"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

17 agosto, 2009

Entre a pandemia e os enfrentamentos

Por Eduardo Macedo de Oliveira

A primeira vez ninguém esquece. Também, da mesma forma, a primeira pandemia. De fato, presenciar e conviver com a situação provocada pela possibilidade de disseminação e contágio de um vírus potencialmente letal (influenza A) a nível mundial, provocou uma reação em cadeia e inúmeras transformações em nossas vidas. Suas consequências extrapolaram setores, seja de âmbito público e/ou privado. Contudo, desde o alerta iniciado no México, comportamo-nos como o tsunami virótico não chegasse entre nós, mesmo reconhecendo e tendo ciência da intensa mobilidade de pessoas pelo mundo.
A partir de então, através dos entes federados, União, Estados e Municípios, iniciaram-se uma série de ações visando o enfrentamento do problema, cada qual com as suas especificidades e atribuições. Os territórios e as suas respectivas autoridades que anteciparam as medidas preventivas e formularam planos de contingência em tempo hábil souberam administrar e lidar de forma mais adequada com o problema. Ao contrário, outros, por diversas razões, comportaram-se como estivéssemos em outro planeta, adotando medidas drásticas e tardias e compatíveis com a progressiva instalação de pânico na população.
Saúde pública rima com educação, e diante do quadro atual, uma lamentável constatação: o esquecimento (ou omissão) quanto à adoção de hábitos simples de assepsia. De repente, lembramo-nos que o ato simples de lavar as mãos, por exemplo, era um ato indispensável de higiene e que bastava adotá-lo para poupar-nos de tamiflus e outras inúmeras doenças contagiosas. Sobraram-nos enfrentamentos, faltou-nos simplesmente educação e esclarecimentos.
Mais uma lição para todos nós, incluindo as autoridades públicas. O estado atual revela-nos que estamos distantes de uma consciência cidadã. Nossa educação insuficiente e frágil expõe uma sociedade, a par de suas “modernidades”, incompleta, consumista, onde a hegemonia dos direitos pulveriza a precariedade de nossos deveres.
Da contenção do vírus, passamos para a fase de redução de danos. Cancelamentos de eventos e atividades institucionais tornaram-se uma verdadeira pandemia. Comitês foram criados. Entretanto, nossos meios de comunicação e as mídias eletrônicas e impressa não souberam tratar e disseminar de forma contundente e eficaz campanhas de esclarecimento.
Outras pandemias virão. O paciente “zero”, uma criança de cinco anos, Edgar Hernández, foi o primeiro paciente no México a testar positivo para o vírus da doença. Residia em La Gloria, um município de três mil habitantes no estado de Veracruz, em uma região de fazendas de criação de suínos (uma coincidência!?). Vírus necessitam de ambientes favoráveis para as suas mutações. Na verdade, a intensa mobilidade das pessoas e produtos pelo mundo favorece a disseminação imediata e inevitável de vantagens e desvantagens, de ativos e passivos.Resta-nos neste momento, uma reflexão das nossas prioridades e opções. A verdadeira crise não é econômica, mas a fraqueza política disseminada pelo mundo. As decisões que garantam um desenvolvimento social, igualitário e justo da humanidade diluem-se diante do poder econômico e suas corporações. As granjas suínas no México eram de empresas expulsas dos Estados Unidos. Sem o devido rigor dos americanos, instalaram-se impunemente no país vizinho. As consequências confundem-se com as hipóteses.