"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

28 agosto, 2008

Aos Nossos Filhos

Por Eduardo Macedo de Oliveira

Ao tornarmos pais, nascemos novamente. Ao compartilharmos uma nova vida, modificamo-nos irreversivelmente e vivenciamos um novo pulsar afetivo, uma nova e indescritível experiência e um insustentável receio, pois nos tempos atuais conforme nos alerta o Prof. Plauto F. Azevedo (UFRGS): “o desconcerto de nosso tempo reflete uma crise civilizacional sem precedentes, quer em sua extensão, quer em sua profundidade, evidenciando-se nas diversas dimensões do inter-relacionamento humano. O que lhe é comum é a perda de rumos e de valores, a falta de perspectivas, que a tudo permeia. Nela se distinguem a anemia da política, a economia afastada do humano, a democracia limitada a formas rituais, a moral indiferente aos valores da humanidade e da solidariedade e a ciência orientada por um paradigma incapaz de compreender a multiplicidade e a interligação de todas as dimensões da vida. A própria vida acha-se ameaçada pela contaminação sistemática da biosfera.”.
Neste contexto, competitivo e angustiante, o meio social em que vivemos torna-se imprevisível e hostil, principalmente aos nossos filhos. Cada vez mais, num país sem projetos, governos assumem timidamente as suas responsabilidades, em especial na educação, saúde, habitação e segurança, justamente naquelas áreas que poderiam proporcionar aos nossos filhos, um desenvolvimento e crescimento pleno.
O que podemos esperar dos nossos aparelhos sociais? Muito pouco! Nossos temores se hipertrofiam a cada dia. Sustentar um ou mais filhos tornou-se uma tarefa paradoxal: tiramos de nós cada vez mais para oferecermos cada vez menos, isto é, uma mínima condição de vida aos nossos filhos. O que se pode esperar de um sistema político crescentemente corrupto, de um sistema econômico perverso e de um sistema social caracterizado pela divisão de classes e com interesses antagônicos? Sem falar no meio ambiente cada vez mais hostilizado.
Alguns podem dizer, em tom conformista: mas isto está presente no mundo há muito tempo. Sem dúvida, mas ultimamente o que chama a atenção são a velocidade e a intensidade da brutalidade estabelecida naquilo que denominamos de civilização.
Educar neste contexto tornou-se uma tarefa extremamente complexa, árdua e imprevisível. Temos que reinventar nosso tempo e espaço, renovar nossas energias em tempo de escassez e manter um equilíbrio cada vez mais desafiador.
Peçamos desculpas aos nossos filhos, pela nossa ausência, ansiedade e insegurança, pois o mundo lamentavelmente está assim. Perdoem-nos pela falta de espaço comunitário, pela restrição à coletividade, das quais ocupamos e experimentamos em nossas infâncias e não podemos mais lhes oferecer.
Entretanto, a citação de Gramsci torna-se oportuna e necessária: “pessimismo no intelecto, otimismo na ação”. A esperança está na luta, na resistência, então lutemos! Por um país, por um Estado, um mundo, um bairro, uma escola, uma saúde, enfim, por uma existência e relações mais justas, dignas e humanas. Lutemos por um Estado genuinamente público, democrático, sustentável e acima de tudo soberano.
Alcançar a perfeição? Impossível, mas não podemos mais continuar no caminho nefasto da subserviência, da submissão e do medo. É o que esperam nossos filhos!

05 agosto, 2008

Jovens Distantes

Por Eduardo Macedo de Oliveira

O tempo passa e voa, e nossos filhos logo se tornam adolescentes e terão que optar por uma formação para inserção no mundo do trabalho. Sem dúvida, uma longa caminhada e uma decisão inquietante, pois a perenidade de uma profissão tornou-se tão volátil como a garantia de emprego para os nossos jovens.
Não bastasse esta situação, nossos jovens têm que enfrentar um sistema educacional que historicamente não consegue oferecer roteiros e caminhos adequados e compatíveis com os novos tempos. Refém de um conservadorismo inexplicável e covarde, nossas escolas sucumbem à “mão invisível” da inércia, que teimosa, penaliza e martiriza nossos jovens crucificando as suas juventudes. Afinal, a pedagogia bancária, como ensinou-nos Paulo Freire tornou-se uma oposição daquilo que deveria estabelecer relação entre o que aprenderam na sala de aula e o mundo real. Durante os seus anos dourados, passam cinco, seis horas nos bancos escolares escutando, memorizando, decorando conteúdos fossilizados, sem nexo entre si, fragmentados, injustificáveis, estéreis, que dificultam a articulação dos saberes, o entendimento da complexidade que se tornou nosso mundo.
Em entrevista publicada na Revista Veja (edição 2072, 06 de agosto de 2008) o físico alemão Andréas Schleicher, diretor do setor educacional da OCDE (organização que reúne as trinta nações mais desenvolvidas do mundo) afirma: “[...] Enquanto o Brasil foca no irrelevante, os países que oferecem bom ensino já entenderam que uma sociedade moderna precisa contar com pessoas de mente mais flexível. Elas devem ser capazes de raciocinar sobre questões das quais jamais ouviram falar – no exato instante em que se apresentam [...]”.
Saliento que as redes pública e particular carecem de coragem, ousadia e vanguarda para romperem este retrato perverso no ensino médio brasileiro. Lastreados, em especial, pelas universidades públicas, este nível de ensino espelha-se naquilo que é configurado e formatado pela academia através dos seus “processos seletivos” seriados ou não. Salvo exceções como a Unicamp e a Fuvest, a maior parte das instituições de ensino superior reflete em suas avaliações aquilo que se passa em seus campi, ou seja, a resistência às novas dimensões do conhecimentos e às redes interdisciplinares.
Confesso-lhes que esta realidade incomoda-me de forma contundente. Afinal, nossos filhos terão somente uma juventude e como tal, é frustrante notar que um sistema educacional comete um equívoco imperdoável ao colocar e enquadrar nossos jovens nesta perversa realidade. Jovens cheios de vida, expectativas, energias, vivacidade, entre outras virtudes sucumbem a uma ordem desconexa e estúpida. Que pena! Quanto tempo perdido, desperdiçado.
Um dado alarmante: na rede pública estadual em nossa cidade, o total de alunos matriculados no ensino médio vem decrescendo ano pós ano. Sim, a evasão, antes exceção, tornou-se uma regra.
E tome processos seletivos, “paies” e muito mais. Nossos jovens, sem alternativas caminham cegamente rumo ao futuro, que sem dúvida revelará aos mesmos uma melancolia insustentável no presente. Alguns tentam, mas encontram saídas da mesma forma trágicas, como por exemplo, as drogas.
Quem sabe um dia, ou numa primavera, nossos jovens possam ser mais felizes!