"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

29 agosto, 2005

Cuidados Paliativos

Por Eduardo Macedo de Oliveira


O autor de "O Mundo de Sofia", o norueguês Jostein Gaarder volta ao Brasil para o lançamento do seu novo livro "A garota das Laranjas" (Cia. Das Letras, 136 págs.), seu 14º livro. Por telefone, de Oslo (Noruega), concedeu entrevista ao jornal Estado de S.Paulo (p.10, 17/08/2005). Em um trecho da mesma é indagado: "[...] Você acredita em vida após a morte?" e responde: "Não, mas gostaria de não estar certo. O fato é que adoro viver. É uma lastima que tenhamos de morrer [...]".
Um dia, todos nós estaremos diante desta certeza absoluta. Vida e morte é uma questão de dignidade. Morrer em paz, realizado, sem sofrimento e agonia é o desejo de todos nós. Por razões naturais e/ou estruturais, nem sempre isso será possível. Talvez, muito de nós teremos que passar nossos últimos dias fora de nossos lares, familiares e amigos. Vítimas de doenças incuráveis, poderemos tornar um paciente terminal, internado num leito hospitalar.
Para a medicina, a morte é inimiga. Numa unidade de tratamento intensivo (UTI), o procedimento padrão é investir em todas as possibilidades tecnológicas de cura. Mas a morte é um processo conseqüente da vida. A médica Maria Goretti Maciel afirma "uma paciente fora de possibilidade de cura não é um doente fora de possibilidade de vida" (Jornal Folha de S.Paulo, 04/07/05), ou seja, é possível ter qualidade de vida mesmo diante de uma doença incurável.
Surge uma nova concepção médica, chamada de Cuidados Paliativos. Essencialmente, defende que "quando existe uma chance de cura, vale tudo na medicina, efeitos colaterais, dor, tudo. Mas, quando não há cura, o tratamento tem de ser focado no alívio dos sintomas e no conforto do paciente", diz o oncologista Císio Brandão, do Hospital do Câncer (SP) (Jornal Estado de S.Paulo, 03/04/05).
No Brasil, há cerca de 30 grupos de tratamentos paliativos ligados a hospitais, 10 deles com equipes multidisciplinares. Em São Paulo, a Secretaria de Estado da Saúde tem o serviço de cuidados paliativos no Sistema Único de Saúde (SUS).
É importante destacar que os pacientes continuam a receber os cuidados terapêuticos, mas com o intuito principal de aliviar os sintomas da doença. Cuidados Paliativos, de acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS), englobam cuidados com a dor física, psicológica, social e espiritual. Pesquisas americanas indicam que mais da metade dos paciente com câncer em fase terminal tiveram sofrimento físico durante os últimos dias de vida (jornal Estado de S.Paulo, 27/03/05), afirma o ex-capelão do Hospital das Clínicas de SP, Leo Pessani. No Brasil, com todas as suas deficiências na área de saúde, ocorre a eutanásia social, "uma abreviação coletiva de vida, em que a exclusão e a desigualdade dizimam camadas mais vulneráveis da sociedade (idem)".
Enfim, esta nova concepção médica, propõe uma nova postura, que em vez de manter pessoas indefinidamente presas a uma máquina, seria mais apropriado investir em cuidados paliativos que dessem mais conforto aos mesmos em fase terminal.