"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

24 janeiro, 2006

Australian Open - 2006















http://www.mariaworld.net/ausopen06215.jpg

Mundo Invisível















clique em: http://www.novae.inf.br/pensadores/msf.htm

Recreio - Charlize Theron

19 janeiro, 2006

Brasil, país da impunidade

O relatório anual da Human Rights Watch, publicado hoje, avalia a situação dos direitos humanos em 60 países. O Brasil é criticado. O tom é de que os esforços feitos foram ineficazes para coibir as violações e punir os responsáveis. “Impunidade é a regra no Brasil”, afirma o documento.
Na parte do Brasil, as críticas do “Relatório Global 2006″ abarcam a violência policial; a existência de esquadrões da morte; as condições carcerárias; a violência rural e os conflitos agrários; a impunidade; a falta de proteção aos defensores de direitos humanos.
“A violência policial é uma das mais sistêmicas, comuns e duradouras preocupações relativas aos direitos humanos no Brasil. Afeta desproporcionalmente os mais pobres e as populações mais vulneráveis. Casos de abusos policiais acabam muito frequentemente impunes”, afirma o documento, que cita alguns casos de grande repercussão no ano passado, como o assassinato da missionária Dorothy Stang, em fevereiro, e a execução de 29 pessoas na Baixada Fluminense, em março.

fonte: http://blog.nominimo.com.br/#646

Relatório Global 2006

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17 janeiro, 2006

Coração é terra que ninguém vê

Por Cora Coralina

Quis ser um dia, jardineira de um coração.
Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos
e nos espinhos me feri.

Quis ser um dia, jardineira de um coração.
Cavei, plantei. Na terra ingrata nada criei.

Semeador da Parábola...
Lancei a boa sementea gestos largos...
Aves do céu levaram.Espinhos do chão cobriram.
O resto se perdeu na terra dura da ingratidão

Coração é terra que ninguém vê- diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.
Terra de lagedo, de pedregulho,- teu coração.

Bati na porta de um coração. Bati.
Bati. Nada escutei. Casa vazia.
Porta fechada, foi que encontrei...

fonte: http://jbonline.terra.com.br/destaques/coracoralina/cora_5.html

O cântico da terra

Por Cora Coralina

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranqüila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranqüilo dormirás.

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.

fonte: http://www.nossacasa.net/literatura/default.asp?autor=Cora%20Coralina&grupo=1

12 janeiro, 2006

Aonde nenhuma nave jamais esteve

Konstantin Tsiolkovsky, Robert Goddard, Wernher von Braun e outros pioneiros dos foguetes modernos certamente sorririam satisfeitos. Nunca um objeto construído pelo homem voou tão longe e voltou. No próximo dia 15, quando a sonda Stardust pousar no deserto, próximo ao Campo de Testes de Utah da Força Aérea norte-americana, ela terá percorrido quase 5 bilhões de quilômetros desde que deixou a Terra, em 7 de fevereiro de 1999.
Mas ir aonde nenhuma nave construída pelo homem jamais esteve – para parafrasear o famoso bordão da série Jornada nas estrelas – é o menor dos feitos da Stardust. A sonda não apenas está de volta como traz uma bagagem muito valiosa: amostras de um cometa.
São dezenas de milhares de grãos de poeira colhidos do cometa Wild 2. É a primeira vez que uma missão volta com amostras sólidas desde o fim do programa Apolo, em 1972. Também é a primeira amostra vinda do espaço além da Lua.
No dia 2 de janeiro de 2004, a nave da Nasa, a agência espacial norte-americana, chegou a apenas 240 quilômetros do Wild 2, o suficiente para conseguir prender as amostras em seu coletor. As partículas foram grudadas em aerogel, o mais leve de todos os sólido. Trata-se de uma superfície gelatinosa transparente e mil vezes menos densa do que o vidro, criada na década de 1930 e aperfeiçoada pela Nasa. Muito leve, praticamente sem peso, mas altamente resistente.
Apesar da longa jornada e de alguns problemas encontrados durante a missão – como a perda de contato com a nave devido a uma explosão solar –, é a partir de agora que o principal trabalho começará. Logo em seguida ao pouso, o coletor será removido e levado ao Centro Espacial Johnson, em Houston.
Segundo a Nasa, as partículas, com cerca de um terço de milímetro cada uma, serão divididas em partes ainda menores, catalogadas e enviadas a diversos laboratórios espalhados pelo mundo. Apesar do tamanho reduzido, os responsáveis pela missão apontam que as amostras serão estudadas por várias décadas.
O objetivo da distribuição é ampliar o espectro de pesquisa em busca de informações sobre a formação do Sistema Solar, há mais de 4,6 bilhões de anos. “A parte realmente grande da pesquisa está pronta para começar. O trem já está na estação e estamos todos esperando por sua partida”, diz Donald Brownlee, professor da Universidade de Washington e principal investigador do projeto.
A ansiedade de Brownlee não se deve apenas à vontade de ter as amostras do cometa em mãos. Antes, é preciso superar a última e uma das maiores dificuldades da missão: o pouso. Em mais um lance inédito da Stardust, a nave reentrará na atmosfera terrestre a 47,7 mil quilômetros por hora. Nunca um equipamento feito pelo homem chegou a tamanha velocidade.
Não será toda a nave que voltará à Terra, mas somente a cápsula de retorno, que contém as amostras do Wild 2. O primeiro pára-quedas abrirá a 31 mil metros. Aos 3 mil metros, será a vez do pára-quedas principal. O pouso está previsto para as 8h12 do domingo (hora de Brasília).
Além das amostras do cometa, a cápsula trará de volta dois chips, um com 136 mil nomes gravados e o segundo com 1 milhão. São nomes de pessoas de todo o mundo, digitados no site da missão na internet antes do lançamento da Stardust e levados ao encontro com o Wild 2. O chip será levado a um museu e os nomes poderão ser lidos com a ajuda de um microscópio eletrônico.
Mais informações: http://stardust.jpl.nasa.gov

fonte: http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?data[id_materia_boletim]=4910

11 janeiro, 2006

A caricatura da política brasileira















fonte: http://www.unb.br/acs/unbagencia/ag0106-17.htm

As rodovias do oportunismo

Por Eduardo Macedo de Oliveira


Dirigir um automóvel é um sonho de qualquer mortal. Na adolescência esperamos, ansiosamente, chegar aos 18 anos para adquirir a habilitação. Conquistada a carteira de motorista, ficamos mais ansiosos para realizarmos a primeira viagem.
Seja através dos transportes aéreo, ferroviário ou rodoviário, viajar significa uma espécie de libertação, um misto de descoberta e prazer, mesmo quando o caminho já tenha sido utilizado inúmeras vezes.
Em especial, acessar e utilizar as rodovias em nosso país, lamentavelmente, tornou-se (via de regra) uma aventura indesejável, repleta de armadilhas e riscos. Sem sinalização adequada, com mais buraco que asfalto, isentas de fiscalização ostensiva, tornaram-se habitat ocupado pelos meliantes, à caça de ônibus e os seus passageiros.
Se durante o dia é uma aventura, chovendo ou à noite, requer uma dose inacreditável de coragem.
Tudo bem! É melhor tapar os buracos do que deixá-los como até então (leia-se governos FHC e LULA). Contudo, quantas mortes, seqüelas e prejuízos poderiam ter sido evitados, se tivéssemos lideranças políticas sérias e responsáveis.
Exigem-nos prudência, pagamento pontual dos impostos, automóvel em boas condições de tráfego, cursos e mais cursos, e a contrapartida do governo é de conhecimento de todos: nenhuma.
Eis que os alquimistas do poder idealizaram a "operação remendão", em nossas rodovias. Sem licitação, as empreiteiras estão fazendo a festa. Ops! A "operação remendão" usa empreiteiras que o TCU condenou (Jornal Estado de S.Paulo, p.A4, 10/01/06).
Que oportunismo! Não tenham dúvidas: a estratégia visava a manutenção da barbárie em nossas rodovias, o quanto pior, melhor. No momento exato, poderiam convencer-nos que existe um governo em nosso país. O Brasil é um deserto de homens! Ou de rodovias.

10 janeiro, 2006

Ensino Médio distante

Por Eduardo Macedo de Oliveira


Foi publicada no jornal Correio (p.B2, 08/01/06) uma oportuna matéria intitulada "Escolas estaduais da região central têm vagas ociosas" assinada pela jornalista Gleide Côrrea. A educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) encontra-se em um momento crítico e decisivo. De um lado, ocorreu a universalização do acesso ao ensino fundamental (7 a 14 anos), de outro, a educação infantil (0 a 6 anos) absorveu somente uma criança de cada 11 crianças com até 4 anos, segundo pesquisa "Educação da Primeira Infância" realizada em 2005, pela Fundação Getúlio Vargas. Apesar da universalização ocorrida no ensino fundamental, de cada 10 crianças matriculadas no 1º ano, somente metade delas completará o ciclo, ou seja, a 8ª série.
Em relação ao ensino médio, conforme a reportagem, constatou-se em nossa cidade, uma ociosidade de vagas na rede pública estadual. Segundo o "Atlas de Educação de Minas Gerais" elaborado pela Fundação João Pinheiro (MG), em 2003, 29.230 alunos estavam matriculados no ensino médio (81% na rede estadual, 17,5% na rede particular e 1,5 na rede federal). Naquele ano, 3.790 alunos concluíram o ensino médio (65% na rede estadual, 32% na rede particular e 2,5 na rede pública). Em 2002, 8.933 alunos concluíram o ensino fundamental (91,5% na rede pública). Pausa.
Em 2003, estavam matriculados 13.448 alunos na 1ª série do ensino médio (88% na rede pública), ou seja, 4.515 alunos a mais do total de concluintes do ensino fundamental de 2002.
Outra questão. No total de matriculados no ensino médio em 2003 (29.320) observa-se o seguinte: no 1º ano, 13.448; no 2º ano, 8.876 e no 3º ano, 6.906 alunos. Um decréscimo de 34% e 49% no 2º e 3º anos, respectivamente, em relação ao número de alunos matriculados naquele ano na 1ª série.
Hipóteses: evasão e/ou repetência. Comprova-se aqui, o maior problema educacional brasileiro: a permanência e progressão de nossos educandos no ciclo básico. Não basta dizer que a educação é importante, ela é prioritária. Identificar e combater as causas do abandono dos nossos educandos é tarefa inadiável. Em tempo: os indicadores de qualidade do ensino por disciplina na 3ª série do ensino médio (SIMAVE), revelaram que somente 4,3% e 23,3% dos alunos, respectivamente, em matemática e português, alcançaram o nível recomendado nos exames, aplicados em 2003 e 2002, nas escolas da rede pública estadual de nossa cidade.

04 janeiro, 2006

O poder das corporações

Por Eduardo Macedo de Oliveira


Alguns dados do relatório do Grupo ETC, Oligopoly Inc 2005 (www.etcgroup.org), que monitora as atividades das corporações globais, em especial, na agricultura, alimentação e farmacêutica, revelaram o poder das corporações mundiais.
Em 2004, as 200 maiores multinacionais do planeta concentravam 29% da atividade econômica mundial. As crescentes fusões corporativas significaram a dominação dos mercados através dos oligopólios, com as suas patentes e cartéis. A equação é simples: menos empresas, maiores e com maior porcentagem do mercado. Na agricultura, a Monsanto passou a ser a maior empresa global de venda de sementes, em especial, transgênicas, da qual tem o controle de 90%.
Em agrotóxicos, as 10 principais recebem 84% das vendas globais. São: Bayer, Syngenta, Basf, Dow, Monsanto, Dupont, Koor, Sumitomo, Nufarm e Arista.
As 10 maiores farmacêuticas: Pfizer, Glaxo SmithKline, Sanfi-Aventis, Jhonson & Jhonson, Merck, AstraZeneca, Hoffman-La Roche, Novartis, Bristol Meyers Squibb e Wyeth, controlam 59% do mercado mundial.
As 10 maiores empresas biotecnológicas (dedicadas a subprodutos para as áreas farmacêutica e agricultura) são apenas 3% da totalidade, mas controlam 73% das vendas.
80% das 6 mil fábricas que abastecem a Wal-Mart (supermercadista) estão na China. As vendas desta empresa são iguais à soma dos quatro competidores mais próximos: Carrefour, Metro, Ahold e Tesco.
Globalização é um termo muito difundido atualmente. Seu significado é traduzido nos dados acima apresentados, ou seja, a globalização é simplesmente a concentração do comércio mundial nas maõs de poucas corporações mundiais. Todas as barreiras e impedimentos, implementadas pelos estados nacionais são eliminadas em razão do inigualável poder financeiro destas corporações. Na sombra destas, tornam-se obsoletos a soberania, os direitos trabalhistas e ambientais, os fluxos de capitais, por exemplo.
Diante desta conjuntura, em certas áreas da economia, competividade tornou-se tão somente, uma palavra de motivação para os workshops empresariais. Competir com quem? Não tem mais espaços possíveis. A tendência é que em todas as áreas da economia e do mercado, as grandes corporações dominem irrestritamente o sistema mundial. Viva a globalização, ops! A dominação!

03 janeiro, 2006

Feliz 2007!

Por Eduardo Macedo de Oliveira

Prezados(as) leitores(as), desculpem-me, mas a imaginação é um exercício de libertação. Vamos lá!
Faltam poucos minutos para o primeiro dia de 2007 (uma segunda-feira) . Entre amigos, comemora-se o término de mais um ano. Copa do Mundo, eleições, entre outros, marcaram o ano de 2006. O presidente eleito prometeu combate à corrupção, empregos, melhoria na educação e saúde, estabilidade econômica. Está próximo de sua posse. Terá que enfrentar um congresso pulverizado política e ideologicamente, uma dívida pública indomável (e indecente). Sua campanha foi marcada por acusações e o caixa 2, (re)descoberto em 2005, cedeu lugar ao financiamento não-declarado. Mais uma vez, mudaram-se os atores, porém permaneceu o mesmo roteiro.
A nação está triste. A seleção brasileira naufragou nas semifinais. Naquela tarde do dia 05 de julho de 2006, em Munique (Alemanha), a Inglaterra virou o jogo e bateu a nossa seleção por 2x1. Caiu o Brasil e subiu o dólar. Juntou-se frustração e mais uma vez, a instabilidade econômica. Em 2006, o caminho repetiu-se como em nossas estradas. Para 2007, optou-se em privatizá-las, como tudo e qualquer serviço público.
A Amazônia continuou órfã, adotada pela ignorância, estupidez e ambição. O presidente eleito cobrou uma efetiva transição, está preocupado pelo descompasso de suas promessas e a dura realidade que irá encontrar.
Mensalão virou coisa do passado. Contudo, sua essência permaneceu nos corredores de Brasília. Os novos mecenas mantiveram a tradição.
Os partidos políticos (e seus "políticos") permaneceram os mesmos, partidos!
Fraturaram (ou faturaram) o país, com as mesmas cantilenas, cinismos e vícios do passado.
Mas estamos prestes a entrar no ano novo, chega de lamentações! Feliz 2007!
Afinal, que invenção, o ano! Cortaram o tempo em fatias, industrializaram a esperança, fazendo-a funcional, disse uma vez o poeta Drummond. 12 meses para salvar qualquer ser humano. Viva 2008! A imaginação nos liberta!

02 janeiro, 2006

Frase do dia

Por Fernando Pessoa

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares;
É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos"

O Ano

Por Carlos Drummond de Andrade

Quem teve a idéia
De cortar o tempo em fatias,
A que se deu o nome de ANO,
Foi um indivíduo genial,
Industrializou a esperança,
Fazendo-a funcionar
No limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano
Se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
E tudo começa outra vez, com outro número.
E outra vontade de acreditar
Que daqui por diante vai ser diferente.

Um bicho que se inventa

Por Ferreira Gullar

Toda pessoa necessita que as demais pessoas a reconheçam tal como ela acredita que é, tal como se inventa para si mesma. Isto significa que, porque somos uma invenção de nós mesmos, o reconhecimento do outro é indispensável a que esta invenção se torne verdadeira. Por isso, se é certo, como disse Jean-Paul Sartre, que "o inferno são os outros", é certo também que está neles o sentido de nossa existência.Um recém-nascido não é ainda um cidadão, quase diria que, a rigor, ainda não é gente: trata-se de um bichinho que traz consigo, potencialmente, todas as qualidades que o tornarão de fato uma pessoa. Sim, porque uma pessoa, mais que um ser natural, é um ser cultural.Certamente, não pretendo dizer que a pessoa não seja o seu corpo material, esse organismo que pulsa, respira e pensa; tanto é que, sem ele, simplesmente ela não existiria, e é nele que repousam todas as qualidades que permitirão o surgimento da pessoa humana que cada recém-nascido se tornará.Mas não há nenhum fatalismo nisso. Se é verdade que o recém-nascido já possui qualidades e traços próprios que o tornam diferente de todos os outros, não significa que se tornará inevitavelmente o indivíduo X. Não, o que ele se tornará -e é imprevisível- dependerá em boa parte de como assimilará os valores que a educação lhe ofereça. No princípio, o que ele aprende são as normas básicas de sobrevivência e convívio. Só mais tarde conhecerá os valores que absorverá de acordo com suas idiossincrasias, face aos quais reagirá de maneira própria e, assim, irá, passo a passo, se formando e se inventando como ser humano.A sociedade humana foi inventada por nossos antepassados. Quem nasce hoje já a encontra inventada, material e espiritualmente, com seus equipamentos, valores e princípios que a constituem e definem. É dentro desta realidade cultural, complexa e contraditória, que ele vai se inventar como indivíduo único e inconfundível. Porque cada um de nós quer ser assim: único e inconfundível.Viver é, portanto, inventar-se: inventar sua vida, sua função no mundo, sua presença. Obviamente, nem todos têm a mesma capacidade de inventar-se e reinventar o mundo. Alguns levam essa capacidade a ponto de mudar de maneira radical o universo cultural que encontraram ao nele integrar-se, como o fizeram por exemplo Isaac Newton ou Albert Einstein, Sócrates ou Karl Marx, William Shakespeare ou Wolfgang Goethe, Leonardo da Vinci ou Pablo Picasso...Mas a humanidade não é constituída apenas de gênios, que, na verdade, são exceções. Não obstante, todas as pessoas, em maior ou menor grau, se inventam e contribuem para que o mundo humano se mantenha e se renove. Aliás, se os gênios contribuem para a reinvenção do universo cultural -que é o nosso espaço de vida-, a vasta maioria das pessoas é responsável pela preservação do que já foi inventado. Por isso mesmo, a maioria é conservadora e freqüentemente resiste às mudanças e inovações. É que essa maioria não tem noção de que vive num mundo inventado, de que a vida é inventada e de que os valores, que lhe parecem permanentes, também o são. Eles não foram ditados por nenhum ente divino, mas inventados pelos homens conformes suas necessidades e possibilidades. E também, conforme elas, podem ser mudados.O homem é o único animal que se inventa e inventa o mundo em que vive. A colméia, que a abelha fabrica hoje, tem os casulos da mesma forma hexagonal que tinha desde que surgiram no planeta as primeiras abelhas. Já o habitat humano vem mudando desde sempre, da caverna natural ao casebre, que se transformou em aldeia, povoado, cidade até chegar à megalópole de hoje. O homem, para o bem ou para o mal, mudou a face do planeta, utilizou os recursos naturais para produzir seu mundo tecnológico e dinâmico. Mudou a natureza, alterou o seu funcionamento biológico, meteorológico, sísmico. Seu habitat é primordialmente a cidade, esta complexíssima máquina que só funciona graças à tecnologia que inventamos e desenvolvemos incessantemente.Quando digo que o homem se inventa, não sugiro que se trata de mera fantasia sem base na realidade . Newton inventou o cálculo infinitesimal, linguagem das ciências exatas, que não existia. A ciência inventou as leis da física, que sempre atuaram na natureza, mas que eram como se não existissem no entendimento humano. As invenções da arte são de outro tipo: Shakespeare inventou a complexidade da alma humana que, se não fosse ele, estaria como se não existisse. Ou seja, a partir da natureza ou de sua imaginação, o homem se inventa e constrói um universo cultural que é seu verdadeiro espaço de existência.O homem criou também, além do mundo material, além da ciência e da técnica, o mundo simbólico da filosofia, da música, da poesia, do teatro, do cinema. Inventou os valores éticos e estéticos. Inventou a Justiça, embora sendo injusto. E por que, então, a inventou? Porque quer ser melhor do que é, quer -como disse o poeta Höderlin- "ultrapassar o campo do possível". Inventou até Deus, que é a resposta à fatalidade da morte e às perguntas sem resposta. O homem inventou Deus para que este o criasse. Filho dileto de Deus, pode assim aspirar à ressurreição.

Publicado no Jornal Folha de S.Paulo, Ilustrada, 01/01/2006