"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

01 setembro, 2005

Fora todos!

Por PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

Se tivesse sido consultado, talvez dissesse: Não, não quero nascer! Quem não se sente assim de vez em quando? Felizmente, a sensação costuma ser passageira. As fontes da vida se refazem de algum modo e, como na canção, mesmo com toda a lama, a gente vai levando.Nos meses recentes, contudo, o desalento vem demorando a passar. Eis o que o brasileiro pergunta: onde estão afinal os líderes de que o país precisa?Que presidentes temos tido! Fernando Collor! O que é isso, meu Deus? Fernando Henrique Cardoso! O que fez o Brasil para merecer oito anos de FHC? Oito anos! Nelson Rodrigues dizia que o brasileiro é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Mas há limites, mesmo para um povo com crônicos problemas de auto-estima.E agora Lula! Ultimamente, ele deu para se comparar a Juscelino Kubitschek. Um leitor escreveu, indignado: "Mais respeito! Juscelino era um estadista".Realmente, Kubitschek, assim como Vargas, tinha projetos para o país, energia, vitalidade e, além disso, algo que falta a boa parte, talvez à maior parte do PT: sentido de nacionalidade.Nacionalismo não é um vago e sentimental amor à pátria e a seus símbolos. É a noção clara da natureza do mundo em que vivemos e da posição que o Brasil nele ocupa e poderia ocupar. O planeta está dividido em nações que disputam espaço palmo a palmo. A cooperação internacional só é possível dentro de limites bastante estreitos. O que prevalece são as rivalidades e conflitos, não raro violentos, entre Estados nacionais.País-continente, um dos maiores em termos populacionais e de extensão geográfica, dotado de recursos naturais abundantes, com uma economia razoavelmente desenvolvida e diversificada, uma sociedade vibrante e uma cultura original, a unidade nacional assegurada, sem graves conflitos raciais ou divisões internas, o Brasil tem potencial para exercer um papel construtivo e importante no plano internacional. Não precisa se subordinar a ninguém. E não deve se conformar em ficar para sempre na periferia do mundo.Depois do colapso do bloco soviético e do "socialismo real", grande parte da esquerda ficou órfã de referenciais ideológicos e doutrinários. Nesse contexto, os petistas se apropriaram oportunisticamente de parte da retórica nacionalista ou nacional-desenvolvimentista. Mas o nacionalismo deles é, em muitos casos, de uma profundidade notável, dessas que uma formiguinha atravessa com água nas canelas, para usar mais uma expressão nelson rodrigueana.Dos tucanos nem se fala. Com poucas exceções, não sabem mais -nem querem saber- o que é nação. Muitos deles aceitam o papel deplorável de meros delegados da "ordem global". São a versão contemporânea da velha UDN, um partido essencialmente nocivo, que foi geralmente golpista, entreguista e alinhado aos Estados Unidos.Nesta semana, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, possivelmente preocupado em agradar a Washington e a seus aliados tupiniquins, criticou o governo brasileiro por ter supostamente se retirado das negociações da Alca. Será que o presidenciável tucano sabe do que está falando? Na verdade, o Brasil não se retirou da negociação. O que aconteceu é que os representantes brasileiros e de outros países não se conformam com a agenda profundamente desequilibrada que os Estados Unidos insistem em propor para a Alca. Quem examinar com isenção e objetividade os documentos da negociação dificilmente chegará a conclusão diferente.Creio que falo por muita gente quando escrevo o seguinte: não queremos em hipótese nenhuma ter que escolher, em 2006, entre um Lula (ou algum outro petista atucanado) e um tucano como FHC ou equivalente. O Brasil está farto desse tipo de político e de estelionatos eleitorais.Se essa for a escolha que nos oferecerem em 2006, teremos que adotar o grito de guerra com o qual os argentinos varreram do mapa os menems, cavallos, de la rúas e tutti quanti:Que se vayan todos!

Paulo Nogueira Batista Jr., 50, economista e professor da FGV-EAESP, escreve às quintas-feiras nesta coluna.
É autor do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005).E-mail - pnbjr@attglobal.net
Fonte: Jornal Folha de S.Paulo, 01/09/2005