"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

12 abril, 2009

Ênfases Curriculares

Por Eduardo Macedo de Oliveira

Ao apagar das luzes do ano de 2008, exatamente em 19 de dezembro, a Secretaria Estadual de Educação baixou a Resolução nº. 1.255. Através dela instituiu e regulamentou-se a nova organização curricular nos cursos de ensino médio das unidades de ensino da rede estadual de educação.
Em síntese, os alunos do 2º ano do ensino médio têm agora de optar por uma área específica (humanas, exatas ou biológicas) denominado como “ênfases curriculares” para seguir até o fim do antigo colegial. O número de aulas continua o mesmo. O que muda é que, se o aluno escolhe a área de Humanas, passa a não ter mais aulas de biologia, química e física nos dois últimos anos do ensino médio. Já o que opta por exatas e biológicas deixa de ter aulas de história, geografia e língua estrangeira. E mais, o aluno só tem o direito de optar pela área se tiver 70% de aprovação.
Levando-se em conta que a maioria dos vestibulares exige todo o conteúdo, em Uberlândia, por exemplo, é óbvio que os alunos da rede estadual terão a partir deste ano dificuldades para obtenção de vaga em uma universidade pública.
Seria conveniente conhecer quais foram os pressupostos e argumentações para a implantação destas mudanças. Lembro-me da época em que a mesma Secretaria Estadual de Educação implantou o ensino fundamental de nove anos. A margem dos pretensos avanços e propaganda política de tal iniciativa, o Estado espertamente a partir de então aumentou as suas receitas através do FUNDEF, pois o mesmo somente contabilizava alunos a partir da primeira série do ensino fundamental, ou seja, sete anos.
Mas voltando ao Ensino Médio, outras questões importantes: qual a posição do Conselho Estadual de Educação sobre o assunto? Qual a posição dos alunos?
No mês de abril do corrente ano, o Ministro da Educação, Fernando Haddad, começou um movimento visando à redefinição das formas de acessos às universidades públicas federais. Sem dúvida, um movimento oportuno, necessário e inadiável, já que as próprias universidades permaneceram ao longo dos anos numa insuportável letargia e inércia sobre o assunto, fossilizando e intensificando a descaracterização e desvirtuamento do ensino médio, através de processos seletivos desumanos, transmissivos e enciclopédicos.
A “ponta do iceberg” é visível, afinal é notório que a educação brasileira, apesar das boas intenções e esforços, vem patinando e convivendo historicamente com uma triste realidade. E nossos jovens, vítimas das ações e omissões das esparsas e descontínuas políticas públicas, continuam ora enfrentando essa barbárie seletiva, ora evadindo-se diante das suas desilusões e falta de perspectivas. Perguntar não ofende: como a UFU se comportará diante desta nova realidade?
Que pena! Nossos jovens em uma fase importante de suas vidas têm que conviver com estas alquimias de tempos em tempos. Sobram-lhes preocupações e angústias; faltam-lhes o devido respeito e consideração para que possam vislumbrar perspectivas melhores.
Enquanto isto, manchete publicada no jornal Estado de S.Paulo (10/04/09, p.A11) “Metade dos alunos de SP conclui ensino médio sem entender ciências” corrobora que a educação mineira baseada em suas “ênfases curriculares” também contribuirá e apontará para um futuro nada promissor para os nossos jovens.