos pode achar que ele acabou de sair de um circo. É quase isso. Há três décadas, Adams transforma os quartos dos hospitais que visita em um verdadeiro picadeiro. Sua especialidade é animar pacientes com brincadeiras para reduzir o sofrimento deles. A vida de Adams foi retratada em 1998 no filme O Amor É Contagioso, com o ator Robin Williams no papel principal, e serviu de inspiração para o surgimento de vários grupos doutores da alegria, espalhados pelo mundo. O médico é autor de três livros, dois deles publicados no Brasil. Neles, Adams defende sentimentos como humor, compaixão, alegria e esperança no tratamento de pacientes e diz que o medo que os médicos têm de cometer erros destrói a relação médico-paciente. Aos 58 anos, Adams dirige o Instituto Gesundheit (saúde, em alemão), nos Estados Unidos, que atende pacientes de graça. Tam bém dá palestras e cursos em vários países. De Arlington, cidade onde mora com a mulher e dois filhos, Adams concedeu a seguinte entrevista a VEJA.

Veja – O filme O Amor É Contagioso mostra o senhor como um médico que se preocupa muito com os sentimentos dos pacientes. O senhor sempre foi assim?
Adams – Nem sempre. No fim da adolescência, não me preocupava com ninguém. Devido à morte de meu pai, ao suicídio de um tio muito querido e ao fim de um namoro, comecei a ficar obcecado pela idéia de morrer. Cheguei a tomar vinte aspirinas de uma só vez, tentei pular de um precipício. Até que um dia pedi a minha mãe que me internasse em um sanatório mental. Lá, conheci gente que estava tão pior que eu que fez minha dor parecer trivial. Eram pessoas que sempre viveram com raiva e desespero. Essa experiência me fez perceber quanto as emoções podem influenciar em nossa vida, seja de forma positiva ou negativa. A partir de então, comecei a dar mais importância aos sentimentos das pessoas.
Veja – Estudos mostram que emoções como o perdão, a alegria e a esperança podem acelerar o processo de cura. Mesmo assim, muitos médicos não se preocupam com isso. Por que eles são tão resistentes a essa idéia?Adams – Os médicos tendem a esconder os sentimentos porque acham que ficarão vulneráveis se demonstrarem qualquer tipo de emoção. Antigamente existia o médico da família, que ia até a casa de seus pacientes, ouvia com atenção os problemas de cada um e conhecia cada integrante da família pelo nome. Hoje, o paciente é tratado como cliente de loja, que paga para obter o serviço. O amor passou a não ter espaço na área médica. Se o médico gasta tempo com amor, não tem retorno financeiro algum. Só ganha dinheiro se dá um remédio ao paciente ou faz alguma intervenção cirúrgica.
Veja – Em seu livro A Terapia do Amor, o senhor diz que os médicos, em sua maioria, se sentem como se fossem deuses.
Adams – Na verdade, é a sociedade que exige do médico que ele aja como se fosse um Deus. Espera-se que ele faça milagres e não erre nunca. Isso é impossível. Como todo ser humano, o médico pode errar. Essa idéia de que o médico tem de ser perfeito também prejudica a relação com o paciente. Faz com que este coloque toda a responsabilidade do que ocorre com ele nas mãos do médico. E isso é errado. O paciente é mais responsável pela própria recuperação do que o médico que o está tratando.
Veja – Como assim?
Adams – A maioria dos problemas de saúde ocorre por causa do estilo de vida inadequado do paciente, pelo sedentarismo e pela má alimentação. O médico geralmente só é procurado quando a doença já está em estágio avançado. O grande problema é acreditar que a medicina e a ciência têm a resposta para todos os nossos problemas. Não é verdade. Muitas vezes, a solução está em casa, nos pequenos hábitos do dia-a-dia.
Veja – Que conselhos o senhor daria para os médicos se tornarem melhores profissionais?
Adams – Medicina envolve relacionamento entre médico e paciente. Um bom médico é aquele que sabe cultivar essa relação por meio da troca de experiências, amizade, humor, confiança. Se existe desconfiança de um dos lados, essa relação vai por água abaixo. O grande problema da medicina é que os profissionais da saúde se sentem cobrados demais, acumulam várias funções e acham que não são devidamente recompensados por isso. A possibilidade de haver processos contra erros apavora os médicos, e a desconfiança destrói a relação médico-paciente.
Veja – Qual é o papel dos pacientes nessa relação médico-paciente?
Adams – O paciente precisa ter um sentimento amável e verdadeiro em relação a si mesmo. Não há nada pior que um comportamento autodestrutivo no processo de recuperação. É necessário ser um paciente paciente. A medicina não é como um sistema fast food, em que todas as necessidades são rapidamente resolvidas. Por isso, é importante escolher bem o médico, porque é preciso ter confiança nele. O médico demora muito para atender? Peça a ele que agende menos consultas. O paciente tem esse direito.
Veja – Qual é a importância da fé na cura de um paciente?
Adams – Em muitos casos, é mais importante que qualquer pílula ou intervenção cirúrgica. O paciente com fé tem uma capacidade maior de entrega, o que lhe traz conforto em todas as situações. Isso também vale para os familiares de doentes terminais. Quando comecei a trabalhar como plantonista em hospitais, descobri que as famílias que seguiam alguma religião se sentiam mais calmas quando rezavam do que quando tomavam algum tranqüilizante. A partir daí, procurei sempre descobrir se os familiares do paciente seguiam alguma religião. Em muitos casos, até rezava com eles.
Veja – Em sua opinião, é necessário seguir alguma religião para ter fé?
Adams – De forma alguma. Eu, por exemplo, tenho fé, mas não sigo nenhuma religião. A religião é uma instituição, e a espiritualidade é amor e ação. Eu acredito mais na espiritualidade.
Veja – O senhor acredita em Deus?
Adams – Não. Eu acredito na serventia do amor para todas as pessoas.
Veja – Em seus livros, o senhor diz que as pessoas não deveriam ter medo da morte. Pelo contrário, poderiam fazer dela uma diversão. Mas lidar com a morte quase nunca é fácil. Como é possível lidar com a morte com menos sofrimento?
Adams – Na vida, temos de fazer escolhas. Se não há como mudar o rumo dos acontecimentos, podemos optar por vivenciar cada momento de uma forma alegre, agradecendo por tudo de bom que tivemos durante a vida, por nossa família e nossos amigos. Ou, então, achar que a vida não valeu nada, ver só o lado negativo das coisas, esquecer tudo de bom que nos aconteceu até hoje e morrer de forma miserável. Morrer é uma das poucas coisas que ocorrem com todo mundo, mas quase ninguém suporta pensar nisso. O que estou sugerindo é que a morte não precisa ser exatamente uma experiência horrenda.
Veja – Não é difícil fazer palhaçadas para um paciente que vai morrer no dia seguinte?
Adams – Não, porque é o próprio paciente que opta por isso. Eu sempre pergunto: "O que você quer? Você quer ser miserável ou você gostaria de se divertir e ter momentos de alegria?" Se ele quer se sentir miserável no leito de morte, que seja miserável. Se ele não quer ser miserável, nós podemos brincar e rir com ele. É gratificante poder fazer algo de positivo para os pacientes, mesmo os terminais.
Veja – Nos hospitais, é mais fácil fazer brincadeiras com crianças que com adultos?
Adams – Isso varia muito de um paciente para outro, mas em geral as crianças são mais fáceis de lidar, porque, diferentemente dos adultos, elas não param para pensar e refletir sobre o que fazemos. Apenas vivenciam a experiência.
Veja – As escolas de medicina reconhecem hoje a eficiência de sua forma de tratar os pacientes?
Adams – Eu acho que a maioria não dá importância a isso. Grande parte dos médicos, infelizmente, ainda está mais preocupada em garantir seu salário no fim do mês. Eles não gostam da roupa que usam, não gostam de seus pacientes.
Veja – Suas idéias, que não eram aceitas no passado, são divulgadas hoje na maioria dos livros de auto-ajuda. O senhor considera isso uma vitória?
Adams – A verdade é que não criei nada disso. Tudo o que digo já era falado ao longo dos séculos. Palavras de solidariedade, de conforto, conselhos a quem se ama sempre foram passados de mãe para filho, de avó para neto desde que o mundo é mundo. O fato é que as pessoas só começaram a se interessar mais por isso recentemente.
Veja – O senhor costuma dizer que é mais palhaço do que médico. Por quê?
Adams – Porque, como médico, só posso tratar os pacientes quando eles têm algum problema de saúde. Já como palhaço posso alegrar as pessoas em qualquer lugar e a qualquer hora, independentemente de estarem elas doentes ou não. Além disso, ser palhaço é mais divertido.
Veja – O que o senhor achou do filme sobre sua vida?
Adams – Eu gostei do filme, mas achei que poderia ter tido mais emoção, ter sido menos morno.
Veja – Por quê?
Adams – Bem, porque o diretor não teve muita imaginação...
Veja – E da atuação de Robin Williams, o senhor gostou?
Adams – Sim, ele é uma excelente pessoa e um ótimo ator. Ele fez um trabalho fabuloso, todos os meus amigos acharam que ele conseguiu passar a minha essência de forma correta.
Veja – Há semelhanças entre o senhor e Robin Williams?
Adams – Nós somos parecidos em muitas coisas. Ele é muito generoso, tem compaixão pelas pessoas e é muito divertido. Mas também temos algumas diferenças de personalidade.
Veja – Que diferenças?
Adams – Ele é muito mais tímido que eu.
Veja – O filme mudou sua vida?
Adams – Mudou minha vida para sempre. O que não consegui arrecadar em três décadas para a construção do hospital do Instituto Gesundheit obtive em seis semanas. Mas continuei e continuo sendo a mesma pessoa de antes.
Veja – Então, o filme foi positivo para o senhor.
Adams – Ah, sim, sem dúvida. O filme rodou o mundo e fez com que as pessoas conhecessem meu trabalho. Em vários lugares, mesmo os que eu já havia visitado antes, as coisas se tornaram mais fáceis. Consigo falar com as pessoas mais rápido, elas sempre atendem aos meus telefonemas.
Veja – O senhor conhece os Doutores da Alegria do Brasil?
Adams – Sim, encontrei alguns palhaços que fazem um trabalho semelhante ao meu quando estive no Brasil, há alguns anos.
Veja – E o senhor gostou do trabalho deles?
Adams – Sim, muito. São bons colegas de profissão.
Veja – Seu nome verdadeiro é Hunter. Como surgiu o Patch?
Adams – Hunter é meu nome legal. Nem me lembro mais de como surgiu o Patch, foi há quarenta anos, já faz parte de mim. Como surgiu não tem mais importância.
Veja – Há algum sonho que o senhor ainda não realizou e gostaria que se concretizasse?
Adams – A paz mundial. Não haver mais crianças de rua. Ver as pessoas se ajudando mutualmente, todas as famílias se auto-sustentando. Tudo isso são sonhos. Pode parecer utópico, mas acredito que seja possível. É por isso que faço o que faço. Eu trabalho o tempo todo para concretizar meus sonhos. É por essa razão que estou concedendo esta entrevista. Se eu não acreditasse, não faria nada disso.

Fonte: Revista Veja, 25/02/2004

Acorda Brasil!

Por Eduardo Macedo de Oliveira


Atenção artistas da esperança, poetas da transformação, escritores da coragem, cientistas da lucidez, soldados do otimismo, operários da utopia, mestres da sensibilidade, videntes da ousadia, arquitetos da dignidade, salvem-nos da escuridão, da mediocridade e da estagnação, nosso país, nosso povo, precisam de vocês.
Apareçam, sejam os subversivos de um novo tempo. Destruam as paredes da insensatez, da canalhice, da barbárie. Assumam as suas lutas, suas frentes, seus destinos. Cantem a revolta dos silenciados, iluminem os desamparados, libertem os oprimidos.
Assumam seus lugares, enfrentem os monopólios da estupidez presentes nas catedrais dos poderes e de suas excelências. Despertem-nos a energia da renovação, o caminho da superação, a coragem da transformação.
Venham logo! Conquistem seus espaços, antes que seja tarde. Quem sabe faz a hora, quem resiste faz a história.
Resgatem nossa fé, façam-nos crer em possibilidades e alternativas, resistam à alienação, anulem a manipulação, ainda temos tempo.
Soltem-nos as amarras, retirem-nos as mordaças, suas excelências não podem destruir nossos sonhos, nossas vidas, ainda temos tempo.
Acorda Brasil! Antes que seja tarde.

"Democracia serve para todos ou não serve para nada"

Por Herbert de Souza, o Betinho (1935-1997), sociólogo mineiro

11 agosto, 2005

A pedagogia dos caracóis

Por Rubem Alves

Os caracóis são moluscos lerdos. Andam muito, muito devagar. Ninguém tomaria os caracóis como exemplos. Embora suas conchas sejam belas e construídas com precisão matemática, o que chama a atenção de quem os observa é sua pachorra. Caracóis não têm pressa. Falta-lhes dinamismo, virtude essencial àqueles que vivem no mundo moderno. Quem anda devagar fica para trás. Quem iria imaginar que um educador, ao observar um caracol, tivesse uma inspiração pedagógica? Pois foi o que encontrei numa revista italiana, Cem Mondialità. A fotografia que ilustra o referido artigo é a de um menino, rosto apoiado na carteira, a observar tranqüilamente um caracol que se arrasta sobre a tampa da carteira. E o título do artigo é A pedagogia do caracol.
Caracol tem pedagogia a ensinar? O autor conta o sucedido com uma menininha que, ao voltar para a casa, queixou-se: "Mamãe, os professores dizem 'É preciso andar rápido, nada de vagareza, para frente, para frente. Mamãe, onde é a frente?". E aí ele passa a falar sobre a virtude pedagógica da
vagareza. Pode ser que "chegar na frente" não seja tão importante assim! Quem sabe o "estar indo" seja mais educativo que chegar! No "estar indo" aprende-se um jeito de ser. Nietzsche se ria dos turistas que subiam as montanhas como animais, estúpidos e suados. Não haviam aprendido que há vistas maravilhosas no caminho que sobe... Riobaldo acrescentaria: "O real não está nem na saída e nem na chegada; ele se dispõe para a gente é no meio da travessia". O adágio da Sonata ao Luar tocado "presto" seria um horror. As notas seriam as mesmas. Mas a beleza não se encontra no presto; ela está é na vagareza do "adágio". Ele aconselha os professores a estarem com seus alunos no ritmo "adágio". Sem pressa.
A lentidão é virtude a ser aprendida num mundo em que a vida corre ao ritmo das máquinas. Gastar tempo conversando com os alunos. Saber sobre as suas vidas, os seus sonhos. Que importa que o programa fique atrasado? A vida é vagarosa. Os processos vitais são vagarosos. Quando a vida se apressa é porque algo não vai bem.
Adrenalina no sangue, o coração disparado em fibrilação, diarréia. Observar as nuvens. Conversar sobre as suas formas. A observação das nuvens faz os pensamentos ficarem tranqüilos. As notícias dos jornais são escritas depressa. Por isso têm curta duração. Mas a poesia se escreve devagar. Por isso ela não envelhece. Inventaram essa monstruosidade chamada leitura dinâmica. Ela pressupõe que um texto é feito com poucas idéias centrais, tudo o mais sendo encheção de lingüiça. A técnica da leitura dinâmica é ir direto às idéias centrais, desprezando o resto como lixo.
Já imaginaram sexo dinâmico, que dispensa os "entretantos" e vai direto ao "finalmente"? Essa é uma maneira canina de fazer amor. Mas não é isso a que os jovens são obrigados quando, ao se preparar para o vestibular, se põem a ler "resumos" de obras literárias? Um resumo é o resultado escrito de uma leitura dinâmica. É preciso ler tendo a lesma como modelo... Devagar. Por causa do prazer. O prazer anda devagar. Você leu esse artigo dinamicamente ou lesmicamente?

fonte: Revista Educação, edição 100 [http://revistaeducacao.uol.com.br/revista.asp]

Siga Brasil

A primeira versão do sistema Siga Brasil com livre acesso através da internet já está disponível. A partir de agora todo e qualquer cidadão poderá acessar o sistema e fazer uso das consultas ao orçamento elaboradas pela CONORF - Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle do Senado Federal. Poderá ainda pesquisar livremente o orçamento através das ferramentas de pesquisa do sistema. O Aperfeiçoamento das ferramentas de pesquisa, a melhoria das consultas liberadas e a inclusão de novos dados serão prioridade da equipe de Informações da Subsecretaria de Sistemas Legislativos e Orçamentários - SSDSL do Prodasen.

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Medos e privações

Obstáculos à segurança humana. A edição Observatório da Cidadania, relatório 2004 já está disponível para download e para venda.Confira

Cartilha do orçamento

Conheça Cadernos de Discussão - Superávit Primário. A publicação, disponível para download, é uma iniciativa do Fórum Brasil do Orçamento.

Conversas com Betinho

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A democracia de "mentirinha"

Por João Pedro Stédile

10 agosto, 2005

Site mostra incidência de raios em tempo real

Reformulado, o site do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) passa a oferecer um mapa de incidência de raios em tempo real, com dados da Rede Integrada Nacional de Detecção de Descargas Atmosféricas (Rindat). Nele, o internauta pode selecionar o Estado e saber, com um intervalo de 15 minutos, onde os raios estão caindo. Fundado em 1995, o Elat foi criou o primeiro centro de pesquisas de raios induzidos na região tropical do planeta. O endereço do site é www.cea.inpe.br/webdge/elat.

fonte: Jornal Estado de S.Paulo, 10/08/2005

Os novos super-heróis da burguesia

Por Emir Sader

Seminário Futuro das instituições políticas terá transmissão pela Internet

Confira programação do ciclo de palestras: Clique aqui para acessar
Fonte: USP Online

Lições para um futuro melhor

As idéias de Sérgio Vieira de Mello, morto em 2003 em atentado no Iraque, serão analisadas nesta semana em seminário na USP, que incluirá o lançamento de um portal com textos inéditos do embaixador brasileiro

O embaixador Sérgio Vieira de Mello: “É imperativo que os funcionários internacionais tenham capacidade de aprendizagem rápida para modificar seus julgamentos prévios quando em contato com a realidade local”

09 agosto, 2005

O trabalho é virtual, mas o mundo é real

Livro do professor e sociólogo Ricardo Antunes reúne ensaios sobre as transformações do mercado de trabalho

Obesidade Infantil II

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O mito do paraíso perdido

Por César Benjamin

Escola de pensamento aberto

Projeto da UnB leva filosofia aos colégios do DF. Iniciativa, que já dura sete anos, desperta nas crianças e jovens a capacidade de questionar a realidade e pensar de forma autônoma
Uma revolução no ensino médio, fundamental e superior. Isso é o que o projeto Filosofia na Escola, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), promove desde 1997, quando foi idealizado. Trata-se de um espaço aberto para que crianças e jovens pensem sobre qualquer tema, sem imposições.
“Normalmente, a relação que a gente tem com o pensamento é de muita distância. Esse é um momento importante para os estudantes discutirem filosoficamente sobre questões que os intrigam, que lhes são próximas”, conta a professora da Faculdade de Educação e psicóloga Juliana Merçon. Para Dante Bessa, coordenador do projeto, os encontros são a oportunidade para professores e crianças pensarem a vida sem regras estabelecidas. “Os encontros trazem a espontaneidade e valorizam as experiências individuais” afirma. Atualmente, seis escolas públicas do Distrito Federal fazem parte do projeto: a Escola Classe 6 e o Lar Fabiano de Cristo em Planaltina, o Ginásio da Asa Norte (GAN), o Centro de Cultura e Desenvolvimento do Paranoá (Cedep), o Centro de Ensino 2 de Sobradinho e a Escola Normal da Ceilândia. O projeto envolve também 40 alunos da graduação da UnB, vários deles bolsistas de extensão, e 50 professores das escolas de ensino fundamental, médio e alfabetização de jovens e adultos. No total, são beneficiados cerca de 2,5 mil estudantes.
No projeto Filosofia na Escola, tenta-se lidar de outra forma com a hierarquia em sala de aula. “Buscamos ampliar a participação de todos. Não somos nós que levamos a Filosofia para eles, as questões surgem nos próprios encontros”, explica Juliana. “Há uma horizontalização das relações e um forte pressuposto de coletividade”, complementa Bessa. Nas reuniões, os professores e mediadores (termo utilizado para os alunos da UnB) podem levar um poema, uma música, uma brincadeira, enfim, qualquer instrumento que possa ser usado para criar o espaço de discussão de questões filosóficas. Não existe um manual ou modelo a ser seguido, tudo vai depender do que as crianças ou jovens quiserem debater. “A idéia é filosofar com eles”, complementa a professora. Os encontros acontecem semanalmente, durante o período letivo nas escolas filiadas ao projeto.

CAPACIDADE DE EXPRESSÃO

Como resultado dos encontros, as crianças e os adolescentes aguçam a curiosidade e a investigação, desenvolvem a capacidade de se expressar e aumentam a auto-estima. Nas escolas onde o projeto foi implementado, há casos de professores mais tradicionais, que chegam até a reclamar da quantidade de questionamentos gerada a partir do ensino de um tema. Na opinião de Juliana, é um processo muito mais penoso para os professores que não estão acostumados a ouvir os alunos. “Ao contrário do que se costuma pensar, os mestres também têm muito a aprender com os estudantes.”
Professores e mediadores participam em dupla dos encontros com as crianças ou jovens. Com isso, a prática se torna menos solitária e há mais probabilidade de criar debates enriquecedores. Isso sem falar no maior contato dos estudantes da UnB com a realidade das escolas públicas. Os mediadores acompanham durante um ano a mesma turma. Uma vez por mês, eles também se reúnem com os demais integrantes do projeto para trocar experiências e discutir o que está se passando nas salas de aula.
Uma das dificuldades enfrentadas pelo projeto é o pouco tempo disponível dos professores já sobrecarregados pela rotina escolar. O projeto requer momentos para planejamentos nas escolas e encontros na UnB. Os participantes também são incentivados a integrar grupos de estudos. Por conta dessas demandas, em 2003, uma das escolas saiu antes do final do semestre.
Para integrar o projeto, é preciso participar do curso de formação gratuito com duração de 40 horas. As datas para inscrição são veiculadas na pagina do projeto: www.unb.br/fe/tef/filoesco, no link eventos.

Como nasceu a idéia de filosofar nas escolas?

O ensino da filosofia para as crianças, do modo que conhecemos hoje, existe há mais de 30 anos no mundo. Foi Mathew Lipman, um professor de lógica da Universidade de Columbia, em Nova York, quem criou manuais para ensinar o debate de questões filosóficas entre professores e os alunos menores. Na década de 80, essa idéia chegou ao Brasil por meio do Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças, em São Paulo. Lá as apostilas de Mathew foram traduzidas e muitos professores foram capacitados para introduzir o ensino nas escolas privadas.
Na Universidade de Brasília, a idéia ganhou um formato único, graças ao empenho dos professores Walter Kohan, que veio de Buenos Aires e Ana Mirian Wuensch, do Departamento de Filosofia da UnB. Em 1997, eles organizaram na Semana Universitária oficinas, palestras e projeções de vídeo sobre filosofia para crianças. No mesmo ano, o projeto foi aprovado pelo Decanato de Extensão. A experiência piloto aconteceu em quatro escolas públicas com vinte professores, porém mais de 30 escolas candidataram-se ao projeto e 140 professores ficaram interessados. Dois anos mais tarde, a universidade organizou o Congresso Internacional de Filosofia com a participação de 40 países. Nessa ocasião, os visitantes puderam conferir o projeto em funcionamento nas escolas do DF.

CONTATOS:
Professores Dante Bessa mailto:ddbessa@terra.com.br, Juliana Merçon mailto:juliana@unb.br e Álvaro Ribeiro mailto:alvaro@unb.brpelo telefone do Projeto Filosofia na Escola (61) 3307 2127.

fonte: http://www.unb.br/acs/bcopauta/educacao2.htm