"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

28 setembro, 2005

O fim da política

Por Eduardo Macedo de Oliveira


Chama-nos a atenção, o discurso sobre a blindagem da economia diante de mais uma crise política instalada (ou produzida) em nosso país. Em 1992, o norte-americano Francis Fukuyama publicou o livro "The end of history and the last man" editado no Brasil com o título "O fim da história e o último homem", (trad. Aulyde Soares Rodrigues, Rocco, Rio de janeiro). O autor sugeriu que "ao longo do século a democracia liberal teria superado os "totalitarismos" de direita e esquerda, e também quaisquer outras variantes autoritárias, e triunfado como o regime mais adequado ao progresso e à liberdade humana." (http://www.culturabrasil.org/fukuyama.htm). Obviamente, provocou enorme polêmica. Mas a história não é fim, pois ela nasce de novo a cada dia, é dinâmica, contraditória e imprevisível.
O que está ocorrendo, de fato, é o fim da política, pois mesmo com grave crise instalada, a economia segue inabalável. Inicialmente, é necessário dizer que a "corrupção é endêmica ao capitalismo. É um tempero [...]. o problema é quando o tempero se transforma no prato principal" (http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2005/jusp737/pag0304.htm) afirma o sociológo da USP, Chico de Oliveira.
"A política que é uma extraordinária invenção para corrigir assimetrias de poder em qualquer sistema, sobretudo no capitalista, torna-se inútil" (idem). O cenário da globalização e a hegemonia do poder econômico anulam quaisquer mecanismos criados pelas democracias ocidentais. Sindicatos, parlamentos, sociedade organizada, perdem muito de sua efetividade. Surge a pergunta: para que serve o voto dos cidadãos? Se a política é incapaz de acompanhar o mercado, as inovações tecnológicas, das comunicações, dos mercados e da financeirização da economia. As questões importantes não passam mais pelo parlamento, veja, por exemplo a "autonomia do Banco Central" e a política econômica, imune, nefasta, predatória, injusta.
É o fim da política. Sobra somente o seu espetáculo, um jogo de cena para enganar os cidadãos. Parece, mas não é. A política virou um acessório, um simulacro.
Mais grave. "Foi destruída a possibilidade uma construção alternativa e da pior maneira possível, com a desmoralização da esquerda democrática e parlamentar" atesta o sociólogo da Unicamp, Laymert Garcia dos Santos (Jornal Estadod e S. Paulo, Aliás, 18/09/2005). Estamos, lamentavelmente, no plano do discurso, onde ocorre uma desqualificação da linguagem, do discurso político do Brasil. "A linguagem hoje no Brasil não vale nada, em setor nenhum" (idem).
Vinte anos, aproximadamente, será o tempo necessário para construção de um alternativa. Somos uma contradição entre o imediato e o projeto. Que Deus nos proteja!


Prof. Eduardo Macedo de Oliveira
http://eduardomacedo.blogspot.com/
eduardomacedo@uberlandia.mg.gv.br

27 setembro, 2005

Registro da guerra é grande vencedor














A cena: sentado no chão entre arames farpados, encapuzado e algemado, um civil iraquiano pede a um soldado americano que solte suas mãos para que ele possa enxugar as lágrimas de seu filho de quatro anos que, apavorado, chora ao seu lado na base do Exército americano em Najaf (Iraque).Flagrada pelo fotógrafo francês Jean-Marc Bouju, da agência internacional Associated Press, em 31 de março do ano passado, essa imagem, que foi capa de muitos periódicos no mundo todo, foi a grande vencedora do WPP 2004.Quando o júri optou por premiar essa fotografia, ainda não tinham vindo à tona as imagens da tortura imposta por soldados americanos e britânicos aos iraquianos na prisão de Abu Ghraib, que narram de forma mais veemente o lado obscuro da guerra.Feitas pelos próprios soldados, as tais fotografias não são fruto de um esforço de reportagem que busca a denúncia, embora tenham resultado nisso. Foram geradas pela perversão de pessoas que, não contentes em humilhar detentos sem reação, fotografaram com o intuito de ostentar um mórbido troféu. (EC)

fonte: Jornal Folha de S.Paulo, p.E3, 04/11/04

Divulgação Científica

A Estação Ciência da Universidade de São Paulo (USP) está prestes a estrear uma ferramenta de divulgação científica para transportar jovens e adultos a uma série de aventuras multimídia.
O objetivo do quiosque interativo TryScience, que será instalado na Estação Ciência, no bairro da Lapa, em São Paulo, é fazer com que os usuários tenham contato direto com grandes experimentos desenvolvidos na história da ciência. O TryScience é um projeto da IBM, em parceria com o Salão de Ciência de Nova York e mais de 450 instituições membros da Associação dos Centros de Ciência e Tecnologia (ASTC).
“Toda a parte física do quiosque já está instalada. Estamos esperando um último computador, que vai permitir o acesso imediato à rede TryScience”, disse Wilson Teixeira, diretor geral da Estação Ciência, à Agência FAPESP. “A previsão é que todo o sistema esteja funcionando até o fim do ano.”
O quiosque contará com computadores interligados pela internet com os museus que fazem parte da rede, permitindo a interação em tempo real por meio de câmeras de vídeo. As atividades vão desde a escavação virtual de um fóssil de dinossauro até o comando de uma espaçonave em uma missão espacial.
O site do TryScience está disponível em oito línguas: inglês, francês, alemão, chinês, japonês, italiano, espanhol e português. Nele, o usuário pode participar de experimentos temáticos, como aprender de que forma a física pode ajudar num jogo de tênis ou descobrir o autor de um crime misterioso por meio de testes de DNA. Uma sessão é especialmente dedicada aos pais e professores interessados em desenvolver projetos em casa ou na sala de aula.
“Quanto mais a população tiver acesso à informação qualificada, maior será a possibilidade de análise crítica do conhecimento e de incentivar a criatividade dos jovens, o que pode estimular um maior ingresso nas carreiras científicas”, afirma Teixeira.
Além da Estação Ciência, o Museu da Vida, no Rio de Janeiro, também foi escolhido pela IBM para participar do projeto do quiosque interativo no Brasil.
Mais informações: www.tryscience.org.

fonte: http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?data[id_materia_boletim]=4397

26 setembro, 2005

Os filhos do Brasil

Por Eduardo Macedo de Oliveira

Assisti com o meu filho o filme "2 filhos de Francisco", imperdível! É gratificante constatar a evolução da qualidade do cinema brasileiro. Podem anotar, nossa produção cinematográfica será uma das melhores do mundo.
Em relação ao filme, reitero, fantástico! Um Brasil rural e um urbano dividem a história real de uma família no interior de Goiás. Liderados pelo Francisco e esposa, pais de muitos filhos, entre eles, Zezé Di Camargo e Luciano, que tornariam uma das melhores duplas de cantores de nosso país.
Chama atenção as "loucuras" do Francisco, que podem ser traduzidas pela ousadia, a fé, a determinação, a sabedoria e a perseverança, de um entre os milhões de brasileiros que teimam em acreditar nos seus filhos e em nosso país.
Uma de suas loucuras, a cobrança de instalação de uma escola rural, revela um Francisco verdadeiramente cidadão, na busca da dignidade, do direito à educação, indispensável e determinante.
Quantos Zezés e Lucianos estão por aí? Ou seja, quantos talentos encontram-se à espera de Franciscos, sem oportunidades, direitos e esperanças? Mas o Francisco, apesar das dificuldades revela a sua iniciativa e criatividade, no sentido de oportunizar aos seus filhos a descoberta e a potencialização dos seus talentos, um direito vital de qualquer ser humano.
O exôdo rural destaca-se no filme. Somos urbanos com nossas rodoviárias e misérias.
Outra cena. O empresário desculpando-se com a família do Francisco, de uma dignidade rara nos dias atuais.
Em síntese, um filme que trata do talento e da busca incessante e incansável de uma oportunidade, de uma vida decente. Belo, sensível e emocionante, enfim uma obra de arte e ao mesmo tempo, um tratado sociológico sobre o nosso país.
Como nada é perfeito, dispensável a cena em que se destaca o logotipo de um grande banco e inoportuna a entrega de folheto promocional de uma marca de telefonia móvel na saída da sala do cinema.

Prof. Eduardo Macedo de Oliveira
http://eduardomacedo.blogspot.com/

23 setembro, 2005

Inclusão escolar

Carteira criada por ONG mineira resolve o problema de alunos portadores de necessidades especiaisCom uma idéia nascida em Minas Gerais, o sistema de ensino no Brasil dá um grande passo em favor da inclusão das crianças portadoras de necessidades especiais. Depois de dois anos de pesquisa, a ONG mineira Noisinho da Silva desenvolveu o projeto da Carteira Escolar Inclusiva. O protótipo será apresentado na próxima segunda-feira, às 20 horas, no auditório do Museu Histórico Abílio Barreto, em Belo Horizonte, com a presença de profissionais de educação e design de todo o País.As pesquisas que levaram à Carteira Inclusiva envolveram profissionais das áreas de design, arquitetura, fisioterapia e terapia ocupacional, além de educadores e pais de crianças portadoras de deficiências. Durante dois anos, foram analisadas 28 escolas da Região Metropolitana de Belo Horizonte e entrevistados mais de 3 mil estudantes, de 6 a 12 anos. Essas crianças tiveram suas medidas catalogadas em um banco de dados antropométricos, único no Brasil, que definiu o tamanho que a carteira escolar deveria ter. O resultado é uma carteira composta por mesa e cadeira de plástico rotomoldado resistente (o mesmo usado em parques infantis), material atóxico, sem quinas e em formato atraente, colorido, para despertar a criatividade e o interesse das crianças.O trabalho que gerou o protótipo custou R$ 600 mil, sendo R$ 500 mil patrocinados pela Petrobras e o restante com recursos próprios da ONG, cujo balanço financeiro está disponível na Internet, no site www.noisinhodasilva.org.br. O parceiro do Noisinho da Silva é o escritório Índio da Costa Design, do Rio de Janeiro.Problema e soluçãoAs carteiras escolares disponíveis no mercado - e conseqüentemente nas escolas - não atendem adequadamente a todas as crianças. Não há regulagem de tamanho, distância entre a mesa e o assento (no caso das carteiras de braço), estabilidade etc. Com isso, as crianças deficientes são obrigadas a utilizar carteiras adaptadas, bem diferentes das utilizadas pelos seus colegas, o que reforça a discriminação. "É o objeto ajudando a realçar as dessemelhanças existentes entre as pessoas, desrespeitando a diversidade humana", segundo os idealizadores da nova carteira.A Carteira Escolar Inclusiva pode ser utilizada por todas as crianças, deficientes ou não. A criança pode ajustar a altura da cadeira e do encosto. O acento é ondulado, o que facilita a estabilidade, evitando que ela escorregue ou fique sentada uma postura inadequada.Para atender às crianças com paralisia cerebral, a cadeira possui acessórios que podem ser colocados pela professora, em questão de segundos, como um cinto de segurança, que deixa a criança firme na cadeira, sem escorregar, e um encosto para os pés.A cadeira conta com regulagem de altura, da profundidade do assento e do encosto lombar.O tampo da mesa é adaptável e pode ser inclinado (16°, 30° e 90°) para facilitar a leitura, principalmente as que tenham dificuldades de visão. A altura também pode ser adaptada. Há espaço para depositar os materiais escolares (lápis, borracha, cadernos e livros). Todas as regulagens possuem travas de segurança, para evitar qualquer acidente, e a manutenção pode ser feita pela própria escola porque os mecanismos são simples e as peças de reposição estão disponíveis no mercado.

À procura de um fabricante

Segundo os idealizadores, o projeto da Carteira Escolar Inclusiva segue as normas definidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e da Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA), instituições que normatizam as dimensões do mobiliário escolar e a acessibilidade dos portadores de necessidades especiais.O projeto da CEI também segue a portaria do Inmetro. Segundo os responsáveis pela ONG, como a carteira ainda está no protótipo, ainda não foi analisada pela instituição, mas assim que o primeiro produto for produzido, em escala industrial, será enviado para a realização dos testes e emissão do certificado pela instituição.A Noisinho da Silva está à procura de uma empresa que se interesse em fabricar e comercializar a Carteira Escolar Inclusiva para todo o País, com qualidade e preço acessível para as escolas. A intenção é que a CEI esteja disponível no mercado no início do ano letivo de 2007.Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 14,5% da população brasileira possui algum tipo de deficiência (física, mental, auditiva ou visual). Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, de 2003, projeta para 2025 um aumento de 18% no percentual de deficientes no País.quase 30%.A ONGFormada por arquitetos, fisioterapeutas e designers, a Noisinho da Silva é uma organização não governamental que busca a inclusão social de crianças portadoras de necessidades especiais. Criada em Belo Horizonte, em 2003, ela utiliza o conceito de design universal como principal ferramenta de inclusão.

fonte: http://www.iof.mg.gov.br/?a=noticia&not=525163

19 setembro, 2005

Manifesto Intelectuais - UNICAMP

Pela investigação rigorosa da corrupção, pela punição dos envolvidos e pela democracia

A crise atual revelou os limites da democracia brasileira, e as manobras em curso, que visam poupar os corruptos, podem estreitá-la ainda mais.
Depois de muitos anos de luta contra uma violenta ditadura militar, chegamos a um regime democrático esquálido, que não rompeu claramente com o passado ditatorial. Sob forma nova, permanecem alguns dos instrumentos espúrios da ditadura, dos quais são exemplos o açambarcamento da função legislativa pelo Executivo, a multiplicação de foros privilegiados para julgar mandatários e burocratas, a ação subterrânea das forças de segurança militarizadas no seio do Estado, a ausência da plena liberdade de organização para os trabalhadores e a prática de tortura e do assassinato pelos órgãos policiais. Desenvolveram-se também, sem nenhum freio, alguns dos instrumentos pelos quais o poder econômico e as instituições do Estado podem distorcer os mecanismos de expressão da vontade popular, como a intervenção direta dos organismos econômicos internacionais na definição da política econômica do Estado brasileiro, o monopólio exercido por um reduzido número de grandes grupos econômicos sobre os meios de comunicação, o sistema de financiamento de campanhas eleitorais que nada mais é que um sistema para comprar candidatos e candidaturas, a conversão dos votos de deputados e senadores em mercadoria que é negociada quase que à luz do dia com vultosos recursos de origem escusa, a total falta de controle dos representantes pelos supostos representados e a consolidação de um presidencialismo que se parece com o poder imperial. Esse tipo de democracia tem sido útil para preservar o modelo econômico neoliberal, mas não para atender os interesses da maioria da população brasileira.
Depois de conquistarem o voto popular na eleição de 2002, o Governo Lula e o PT, sob a direção do Campo Majoritário, aderiram àquelas práticas. Chegamos a uma situação em que, dentre os grandes partidos políticos, ninguém pode atirar a primeira pedra. Desde que surgiram as denúncias sobre a compra de deputados para que votassem com o governo, o PT e o Governo Lula têm dificultado as investigações, enquanto o PFL e o PSDB agem sob medida com o único objetivo de usar eleitoralmente as denúncias, zelando para que a corrupção praticada por tucanos e pefelistas permaneça ignorada e não apurada.
Há também os interesses econômicos aos quais estão ligados o PFL e o PSDB. Esses partidos sacrificam as investigações quando elas apontam na direção do Ministério da Fazenda, de modo a preservar a política econômica do governo com a qual concordam. Não estão empenhados, de fato, em levar a investigação até o fim e em todas as direções; não estão empenhados em preservar e em ampliar o pouco de democracia política que conquistamos no Brasil. Colher depoimentos espetaculares sem proceder a investigações rigorosas pode ser um caminho para simular que se está investigando e, ao mesmo tempo, viabilizar um grande acordo que salve quase todos – o governo, a oposição liberal e até mesmo os deputados cujos nomes estão na lista de sacadores das contas de Marcos Valério.
É esse acordo contra a democracia que não podemos aceitar! Investigação pela metade e punições meramente protocolares estimularão a continuidade da ação dissolvente do poder econômico sobre a democracia brasileira e reforçarão a autonomia e a presunção de impunidade de parlamentares, de mandatários do poder executivo, de juízes e de burocratas do Estado. Campanhas eleitorais e deputados continuarão sendo comprados, a política continuará sendo meio para o enriquecimento pessoal e a democracia representativa, uma falsa representação da vontade da maioria. Passado o momento espetacular da crise, regressaríamos à normalidade de nossa democracia estiolada pela herança da ditadura, pela corrupção do poder econômico e pela arrogância dos políticos profissionais e dos burocratas.
Exigimos que as investigações prossigam até o fim, inclusive aquelas que apontem em direção à Presidência da República e possam redundar na instauração de um processo de impeachment.
Todos os culpados, corruptos e corruptores, devem ser punidos – inclusive os bancos e empresas, nacionais e estrangeiras, que financiaram essa ultrajante operação de compra de votos e apoio político.
É hora de lutar pela preservação das conquistas democráticas e pela criação e ampliação dos mecanismos de controle popular sobre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. A luta contra a corrupção e pela ampliação da democracia é parte da luta contra o modelo econômico neoliberal e pela melhoria das condições de vida da população brasileira.

Fonte: http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/setembro2005/ju302pag07.html

O Brasil aprisionado

Por Leonardo Boff

Pertence ao analista, diante de uma crise como a atual, não se contentar com análises meramente conjunturais, mas deve olhar longe e fundo. O Brasil, na verdade, é uma periferia de centros que desde o século XVI nos mantém a eles atrelados: fomos colonizados, neoconalonizados e hoje globocolonizados. Para sermos sinceros, ele não se sustenta autonomamente de pé. Jaz "deitado eternamente em berço esplêndido". A maioria da população é composta de sobreviventes de uma interminável tribulação. Surpreendentemente soube guardar o bom humor, o sentido lúdico e uma invencível capacidade de de festejar e esperar.
Nunca houve antes do advento do PT e de Lula ao poder uma ruptura instauradora que permitisse a emergência de um novo sujeito de poder, capaz de ocupar efetivamente a cena histórica e começar a moldar a sociedade brasileira de modo a que todos pudessem caber nela. Mas vergonhosamente, erros e traições de setores dirigentes do PT desperdiçaram essa chance histórica, tornando-se execráveis face ao povo sofredor e a todos os que se aliaram a eles, durante toda uma vida. Dai se explica a iracúndia sagrada que tomou conta de setores comprometidos da sociedade com as mudanças e com a ética, crucificadas pela fome desenfreada de poder.
O comportamento das elites é por demais conhecido. Em seu camaleonismo ficaram e ficam sempre do lado do poder, seja qual for, para manterem seus privilégios. Ou então conspiram. Isso faz com que o jogo nunca se mude, apenas embaralham-se diferentemente as cartas do mesmo e único baralho como bem o mostrou Marcel Bursztyn em "O pais das alianças, as elites e o continuísmo no Brasil"(1990).
Esta situação vem de longe, do tempo da fundação do Brasil como o revelaram mestres como Sergio Buarque de Holanda com o seu "Raízes do Brasil" (1936), como Caio Prado Júnior com o seu "Formação do Brasil contemporâneo" (1945), como Simon Schwartzmann com o seu "Bases do autoritarismo brasileiro"(1982) e como Darcy Ribeiro com seu "O povo Brasileiro"(1995). Marilena Chauí, com sua notória contundência, resumiu numa conferência em Portugal ainda em 1993 esse legado perverso: "A sociedade brasileira é uma sociedade autoritária, sociedade violenta, possui uma economia predatória de recursos humanos e naturais, convivendo com naturalidade com a injustiça, a desigualdade e a ausência de liberdade e com os espantosos índices das várias formas institucionalizadas - formais e informais - de extermínio físico e psíquico e de exclusão política e cultural"
Governar um país assim e ainda pretender revolucioná-lo é um desafio para gigantes e para heróis. Por isso entendemos as dificuldades do Governo Lula. A crise atual representa para a sociedade e os movimentos organizados mas especialmente para o Governo uma prova crucial rumo a um salto de qualidade política que nos redima do passado e passe o pais a limpo. O grande obstáculo é a miopia e o reacionarismo de alguns líderes políticos, acantonados especialmente no PFL, ávidos de fatos que lhes justifiquem um eventual impeachment do Presidente Lula. Seria interromper o processo do novo, abrindo o caminho para a antiga dominação e para continuarem a mamar das tetas do Estado Esses são até mais execráveis que os corruptos do PT, como o reacionário senador Bornhausen que disse: "Finalmente nos livraremos desta raça pelo menos por trinta anos".

fonte: http://www.novae.inf.br/pensadores/brasil_aprisionado.htm

15 setembro, 2005

Transgênicos

Como os transgênicos vão parar no seu pão? assista ao slide show

GUIA DO CONSUMIDOR - PRODUTOS COM OU SEM TRANSGÊNICOS

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Água tratada, consumo sustentável?

Por Eduardo Macedo de Oliveira

O consumo diário de água tratada per capita (por habitante), em nossa cidade, é 250 litros acima dos 120 litros recomendados pela Organização das Nações Unidas – ONU. Este dado, publicado no Jornal Correio (p. b3, 14/09/05) aponta-nos várias hipóteses (e temíveis conseqüências). Para explicá-las, basta observar, por exemplo, quotidianamente nas vias públicas, pessoas utilizando água tratada de forma inconsciente (para não dizer irracional).
Não tenham dúvida, caso não consigamos reverter nossa postura em relação ao consumo diário de água tratada, em breve ocorrerá um colapso no sistema de abastecimento, em especial, naquelas épocas do ano caracterizadas pelo clima seco. O que devemos fazer? Quais as diretrizes políticas, legais e tecnológicas a serem implantadas? Quais os papéis dos poderes executivo, legislativo e judiciário e da sociedade organizada?
A demanda por água tratada é desproporcional à oferta da mesma. Estamos crescendo desordenadamente.
Água é vida, é cidadania, garante a civilização, é questão de saúde, sustentabilidade e de segurança. Sua oferta e preservação, desde os nossos rios e nascentes até à torneira, requer ações urgentes, educativas, preventivas e planejadas.
É um assunto que há muito tempo encontra-se subestimado. Temos que enfrentá-lo continuamente com firmeza, severidade e rigor (é uma política de Estado), pois ao contrário, caso persista o uso irracional e inconseqüente deste bem, em curto tempo, estaremos vulneráveis a tal ponto de inviabilizar a existência de nossa cidade, ou na pior das hipóteses, ser motivo de desequilíbrio, disputa e insegurança social.
Não temos saída, ou aprendemos a consumir de forma sustentável e responsável ou estaremos diante de um progressivo esgotamento ambiental, colocando em risco, irreversívelmente, nossa simbiose social. Tornamo-nos inteligentes quando reconhecemos nossa ignorância.

Prof. Eduardo Macedo de Oliveira

14 setembro, 2005

Meteorologia e Climatologia

Meteorologia e Climatologia está disponível para download. A edição digital do livro "Meteorologia e Climatologia", de Mário Adelmo Varejão-Silva, está disponível no Agritempo. Lançada em julho de 2005, a edição foi apresentada no XIV Congresso Brasileiro de Agrometeorologia, que ocorreu em Campinas, de 18 a 21 de julho. Essa versão apresenta algumas alterações, principalmente das ilustrações, com relação às edições impressas de 2000 e 2001, que estão esgotadas. Para realizar o download, clique aqui .

fonte: http://www.agritempo.gov.br/tmp/Meteorologia_Climatologia.pdf

12 setembro, 2005

A cartilha da Amarribo

Cansado das mesmas CPIs? Visite a Amarribo É o nome de guerra da Amigos Associados de Ribeirão Bonito. A cidade fica no interior de São Paulo. Tem 11 mil habitantes. A ONG está na internet. Já passaram por sua página mais de 56 mil pessoas. Dá cinco vezes a cidade. Dois anos atrás ela publicou um livro, chamado “O combate à corrupção nas prefeituras do Brasil”. Custa R$ 10 e está, espalhado, em terceira edição, pelo país, com 120 mil exemplares. Dá quase um Zuenir Ventura. Clique aqui para acessar na íntegra

Sobre ética, liberdade e verdade

Por César Benjamin

Muros a extrapolar

A interação da academia com a sociedade – embora apregoada como prioridade – ainda fica atrás do ensino e da pesquisa. Clique aqui para acessar

Afinal, copiar trechos de livros é certo ou errado?

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O desmonte do projeto de Estado social e a distribuição de migalhas

Estudo cobrindo o período de 1964 a 2002 mostra por que as políticas sociais não funcionam no Brasil

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O mundo antigo e os novos paradigmas

Especialista em História Antiga fala da importânciado passado para o entendimento da cultura contemporânea

O madrilenho Dionísio Pérez Sánchez licenciou-se em História Antiga e Medieval na Universidad Autónoma de Madrid em 1980, e doutorou-se em História Antiga na Universidad de Salamanca em 1985, época em que iniciou também sua atividade como professor. Seus estudos e cursos de História Antiga e Medieval envolvem História de Roma; aspectos sociais e econômicos do reino visigodo de Toledo; historiografia clássica; a Gália no século V; o feudalismo visigodo; transformações no mundo mediterrâneo; fontes e métodos de História Antiga; e comentários de textos antigos.
Pérez Sanchez veio ao Brasil por meio do programa Cátedra Ibero-Americana Unicamp-Universidades Espanholas, promovido pela Coordenadoria de Relações Internacionais (Cori) da Universidade. Trazido pelo professor Pedro Paulo Funari, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, ministrará, de agosto a novembro, conjuntamente com outros docentes, disciplinas de graduação e pós-graduação, de responsabilidade do professor Funari, em que dará uma visão geral da História Antiga, abordará as razões do desaparecimento de Roma como unidade política e discutirá como a cultura experimenta modificações causadas por determinados contextos e influências. Nesta entrevista, Pérez Sanches fala dos seus estudos, da Espanha, do Brasil e dos aspectos sociais e culturais que já lhe despertaram a atenção. Clique aqui para acessar

09 setembro, 2005

Essa raça

Por Verissimo

A desunião das "esquerdas" faz parte do folclore político brasileiro. A velha piada, que só variava na escolha das etnias - "Dois espanhóis (ou dois judeus), quatro posições" - se adapta a esta nossa tradição: uma esquerda, 17 tendências. A divisão interna no PT é quase uma paródia disto. Nenhum outro partido conhecido oferece tal possibilidade de sintonia ideológica fina. Há faixas para todos os gostos e subfaixas para gostos especiais. As diferentes correntes se entrechocam e o resultado é sim, como gostam de dizer, saudavelmente democrático - e mortal. Explica em parte a crise atual do PT como a desconjunção das "esquerdas" explica a sua irrelevância histórica no Brasil, onde a direita sempre explorou sua suposta ameaça confiando nessa porosidade fatal.
O senador Bornhausen pode ter feito uma favor às "esquerdas" quando disse que o melhor efeito da crise seria acabar com "essa raça" pelos próximos 30 anos. Se começassem a pensar em si mesmas como uma raça contemplando a extinção, ou pelo menos de 30 anos de inexistência punitiva, "as esquerdas" talvez descobrissem como usar sua identidade comum contra o inimigo comum. E começassem, finalmente, a influir nesses eternos arranjos e rearranjos de oligarquias que passam por História, por aqui. Nada como laços biológicos para fortalecer uma união.
Enquanto a consciência de raça não vem, é incrível que ainda seja a desunião e o conflito de facções que vá decidir o futuro imediato do PT em vez do instinto de sobrevivência. Perdeu-se uma oportunidade com a rejeição do caminho apontado pelo Tarso Genro para melhorar a imagem do partido, se não para a sua regeneração. Foi a vitória não do bom senso mas de uma tendência errada. Uma das 17.
A propósito: na inauguração do governo Lula, num assomo de otimismo e bairrismo, elogiei todos os gaúchos do ministério - Tarso, Olivio Dutra, Dilma Rousseff, Miguel Rossetto - e escrevi que, se desse errado, seria culpa dos paulistas. Estou pensando seriamente em comprar um turbante e me estabelecer como vidente.

Fonte: Jornal Estado de S.Paulo, 08/09/05

08 setembro, 2005

Mapa de Minas

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A REGGEN, em aliança com a Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, a Universidade Federal Fluminense – UFF, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio, a Universidade Cândido Mendes - UCAM, a Universidade de Brasília - UNB, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – FFLCH-USP, a Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, a Coordenadoria de Assuntos Internacionais de Governo do Estado de Rio de Janeiro, o Conselho Latino-americano de Ciências Sociais – CLACSO, entre outras instituições, realizará no próximo mês de outubro de 2005 um Seminário Internacional que permitirá analisar as possibilidades e os papéis que podem cumprir as potências emergentes, entre elas o Brasil, na reordenação da economia mundial em direção ao desenvolvimento sustentável, ao pleno emprego, à redução da polarização e da pobreza, à cooperação e legitimidade política internacionais. O seminário busca ainda analisar as perspectivas da sociedade organizada para alcançar estes objetivos, tomando em consideração as novas tecnologias e as novas subjetividades emergentes no mundo contemporâneo.


PALESTRANTES E CONVIDADOS(nomes a confirmar)
8/Out 9/Out 10/Out 11/Out 12/Out 13/Out
Adrián Sotelo Valencia (Universidade Nacional Autônoma do México – UNAM, México) Alan Fairlie (Pontifícia Universidade Católica do Peru – Peru) Ali Rodriguez Araque (Ministro de Relações Exteriores, Venezuela) Almirante Reginaldo Reis (Escola de Guerra Naval do Brasil) Aloísio Teixeira (UFRJ) Aluízio Alves Filho (UFRJ) Ana Esther Ceceña (Universidade Nacional Autônoma do México – UNAM, México) Andre Gunder Frank (Universidade de Calabria, Itália) Aníbal Quijano (Universidad Nacional Mayor de San Marcos – UNMSM, Peru) Antônio Carlos Peixoto (UERJ) Antônio Celso Pereira (UERJ) Argemiro Procópio (UnB) Armand Mattelart (Universidade de Paris VIII - França) Atílio Borón (CLACSO, Argentina) Beluce Bellucci (UCAM) Ben Turok (Parlamento da África do Sul) Benjamin Coriat (Universidade de Paris XIII - França) Beverly Silver (Universidade John Hopkins - EUA) Bidyut Mohanty (Departamento de Estudos da Mulher, Instituto de Ciências Sociais – Índia) Boaventura de Sousa Santos (Universidade de Coimbra, Portugal) Cândido Mendes (UCAM) Carlos Eduardo Martins (REGGEN – Brasil) Carlos Nelson Coutinho (UFRJ) Charles Pessanha (UFRJ) Cícero Mauro Fialho Rodrigues (UFF) Daewon Choi (UNECE, Tailândia) Daniel Aarão Reis (UFF) Daniel Olesker (Universidade da República – Uruguai) Deepak Nayyar (Universidade de Delhi, Índia) Eduardo Portella (Colégio do Brasil) Elmar Altvater (Universidade Livre de Berlim – Alemanha) Emir Sader (UERJ) Enrique Leff (Rede de Formação Ambiental – PNUMA, México) Eric Hobsbawn (Cambridge, Reino Unido) Eurico Lima Figueiredo (UFF) Fernando Sá (PUC-Rio) Francisco López Segrera (Rede GUNI, Universidade Politécnica de Catalunha – Espanha) Franklin Trein (UFRJ) Gao Xian (Academia Chinesa de Ciências Sociais - China) Gilberto Dupas (USP) Giovanni Arrighi (Universidade John Hopkins – EUA) Gu Wenjuan (Administração Estatal para Rádio, Cinema e TV, China) Guy de Almeida (PUC-MG) Hans van Ginkel (UNU – Japão) Ignacio Ramonet (Le Monde Diplomatique - França) Immanuel Wallerstein (Universidade de Yale, EUA) Jaime Estay Reyno (REDEM, BUAP, México) Jaime Osório (UAM, México) Jan Kregel (Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU) João Pedro Stedile (MST) João Trajano Sento-Sé (UERJ) John Saxe-Fernández (Universidade Nacional Autônoma do México - UNAM, México) Jomo Kwame Sundaram (Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU) Jorge Mattoso (CEF) Jorge Werthein (UNESCO-Brasil) José Carlos Ferraz (UFRJ) José Ricardo Tauile (UFRJ) José Vicente Tavares dos Santos (ALAS – Brasil) Julio Gambina (Universidade de Rosario – Argentina) Jürgen Habermas (Universidade de Frankfurt - Alemanha) Kinhide Mushakoji (Movimento Internacional contra toda forma de Discriminação e Racismo – IMADR - Japão) Leda Maria Paulani (SEP) Lúcio Flávio de Almeida (PUC-SP) Luís Fernando Veríssimo (escritor, Brasil) Luis Fernandes (MCT) Luiz Antônio Elias (INPI) Luiz Carlos Prado (CADE) Luiz Pinguelli Rosa (UFRJ) Luk van Langenhove (UNU/CRIS - Bélgica) Manoranjan Mohanty (Universidade de Delhi - India) Marc Humbert (PEKEA - França) Marcelo Carcanholo (UFU) Márcio Porchmann (UNICAMP) Marco Antonio Dias (UNU, Japão) Marco Aurélio Garcia (Assessor Especial da Presidência da República) Martin Khor (Third World Network – Malásia) Michael Löwy (Centro Nacional de Pesquisa Científica – CNRS, França) Monica Bruckmann (REGGEN) Nildo Ouriques (UFSC) Nival Nunes de Almeida (UERJ) Nodari Simoniya (Academia de Ciências da Rússia - Rússia) Osvaldo Martínez (Ciem, Cuba) Orlando Caputo (Centro de Estudos sobre Transnacionalização, Economia e Sociedade – CETES, Chile) Pe. Jesus Hortal Sánchez (PUC-RJ) Perry Anderson (UCLA - EUA) Pierre Salama (Universidade de Paris XIII - França) Roberto Retamar (Casa das Américas, Cuba) Roberto Verrier (AEALC/ANEC – Cuba) Sedi Hirano (USP) Samir Amin (Fórum do Terceiro Mundo) Samuel Pinheiro Guimarães (Ministério de Relações Exteriores) Tariq Ali (New Left Review) Tarso Genro (Ministério da Educação) Theotonio dos Santos (UFF) Vânia Bambirra (FESP) Vidal Beneyto (Colégio de Altos Estudos Europeus Miguel Servet, França) Victor Hugo Klagsbrunn (PPGRI/UFF) Wilhelm Hofmeister (Fundação Konrad Adenauer, Brasil) Yves Berthelot (PEKEA, França)

Data: 08 a 13 de Outubro de 2005 Local: Hotel Glória, Rio de Janeiro.

fonte: http://www.reggen.org.br/reggen2005/

Cotas

Unicamp critica cota de 50% para escolas públicas
A Unicamp aprovou um documento em que critica a reforma universitária proposta pelo governo federal, inclusive a exigência de se reservar 50% das vagas das universidades federais a estudantes da escola pública --política conhecida como cotas.
Leia o que já foi publicado sobre políticas de cotas
Leia o que já foi publicado sobre a Unicamp

fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/

NASA World Wind

Descrição: Visite virtualmente qualquer ponto do planeta com este software produzido pela NASA. Você poderá localizar e visualizar qualquer ponto da Terra a partir do espaço, com uma riqueza de detalhes tridimensionais tão impressionantes que, melhor que isso, somente se você estivesse lá.Versão: Free

Ipea lança o livro Brasil: o estado de uma nação

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06 setembro, 2005

Mapa de Uberlândia

Como falar sobre o uso de álcool com os seus filhos

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05 setembro, 2005

A hora da tristeza

Por Rubem Alves

O meu celular tocou. Era o meu filho Sérgio. "Pai, estou a caminho de Atibaia. Antes da cidade há um mastro alto com uma enorme bandeira do Brasil. A bandeira está murcha, caída, enrolada no mastro. Tive a impressão de que ela estava enrolada no mastro para esconder a vergonha. Agora só se fala sobre essa vergonheira da corrupção. Mas há tantas coisas bonitas acontecendo. Parece que ninguém vê. Ninguém fala nelas. Será que você pode fazer alguma coisa?"Não havia raiva na sua voz. Era apenas tristeza.O que posso fazer é coisa fraca -escrever. Disso sabia o Vinícius, que disse ter uma "imensa piedade da sua inútil poesia"...A primeira reação do país foi o espanto. O espanto faz o pensamento parar. O susto toma conta de tudo. O que estava acontecendo era o inimaginável.Passado o espanto inicial, veio a indignação. Raiva. Como se, de repente, descobríssemos que a esposa pura (e como se gabava da sua pureza!) era uma prostituta. A imagem é bruta? Tirei-a do Antigo Testamento, do livro do profeta Oséias.Mas a voz do meu filho sugeriu que a alma do povo estava entrando em um outro momento. Sem nada poder fazer com a raiva, a alma se dá conta da sua impotência e começa a chorar.Choramos... D. Miguel de Unamuno, filósofo espanhol que Guimarães Rosa muito amava, disse que "o que existe de mais sagrado num templo é o fato de ser o lugar aonde se vai chorar em comum. Um Miserere cantado em coro por uma multidão açoitada pelo destino vale tanto quanto uma filosofia". Creio que ele me permitiria uma inversão. Eu diria: "Um lugar aonde se vai chorar em comum, qualquer que seja, transforma-se em um templo". Em que templo enorme se transformou o Brasil! Só nos falta um poeta que nos componha um Miserere para cantarmos!Até agora, as sucessivas safadagens que vieram ao conhecimento público envolvendo políticos e empresas só provocaram indignação e raiva. A indignação e a raiva tornam-nos guerreiros. O guerreiro deseja a vingança. Mas, quando a indignação e a raiva se descobrem impotentes, deixamos de ser guerreiros e nos tornamos pranteadores.Nossa alma estava melhor nos anos de ditadura. Computados os seus horrores de torturas e assassinatos, brilhava em nós "essa pequenina luz indecifrável a que às vezes os poetas tomam por esperança". (Vinícius). Por causa da esperança, os poetas cantavam canções que do terror faziam brotar a beleza: "Apesar de você, amanhã há de ser novo dia"... Havia beleza e, por isso, a alma cantava. Mas agora já não há beleza. A alma não canta mais.Desisti de acompanhar os noticiários. Eles não me ajudam em nada. Só fazem aumentar a consciência da extensão das metástases.Parece existir um acordo: a corrupção não é a coisa. A corrupção é apenas um sintoma da coisa, pústulas fétidas de uma doença que circula no sangue, como se fosse varíola. Varíola não se cura raspando-se as pústulas. É preciso ir ao sangue, que é o lugar donde as pústulas nascem. Isso só com uma reforma das leis que regem o jogo da política.Concordo. Mas não sei quem fará essa mudança. Não acredito que lobos e raposas sejam capazes de abandonar sua dieta carnívora e aprovar uma dieta vegetariana. O profeta duvidava e perguntava: "Pode o tigre mudar suas listras?". Mas a sua pergunta já continha a resposta: o tigre não pode mudar suas listras... Pessoalmente, duvido de que o Congresso Nacional seja capaz de fazer a reforma de que necessitamos.Eu acreditaria, sim, se a lei da dita reforma começasse com essa afirmação:"Nós, senadores e deputados, representantes do povo, portadores do seu sofrimento e de suas esperanças, por este ato declaramos abrir mão de todos os privilégios que nos colocam acima do povo. De hoje em diante, as leis que determinam os nossos direitos serão as mesmas leis que determinam os direitos de todos os cidadãos, os mais humildes. Declaramos, portanto, abolidas todas as leis que nos colocam acima do povo. Estamos proibidos de legislar em causa própria. Jamais votaremos os nossos salários porque o povo não pode votar os seus próprios salários".O que faz um povo? Santo Agostinho dizia que um povo acontece quando as pessoas se unem em torno de um mesmo sonho. É preciso devolver ao povo a capacidade de sonhar, para que ele volte a ser povo. Mas, para que isso aconteça, é preciso que o povo tenha confiança nos representantes que elegeram. Mais do que isso: que se orgulhem deles.Faço minhas as palavras de Unamuno: "Pelo que me diz respeito, jamais de bom grado me entregarei nem outorgarei a minha confiança a um condutor de povos que não esteja penetrado da idéia de que, ao conduzir um povo, conduz homens, homens de carne e osso, homens que nascem, sofrem e, ainda que não queiram morrer, morrem; homens que são fins em si mesmos e não meios"...Não sei fiz o que meu filho pediu. Fiz o melhor que pude fazer com a minha inútil poesia...

Rubem Alves, 71, psicanalista e escritor, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e colunista do caderno Sinapse. Autor de, entre outras obras, "A Escola com que Sempre Sonhei sem Imaginar que Pudesse Existir" (Papirus, 2001).

Fonte: Jornal Folha de S.Paulo, 04/09/2005

Disputa faz primeira vítima: crianças das escolas públicas

Com sua decisão de permitir publicidade nos uniformes escolares, José Serra quer mostrar que, com sua criatividade, pode encontrar novos espaços para estender o miserável processo de mercantilização da nossa sociedade, para o que os tucanos contribuíram mais do que qualquer outra força política. A análise é de Emir Sader.

Começou a guerra no viveiro dos tucanos, para ver quem será o candidato nas eleições presidenciais de 2006. Inicialmente se tratava quase de cumprir tabela, quando Lula era o grande favorito. O anódino Alckmin fazia bem a figura de um candidato para aquele quadro, enquanto Serra e Aécio Neves se reservavam para 2010.

Quando passaram a ser dar conta que a campanha contra o governo dava frutos eleitorais, enlevados pelas novas pesquisas, abandonaram a idéia de impeachment, mantendo-a apenas para seguir desgastando Lula, e começaram os embates para ver quem poderia vir a retomar o projeto – abandonado pela metade – do governo FHC. Aécio se sente preterido, porque o valerioduto bate nas suas portas, além da sua derrota eleitoral nas eleições municipais de 2004.

Serra e Alckmin se lançam então na briga, com cotoveladas, articulações dentro e fora do PSDB, plantações de noticias na imprensa e tudo aquilo em que os tucanos são mestres – e dispõem de colunistas a seu serviço para esse trabalho. Além disso, disputam a confiança da oligarquia empresarial paulista, chave no financiamento de campanha e na conquista do consenso fabricado pela grande mídia.

Alckmin se sabe uma pessoa pouco credenciada para uma candidatura desse vulto. Medíocre como personalidade – o picolé de xuxú do Zé Simão cabe direitinho na sua personalidade ou falta de -, com nenhum carisma, com um governo que deixa tanto a desejar em áreas fundamentais no seu próprio discurso – como segurança pública, educação -, lhe resta o argumento estatutário – Serra e também Aécio tem mandatos a cumprir. Suas poucas possibilidades nas pesquisas, sua falta de força política – a que se refere Antonio Ermírio, quando o concita para se assumir mais como liderança opositora -, fazem com que esse seja seu maior argumento.

Enquanto isso, Alckmin privatiza tudo o que pode, cortar recursos para as universidades e para a cultura, para projetar-se como o neoliberal de plantão. Mas quando se pode acreditar que já se viu tudo em matéria de mentalidade mercantil, eis que os tucanos reatualizam sua capacidade de abastardar as coisas, sempre insuperável.

Com sua decisão de permitir que se coloque publicidade nos uniformes escolares, Serra quer mostrar que, com sua criatividade, pode encontrar novos espaços para estender o miserável processo de mercantilização da nossa sociedade, para o que os tucanos contribuíram mais do que qualquer outra força política. Imaginem as criancinhas das escolas públicas saindo das aulas com publicidade do McDonalds nas suas costas, nos seus colarinhos, nas mangas de suas camisas, nos joelhos de suas calças, mais parecidos com pilotos de Fórmula 1. Para demonstrar algum pudor, não será permitida propaganda de cigarros ou de bebidas. Mas McDonalds pode, assim como banco, telefonia celular e, quem sabe, candidatura de tucanos.

Uma decisão miserável. Criticavam a decisão do governo de Marta Suplicy de dar uniformes grátis para os alunos das escolas públicas, em um kit que incluía livros, cadernos, lápis. Era para substituir essa visão dos direitos públicos à educação gratuita e de qualidade – expressa nos CEUS, de triste memória com o governo Serra – por essa mercantilização dos uniformes e das crianças das escolas públicas. Uma decisão infame, que merece o repúdio do que exista de dignidade, de espírito republicano, de ética pública em São Paulo e no Brasil.

Mas vale tudo para ganhar a oligarquia empresarial paulista. Até subordinar as crianças das escolas de periferia aos desígnios das grandes empresas de publicidade da Avenida Paulista. Assim os tucanos prefiguram o que pretendem para o Brasil – privatizar a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Eletrobrás, a Caixa Econômica Federal. E terceirizar o país para quem pague mais, como já fazem com as nossas crianças.

fonte: http://agenciacartamaior.uol.com.br/agencia.asp?id=3448&cd_editoria=003&coluna=reportagens

02 setembro, 2005

A Construção Coletiva

Em termos prospectivos, a idéia-força da construção coletiva aponta na direção da articulação entre o individual e o coletivo. Isto implica a valorização das diferenças como constitutivo do próprio coletivo, bem como a valorização da perspectiva de processo, onde nada está pronto e acabado. Por outro lado, a construção coletiva coloca em discussão a questão do poder decisório e dos diferentes níveis de organização e instâncias de competências da vida em sociedade. A realidade não existe sem o ser humano, assim como o real não é apenas o ser humano. O real é o mundo material e as relações que o ser humano estabelece na vida social, consigo mesmo, com a natureza, com os outros seres e com o transcendente.

Desse modo, pode-se afirmar que o ser humano está ao mesmo tempo na esfera da natureza e da história. Isto quer dizer que não existe uma posição determinista em relação ao ser humano. O social não é produto de seres isolados, mas os indivíduos constroem sua subjetividade no real e nele sintetiza-se todo um conjunto de relações sociais que não determinam inteiramente a subjetividade do ser humano, mas algumas de suas formas fundamentais, bem como seus limites.

Por outro lado, as relações sociais não são supra-individuais, nem tampouco se pode abstraí-las dos indivíduos concretos que as constroem. Apesar do caráter objetivo das relações sociais, o ser humano não as contraí como autômato, mas como sujeito concreto, dotado de consciência e de vontade.

É justamente por isto, que os seres humanos são capazes de transformar suas circunstâncias, ainda que a sociabilidade capitalista tenda a transformá-los em objetos pela mercantilização de suas relações. È na luta contra este processo de mercantilização que deve ser entendida a força da construção coletiva. Para isto é fundamental a perspectiva de singularidade dos seres humanos, da recusa dos esquemas conceituais rígidos, onde o ser humano é refém seja de sua objetividade ou de sua subjetividade.

A perspectiva de singularidade se realiza, na construção coletiva, em um processo de permanente busca da liberdade do ser humano junto com os outros. É nesse processo que ele se diferencia e se constitui. Assim, a construção coletiva não se confunde com o processo de homogeneização, ao contrário, ela se rebela justamente contra esta tendência.

Por outro lado, só pode ser considerada como diferenciação aquela que está fundada na reciprocidade social, no curso da qual as pessoas envolvidas umas com as outras conservam sua iniciativa na busca de alternativas. O desafio que se coloca é como contribuir para a afirmação de valores de solidariedade, proximidade e partilha, instituindo relações diferenciadas e diferenciadoras. É o desafio que esta idéia-força coloca para todos o que desejam construir efetivamente uma sociedade justa e fraterna.

Para enfrentar este desafio torna-se fundamental apostar na capacidade de ação e reflexão das pessoas. Não uma ação e reflexão já definidas a priori, quer por pretensos dirigentes, quer por determinismos históricos. Ao contrário, apostar que as pessoas podem olhar para frente construindo as condições para a realização do que foi avistado.

Daí a insistência que aqui foi atribuída ao processo. Não se trata de ir fazendo, num puro ativismo, mas de ir construindo, numa empreitada que é impossível ser feita por uma só pessoa ou pelo somatório de pessoas. O processo só se realiza enquanto construção coletiva, que nega qualquer possibilidade de homogeneização, bem como de mercantilização.

Na construção coletiva coloca-se a questão da tomada de decisões. A pergunta central não é quem decide, mas como e para que se decide. São estas questões, do para que e como, que colocam na ordem do dia tanto a construção como o coletivo. Implica, ainda, a necessidade de transparência e circulação das informações para todos os que estão participando da construção.

Por fim, implica a articulação de diferentes níveis e esferas de atuação. O coletivo não necessariamente de todos que fazem tudo. Ao contrário, há distintos fazeres e habilidades. Daí a necessidade de criar espaços que estimulem e oportunizem diferentes fazeres, que se articulam em torno de objetivos comuns.

A construção coletiva se apresenta como idéia-força capaz de articular as singularidades, num esforço propiciador da potencialização dos indivíduos, elevando-se ao autêntico processo de sua humanização e libertação criadoras.

Extraído do livro:
Brasil: Alternativas e Protagonistas. Consulta Popular, 1999.

fonte: http://www.gtpaforumejadf.unb.br/construcao.htm

Novo blog no ar

Entrou no ar esta semana o blog "A coisa aqui tá preta" (o título é emprestado de "Caro Amigo", de Chico Buarque e Francis Hime), dedicado ao combate à corrupção, à promoção do acesso a informação e a temas incidentais. A idéia é jogar para discussão fatos do momento, assuntos de fundo, idéias e por aí vai. Visite e participe. O endereço é crwa.zip.net. Ou clique em qualquer lugar desta mensagem.

01 setembro, 2005

Fora todos!

Por PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

Se tivesse sido consultado, talvez dissesse: Não, não quero nascer! Quem não se sente assim de vez em quando? Felizmente, a sensação costuma ser passageira. As fontes da vida se refazem de algum modo e, como na canção, mesmo com toda a lama, a gente vai levando.Nos meses recentes, contudo, o desalento vem demorando a passar. Eis o que o brasileiro pergunta: onde estão afinal os líderes de que o país precisa?Que presidentes temos tido! Fernando Collor! O que é isso, meu Deus? Fernando Henrique Cardoso! O que fez o Brasil para merecer oito anos de FHC? Oito anos! Nelson Rodrigues dizia que o brasileiro é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Mas há limites, mesmo para um povo com crônicos problemas de auto-estima.E agora Lula! Ultimamente, ele deu para se comparar a Juscelino Kubitschek. Um leitor escreveu, indignado: "Mais respeito! Juscelino era um estadista".Realmente, Kubitschek, assim como Vargas, tinha projetos para o país, energia, vitalidade e, além disso, algo que falta a boa parte, talvez à maior parte do PT: sentido de nacionalidade.Nacionalismo não é um vago e sentimental amor à pátria e a seus símbolos. É a noção clara da natureza do mundo em que vivemos e da posição que o Brasil nele ocupa e poderia ocupar. O planeta está dividido em nações que disputam espaço palmo a palmo. A cooperação internacional só é possível dentro de limites bastante estreitos. O que prevalece são as rivalidades e conflitos, não raro violentos, entre Estados nacionais.País-continente, um dos maiores em termos populacionais e de extensão geográfica, dotado de recursos naturais abundantes, com uma economia razoavelmente desenvolvida e diversificada, uma sociedade vibrante e uma cultura original, a unidade nacional assegurada, sem graves conflitos raciais ou divisões internas, o Brasil tem potencial para exercer um papel construtivo e importante no plano internacional. Não precisa se subordinar a ninguém. E não deve se conformar em ficar para sempre na periferia do mundo.Depois do colapso do bloco soviético e do "socialismo real", grande parte da esquerda ficou órfã de referenciais ideológicos e doutrinários. Nesse contexto, os petistas se apropriaram oportunisticamente de parte da retórica nacionalista ou nacional-desenvolvimentista. Mas o nacionalismo deles é, em muitos casos, de uma profundidade notável, dessas que uma formiguinha atravessa com água nas canelas, para usar mais uma expressão nelson rodrigueana.Dos tucanos nem se fala. Com poucas exceções, não sabem mais -nem querem saber- o que é nação. Muitos deles aceitam o papel deplorável de meros delegados da "ordem global". São a versão contemporânea da velha UDN, um partido essencialmente nocivo, que foi geralmente golpista, entreguista e alinhado aos Estados Unidos.Nesta semana, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, possivelmente preocupado em agradar a Washington e a seus aliados tupiniquins, criticou o governo brasileiro por ter supostamente se retirado das negociações da Alca. Será que o presidenciável tucano sabe do que está falando? Na verdade, o Brasil não se retirou da negociação. O que aconteceu é que os representantes brasileiros e de outros países não se conformam com a agenda profundamente desequilibrada que os Estados Unidos insistem em propor para a Alca. Quem examinar com isenção e objetividade os documentos da negociação dificilmente chegará a conclusão diferente.Creio que falo por muita gente quando escrevo o seguinte: não queremos em hipótese nenhuma ter que escolher, em 2006, entre um Lula (ou algum outro petista atucanado) e um tucano como FHC ou equivalente. O Brasil está farto desse tipo de político e de estelionatos eleitorais.Se essa for a escolha que nos oferecerem em 2006, teremos que adotar o grito de guerra com o qual os argentinos varreram do mapa os menems, cavallos, de la rúas e tutti quanti:Que se vayan todos!

Paulo Nogueira Batista Jr., 50, economista e professor da FGV-EAESP, escreve às quintas-feiras nesta coluna.
É autor do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005).E-mail - pnbjr@attglobal.net
Fonte: Jornal Folha de S.Paulo, 01/09/2005

A privatização da política educacional: dez questões

Por Pablo Gentili

Bons diagnósticos não produzem necessariamente boas políticas; embora, maus diagnósticos produzam sempre más políticas. O mesmo pode-se dizer de qualquer estratégia de resistência ao projeto neoliberal atualmente em curso. Um bom balanço do rumo assumido pelos governos neoliberais não garante o fortalecimento das lutas democráticas contra as políticas de ajuste e suas conseqüências discriminadoras e excludentes. Todavia, um balanço errado, sem lugar a dúvidas, nos afasta de qualquer possibilidade de resistência social efetiva a essas políticas.
Um "bom" exemplo de mau diagnóstico são alguns dos estudos que analisam a privatização na área educacional. Neles o conceito de "privatização" costuma ser utilizado como sinônimo de "afastamento" do Estado, processo derivado da redução do gasto público social destinado ao financiamento dos serviços educacionais. Resulta evidente que, embora a privatização da educação está vinculada ao ajuste e diminuição do investimento estatal, ela vai muito além desse objetivo, podendo inclusive ser contrária a ele: a privatização educacional pode "conviver" com a manutenção e, em certas áreas, com o aumento do gasto público destinado ao setor. Para melhor compreender este processo, enunciarei dez breves questões, algumas de caráter geral, outras mais específicas:
1. A privatização das políticas sociais não decorre de decisões econômicas baseadas numa suposta racionalidade do gasto público. Trata-se, pelo contrário, de uma decisão política sustentada na necessidade de gerar uma profunda redefinição do papel do Estado e uma redistribuição regressiva do poder em favor dos setores mais poderosos da sociedade.
2. Nesse sentido, a privatização educacional não tem se traduzido necessariamente numa redução dos recursos estatais destinados ao financiamento dos serviços escolares, senão numa realocação de verbas que, em alguns casos, têm inclusive sofrido um significativo aumento (como as políticas de avaliação; as reformas curriculares; a modernização periférica do sistema escolar mediante a compra de computadores e antenas parabólicas; bem como o financiamento público de ações assistencialistas e "filantrópicas" desenvolvidas por entidades da sociedade civil, numa esquizofrênica lógica que, como bem caracterizou Paulo Arantes, leva os governos a tornarem-se ONGs e as ONGs tornarem-se entidades governamentais).
3. Privatizar significa, de modo geral, delegar responsabilidades públicas para entidades privadas. Embora uma conseqüência imediata do processo privatizador seja o afastamento do governo na prestação dos serviços educacionais, com o decorrente aumento da oferta privada nesse campo, a dinâmica de delegação de responsabilidades públicas precisa do Estado e, de forma mediata, o fortalece. Assim, o que está em jogo não é o "afastamento" da ação estatal senão sua reconfiguração.
4. O cenário criado numa conjuntura onde o Estado se torna uma instância promotora da privatização no campo social, por um lado, enfraquece as formas tradicionais de clientelismo político, mas, por outro, o redefine estimulando novas dinâmicas clientelistas vinculadas ao poder que concentram as entidades privadas na esfera educacional (corporações de ensino, fundações, institutos empresariais, consultoras, etc.).
5. Os organismos financeiros internacionais desempenham uma função central na promoção e estimulo às políticas de privatização tanto no campo econômico quanto no campo social. Todavia, isto não deve nos conduzir ao errado argumento de que Estado «sofre» (como entidade externa e subjugada) os efeitos socialmente devastadores da crise da escola pública. Em outras palavras, a natureza do processo privatizador e suas conseqüências excludentes não estão "fora" do Estado, senão dentro mesmo da estrutura que tem definido sua construção histórica e sua especificidade na atual conjuntura.
6. Longe de resolver ou de corrigir a distribuição desigual dos bens educacionais, a privatização tende a aprofundar as condições históricas de discriminação e de negação do direito à escola a que são submetidos os setores populares. Uma das evidências desse processo é a cristalização das dinâmicas de segmentação e diferenciação no sistema escolar (escolas ricas para os ricos, escolas pobres para os pobres).
7. O crescimento da oferta privada se justapõe a essa dinâmica, desenvolvendo formas internas próprias de segmentação e diferenciação. Cria-se, assim, um subsistema particular profundamente heterogêneo no que se refere às condições de qualidade na prestação do serviço. Desse modo, a privatização da educação também promove a estruturação de uma oferta privada pobre para os pobres.
8. A polarização social e o agravamento das condições de exclusão sofridas pelos setores populares (produto da concentração de renda, da deterioração das condições de vida e da precariedade em matéria de emprego) tendem a gerar uma série de demandas educacionais incompatíveis com o formato das políticas sociais em curso e que, ou bem são desconsideradas, ou bem são situadas na esfera de políticas focalizadas de curto alcance.
9. Neste sentido, o assistencialismo focalizado promovido hoje pelos governos neoliberais constitui-se numa das dimensões que assume o processo privatizador no campo social e, especificamente, no campo educacional. Sob a influência dessas políticas, estimula-se uma série de ações delegatórias à sociedade civil (como a "adoção" de alunos e escolas), consagra-se o discurso oficial acerca das virtudes do Terceiro Setor, incentivam-se atividades de voluntariado e promovem-se iniciativas de filantropia empresarial destinadas a substituir ou a complementar as responsabilidades que os governos recusam, ou assumem apenas parcialmente.
10. Em suma, a privatização no campo educacional tem promovido a emergência de novas formas institucionais de prestação de serviços que conduzem a uma redefinição do espaço público (como esfera não-estatal), do sentido atribuído ao direito à educação como direito universal, tanto quanto da própria noção de cidadania. Muito mais que a grave e sempre discriminatória redução do gasto público...

Fonte: Boletim de Políticas Públicas, nº 1, Laboratorio de Políticas Públicas
http://www.lpp-uerj.net/olped/centro_publicacoes_ver.asp?titulo=Boletim%20de%20Políticas%20Públicas&cod=70&tipo=0

Brasil: as armas e as vítimas

Estudo faz um retrato geral do mercado de armas no Brasil e seus efeitos no território brasileiro. A pesquisa traça o histórico da legislação de controle de armas pequenas no país desde a década de 30; analisa as origens do mercado ilegal de armas pequenas no país, faz um mapeamento dos proprietários de armas apontando locais, tipos e quem as possui.
O estudo, feito em parceria entre o Viva Rio e o Iser, analisa também os efeitos das armas de fogo na saúde da população brasileira e as origens da demanda por armas em particular no Rio de Janeiro. Clique aqui para acessar