"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

05 setembro, 2005

Disputa faz primeira vítima: crianças das escolas públicas

Com sua decisão de permitir publicidade nos uniformes escolares, José Serra quer mostrar que, com sua criatividade, pode encontrar novos espaços para estender o miserável processo de mercantilização da nossa sociedade, para o que os tucanos contribuíram mais do que qualquer outra força política. A análise é de Emir Sader.

Começou a guerra no viveiro dos tucanos, para ver quem será o candidato nas eleições presidenciais de 2006. Inicialmente se tratava quase de cumprir tabela, quando Lula era o grande favorito. O anódino Alckmin fazia bem a figura de um candidato para aquele quadro, enquanto Serra e Aécio Neves se reservavam para 2010.

Quando passaram a ser dar conta que a campanha contra o governo dava frutos eleitorais, enlevados pelas novas pesquisas, abandonaram a idéia de impeachment, mantendo-a apenas para seguir desgastando Lula, e começaram os embates para ver quem poderia vir a retomar o projeto – abandonado pela metade – do governo FHC. Aécio se sente preterido, porque o valerioduto bate nas suas portas, além da sua derrota eleitoral nas eleições municipais de 2004.

Serra e Alckmin se lançam então na briga, com cotoveladas, articulações dentro e fora do PSDB, plantações de noticias na imprensa e tudo aquilo em que os tucanos são mestres – e dispõem de colunistas a seu serviço para esse trabalho. Além disso, disputam a confiança da oligarquia empresarial paulista, chave no financiamento de campanha e na conquista do consenso fabricado pela grande mídia.

Alckmin se sabe uma pessoa pouco credenciada para uma candidatura desse vulto. Medíocre como personalidade – o picolé de xuxú do Zé Simão cabe direitinho na sua personalidade ou falta de -, com nenhum carisma, com um governo que deixa tanto a desejar em áreas fundamentais no seu próprio discurso – como segurança pública, educação -, lhe resta o argumento estatutário – Serra e também Aécio tem mandatos a cumprir. Suas poucas possibilidades nas pesquisas, sua falta de força política – a que se refere Antonio Ermírio, quando o concita para se assumir mais como liderança opositora -, fazem com que esse seja seu maior argumento.

Enquanto isso, Alckmin privatiza tudo o que pode, cortar recursos para as universidades e para a cultura, para projetar-se como o neoliberal de plantão. Mas quando se pode acreditar que já se viu tudo em matéria de mentalidade mercantil, eis que os tucanos reatualizam sua capacidade de abastardar as coisas, sempre insuperável.

Com sua decisão de permitir que se coloque publicidade nos uniformes escolares, Serra quer mostrar que, com sua criatividade, pode encontrar novos espaços para estender o miserável processo de mercantilização da nossa sociedade, para o que os tucanos contribuíram mais do que qualquer outra força política. Imaginem as criancinhas das escolas públicas saindo das aulas com publicidade do McDonalds nas suas costas, nos seus colarinhos, nas mangas de suas camisas, nos joelhos de suas calças, mais parecidos com pilotos de Fórmula 1. Para demonstrar algum pudor, não será permitida propaganda de cigarros ou de bebidas. Mas McDonalds pode, assim como banco, telefonia celular e, quem sabe, candidatura de tucanos.

Uma decisão miserável. Criticavam a decisão do governo de Marta Suplicy de dar uniformes grátis para os alunos das escolas públicas, em um kit que incluía livros, cadernos, lápis. Era para substituir essa visão dos direitos públicos à educação gratuita e de qualidade – expressa nos CEUS, de triste memória com o governo Serra – por essa mercantilização dos uniformes e das crianças das escolas públicas. Uma decisão infame, que merece o repúdio do que exista de dignidade, de espírito republicano, de ética pública em São Paulo e no Brasil.

Mas vale tudo para ganhar a oligarquia empresarial paulista. Até subordinar as crianças das escolas de periferia aos desígnios das grandes empresas de publicidade da Avenida Paulista. Assim os tucanos prefiguram o que pretendem para o Brasil – privatizar a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Eletrobrás, a Caixa Econômica Federal. E terceirizar o país para quem pague mais, como já fazem com as nossas crianças.

fonte: http://agenciacartamaior.uol.com.br/agencia.asp?id=3448&cd_editoria=003&coluna=reportagens