"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

23 outubro, 2009

Juramento Supérfluo

Por Eduardo Macedo de Oliveira


Jornal Correio, edição do 21/11/08: ““ Mantenham o corpo parado, não se mexam, ponham os bonés no chão, parem de se mexer a todo instante”, disse o tenente Carlos Alberto de Castro, delegado do Serviço Militar em Uberlândia. Os 1,4 mil rapazes de 18 anos fazem o juramento à bandeira, cantam o hino nacional e saem do pátio do 36º Batalhão de Infantaria Motorizado com o Certificado de Dispensa de Incorporação. [...] Neste ano, a Junta do Serviço Militar de Uberlândia dispensou 1,9 mil candidatos antes mesmo da seleção. Entre os selecionados, 260 ocuparam as vagas no 36º Batalhão e 3.240 receberam o Certificado de Dispensa de Incorporação. [...] O tenente Castro manda relaxar, mexer os pés e os braços, respirar fundo enquanto esperam o comandante do batalhão chegar para a solenidade. Alguns cruzam os braços, é possível perceber até alguns bocejos no meio das filas que se desfazem. O comandante chega e a ordem do tenente volta a fazer as filas se arrumar. “Não quero fila parecendo minhoca”, disse o tenente. Firmes, os rapazes juram dar a vida pela pátria, cantam o hino nacional, recebem os certificados e se vão.[...]”.

Centenas de jovens uberlandenses participaram no dia 16 de outubro, no 36º Batalhão de Infantaria Motorizada (Exército), do juramento à Bandeira Nacional, evento de participação compulsória para a entrega e obtenção do Certificado de Dispensa da Incorporação relativa ao alistamento militar. A "solenidade" aconteceu a partir das 7h30 daquele dia e se estendeu até às 9h. Meu filho, participante da referida "solenidade", teve que se ausentar das suas aulas no ensino médio. Relatou-me que durante a mesma, ao lado dos demais jovens, teve que suportar o sol intenso naquela manhã e permancer em pé e imóvel durante uma hora e meia. Relatou-me a ocorrência de desmaios por parte de alguns participantes, e comentários explícitos de oficiais diante, por exemplo, de jovens portadores de piercing.

Uma pergunta se faz necessária: qual a razão de se retirar jovens das salas de aula, em um momento crítico de suas vidas (Enem & Paies.) e obriga-los a participar de uma "solenidade" desumana, retrograda e inútil, para que os mesmos possam simplesmente receber um documento oficial do Estado brasileiro. Será que "jurando à bandeira" eles serão mais fiéis e engajados à nossa pátria? Será que esta "solenidade", nas condições dadas estabelecidas contribui para uma imagem positiva das Forças Armadas? Creio que não, e sinto-me aliviado pelo meu filho ter sido dispensado, pois a exemplo de uma simples "solenidade" fica claro e evidente que a referida instituição ainda permanece refém de uma ordem estabelecida que se não faz sentido em seus próprios quartéis, quiçá entre a maioria dos nossos jovens.

O sucateamento das Forças Armadas não ocorre somente em termos materiais, mas também em relação à contemporaneidade. Das 22 prioridades aprovadas na 1ª Conferência Nacional da Juventude, realizada em abril de 2008, em Brasília, está o fim do serviço militar obrigatório [http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=33010 ]. Nada mais justo e necessário. E finalizando, concluo que a ordem dada aos jovens “mantenham o corpo parado” é coerente, pois submissão e subserviência foram valores utilizados ao longo da história, em especial, a partir do golpe de 64 e do período sombrio da ditadura em nosso país.

1 Comments:

Blogger Tania Maria de Souza Toledo said...

Concordo plenamente com o teor do texto "Juramento Supérfluo".
Hé dez anos, vivemos situação semelhante em minha família. Meu filho, recem aprovado no vestibular da UFU, viu-se obrigado a trancar a matrícula no curso de Engenharia e atrasar em um ano a conclusão do mesmo, para servir ao exército.
Na época, o que mais nos causou espanto e irritação, é que muitos jovens desejosos de ingressarem na corporação foram dispensados. Enquanto que, outros sem nenhuma afinidade com a carreira militar, obrigatoriamente tiveram que cursá-la. Conclusão: perda de tempo para os jovens e desperdício de dinheiro público.

Tania Maria de Souza Toledo

12:06 PM

 

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