"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

30 setembro, 2008

Saudades e eleições

Por Eduardo Macedo de Oliveira

Mais uma primavera e como sempre revelando a sua face esplendorosa, as suas cores espetaculares e uma mensagem divina para lembrar-nos sempre que fomos colocados neste mundo para termos vidas extraordinárias. Carpe diem!
E a humanidade, na busca incessante pelo poder sobre a natureza transforma tudo e todos, não medindo as suas conseqüências. Ações e conquistas mediadas pela inteligência, mas paradoxalmente desprovidas de racionalidade, juízo e prudência.

E para todos nós, o tempo, implacável, revela-nos esperanças, temores e lembranças de tempos passados. Sim, todos têm saudades. Nada gratuito, alienante nem saudosista. Diria uma saudade lúcida, pois buscamos as lembranças das nossas relações, aprendizagens e experiências baseadas em valores e princípios mais consistentes.
Que mundo é este, instável, marcado pela incerteza e volatilidade, onde o ter supera o ser; onde as pessoas se fecham e se tornam inimigas da vida comunitária; onde a imagem se torna poderosa como uma miragem insustentável, rasteira e fugaz; onde o vencer tornou-se uma obsessão a qualquer custo; onde uma tecla ‘enter’ fascina mais que um encontro, uma conversa e um olhar?

Sinto saudades de minha liberdade confiscada pelo medo e pela insegurança; de um tempo mais cadenciado, mais vivido; pela ingenuidade e alegria dos fundos de quintal, de nossas pracinhas e brincadeiras; daquelas datas tão esperadas; do ensaio da banda municipal ao adormecer, das vitrines e das pessoas nas avenidas. Sim, tenho saudades do mundo local que nos ensinava mais que este mundo globalizado e virtual; onde uma palavra, um acordo valia muito mais; onde as amizades eram mais densas; onde os vizinhos eram o nosso segundo lar.

A vida comunitária, além das escolas, estava presente em todos os espaços. Garantia uma harmonia indecifrável, mas essencial para nossa formação. Tenho saudades das escolas mais acolhedoras, mais humanas e menos curriculares e burocráticas.

Sim, temos que entender melhor a nossa história para compreender o que está acontecendo no presente. Como dependemos de uma organização social para garantia de uma vida justa e digna para todos, temos pela frente uma decisão importante para escolher aquele que, por suas decisões e ações, definirá e garantirá nossa simbiose social. Nossa cidade, salvo melhor juízo, terá que continuar a crescer e se desenvolver. O problema refere-se de que maneira, a partir de quais condições e estratégias.

E assim caminhamos, potencializando esperanças e receios, mas sempre esperançosos de um mundo melhor para todos. Não precisamos de salvadores, promessas e simulacros. Precisamos de líderes que possam contagiar e agregar diferentes setores sociais na busca do bem comum. Que saiba lidar com a diferença e que tenha como lastro e norte a lucidez de que a soma das partes, aquilo que denominam de democracia, esteja presente nas decisões que terão que ser tomadas diante de desafios e demandas.

Boa sorte, Uberlândia! Vamos juntos, pois a complexidade é imperdoável, qualquer equívoco a partir de agora pagaremos um preço muito alto. E um alerta: temos que garantir que a racionalidade mova a política, substituindo, assim, a hipocrisia, a irresponsabilidade e os interesses escusos.

Publicado no Jornal Correio, p.A2, 30/09/08.