"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

09 agosto, 2005

Escola de pensamento aberto

Projeto da UnB leva filosofia aos colégios do DF. Iniciativa, que já dura sete anos, desperta nas crianças e jovens a capacidade de questionar a realidade e pensar de forma autônoma
Uma revolução no ensino médio, fundamental e superior. Isso é o que o projeto Filosofia na Escola, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), promove desde 1997, quando foi idealizado. Trata-se de um espaço aberto para que crianças e jovens pensem sobre qualquer tema, sem imposições.
“Normalmente, a relação que a gente tem com o pensamento é de muita distância. Esse é um momento importante para os estudantes discutirem filosoficamente sobre questões que os intrigam, que lhes são próximas”, conta a professora da Faculdade de Educação e psicóloga Juliana Merçon. Para Dante Bessa, coordenador do projeto, os encontros são a oportunidade para professores e crianças pensarem a vida sem regras estabelecidas. “Os encontros trazem a espontaneidade e valorizam as experiências individuais” afirma. Atualmente, seis escolas públicas do Distrito Federal fazem parte do projeto: a Escola Classe 6 e o Lar Fabiano de Cristo em Planaltina, o Ginásio da Asa Norte (GAN), o Centro de Cultura e Desenvolvimento do Paranoá (Cedep), o Centro de Ensino 2 de Sobradinho e a Escola Normal da Ceilândia. O projeto envolve também 40 alunos da graduação da UnB, vários deles bolsistas de extensão, e 50 professores das escolas de ensino fundamental, médio e alfabetização de jovens e adultos. No total, são beneficiados cerca de 2,5 mil estudantes.
No projeto Filosofia na Escola, tenta-se lidar de outra forma com a hierarquia em sala de aula. “Buscamos ampliar a participação de todos. Não somos nós que levamos a Filosofia para eles, as questões surgem nos próprios encontros”, explica Juliana. “Há uma horizontalização das relações e um forte pressuposto de coletividade”, complementa Bessa. Nas reuniões, os professores e mediadores (termo utilizado para os alunos da UnB) podem levar um poema, uma música, uma brincadeira, enfim, qualquer instrumento que possa ser usado para criar o espaço de discussão de questões filosóficas. Não existe um manual ou modelo a ser seguido, tudo vai depender do que as crianças ou jovens quiserem debater. “A idéia é filosofar com eles”, complementa a professora. Os encontros acontecem semanalmente, durante o período letivo nas escolas filiadas ao projeto.

CAPACIDADE DE EXPRESSÃO

Como resultado dos encontros, as crianças e os adolescentes aguçam a curiosidade e a investigação, desenvolvem a capacidade de se expressar e aumentam a auto-estima. Nas escolas onde o projeto foi implementado, há casos de professores mais tradicionais, que chegam até a reclamar da quantidade de questionamentos gerada a partir do ensino de um tema. Na opinião de Juliana, é um processo muito mais penoso para os professores que não estão acostumados a ouvir os alunos. “Ao contrário do que se costuma pensar, os mestres também têm muito a aprender com os estudantes.”
Professores e mediadores participam em dupla dos encontros com as crianças ou jovens. Com isso, a prática se torna menos solitária e há mais probabilidade de criar debates enriquecedores. Isso sem falar no maior contato dos estudantes da UnB com a realidade das escolas públicas. Os mediadores acompanham durante um ano a mesma turma. Uma vez por mês, eles também se reúnem com os demais integrantes do projeto para trocar experiências e discutir o que está se passando nas salas de aula.
Uma das dificuldades enfrentadas pelo projeto é o pouco tempo disponível dos professores já sobrecarregados pela rotina escolar. O projeto requer momentos para planejamentos nas escolas e encontros na UnB. Os participantes também são incentivados a integrar grupos de estudos. Por conta dessas demandas, em 2003, uma das escolas saiu antes do final do semestre.
Para integrar o projeto, é preciso participar do curso de formação gratuito com duração de 40 horas. As datas para inscrição são veiculadas na pagina do projeto: www.unb.br/fe/tef/filoesco, no link eventos.

Como nasceu a idéia de filosofar nas escolas?

O ensino da filosofia para as crianças, do modo que conhecemos hoje, existe há mais de 30 anos no mundo. Foi Mathew Lipman, um professor de lógica da Universidade de Columbia, em Nova York, quem criou manuais para ensinar o debate de questões filosóficas entre professores e os alunos menores. Na década de 80, essa idéia chegou ao Brasil por meio do Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças, em São Paulo. Lá as apostilas de Mathew foram traduzidas e muitos professores foram capacitados para introduzir o ensino nas escolas privadas.
Na Universidade de Brasília, a idéia ganhou um formato único, graças ao empenho dos professores Walter Kohan, que veio de Buenos Aires e Ana Mirian Wuensch, do Departamento de Filosofia da UnB. Em 1997, eles organizaram na Semana Universitária oficinas, palestras e projeções de vídeo sobre filosofia para crianças. No mesmo ano, o projeto foi aprovado pelo Decanato de Extensão. A experiência piloto aconteceu em quatro escolas públicas com vinte professores, porém mais de 30 escolas candidataram-se ao projeto e 140 professores ficaram interessados. Dois anos mais tarde, a universidade organizou o Congresso Internacional de Filosofia com a participação de 40 países. Nessa ocasião, os visitantes puderam conferir o projeto em funcionamento nas escolas do DF.

CONTATOS:
Professores Dante Bessa mailto:ddbessa@terra.com.br, Juliana Merçon mailto:juliana@unb.br e Álvaro Ribeiro mailto:alvaro@unb.brpelo telefone do Projeto Filosofia na Escola (61) 3307 2127.

fonte: http://www.unb.br/acs/bcopauta/educacao2.htm