"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

25 maio, 2008

Para Lennon

Por Eduardo Macedo de Oliveira

Na porta de um edifício em frente ao Central Park, Nova York (EUA), no dia 08 de dezembro de 1980, foi morto a tiros o ex-beatles John Lennon (40 anos). Autor de letras como as de Imagine e Give Peace A Chance, o cantor pregou a paz cantando e militando mundo afora.
Final de tarde em Uberlândia, dia 23 de maio de 2008. No bairro Tocantins, John Lenon, um jovem de 18 anos, foi assassinado com seis tiros.
Duas mortes trágicas. A primeira, “quando uma bala partiu de um manso louco” (Música “Naquela Noite com Yoko”), o autor do assassinato Mark Chapman (um fã) resolveu dar fim a um ícone mundial. A segunda, quatro homens não identificados dispararam sobre um jovem indefeso naquele bairro. Em comum, os nomes. Um serviu de inspiração para nomear outro. Imagino uma homenagem dos pais do John Lenon uberlandense ao inesquecível Lennon.
Duas realidades e fatos distantes. Contudo, o assassino do primeiro permaneceu no local com um livro na mão “O Apanhador no Campo de Centeio” de J.D. Salinger. Os assassinos do segundo Lenon fugiram após o ato.
Na semana passada, o IPEA lançou o Boletim de Políticas Sócias (BPS) – acompanhamento e análise - nº. 15 [ http://www.ipea.gov.br/082/08201002.jsp?ttCD_CHAVE=2910 ], um estudo denso de 310 páginas, tendo como foco a juventude. Revela que a criminalidade juvenil é alarmante. Segundo o BPS, “as pessoas com idade entre 18 e 24 anos foram as mais freqüentemente identificadas como infratores por homicídio doloso (17,56 ocorrências por 100 mil habitantes), lesões corporais dolosas (387,74), tentativas de homicídio (22,32), extorsão mediante seqüestro (0,34), roubo a transeunte (218,23), roubo de veículo (20,24), estupro (14,57) e posse e uso de drogas (41,96)". Por sua vez, os jovens de 25 e 29 anos apareceram como os principais infratores para o crime de tráfico de drogas (24,47).” Uma constatação inexorável: à medida que cresce a criminalidade em geral, diminui a idade dos autores da violência. E mais, além de infratores, os jovens brasileiros são as maiores vítimas, uma situação igualmente alarmante: “As estatísticas mostram que, enquanto as taxas de mortalidade da população brasileira como um todo vêm decrescendo progressivamente - como tendência de longo prazo relacionada à melhoria das condições de vida -, tal fenômeno não se observa com intensidade semelhante no caso do grupo populacional com idade entre 15 e 29 anos.”.
Que tristeza para todos nós, uma nação próspera, porém repleta de tragédias sociais. Crianças, jovens e idosos, os mais penalizados. Lamentável, pois, segundo Pierre Bourdieu (sociólogo francês, 1930-2002), “a juventude é só uma palavra”. De potencialidade, um recurso formidável, a juventude é escancarada como um problema (insolúvel?).
Patrícia Loncle, uma pesquisadora francesa faz-nos um alerta: “é a febre da juventude que mantém o resto do mundo com a temperatura normal”. Preocupamo-nos, portanto, além do aquecimento global, com a temperatura dos nossos jovens.