Usinas da esperança?
Por Eduardo Macedo de Oliveira
Hoje, de cada dez carros vendidos no Brasil, oito podem escolher encher os tanques com álcool ou gasolina. A expansão da frota de veículos bicombústiveis, aumentou a demanda por álcool combustível. Mas não é o único fator que explica o crescimento do setor sucroalcooleiro no país. As exportações no setor, por exemplo, que em 2003, mal passavam dos 650 milhões de litros, aproximou-se em 2006, de três bilhões de litros. Somam-se, a elevada valorização do barril do petróleo e a vitória dos produtores brasileiros na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre os subsídios europeus.
Os negócios sucroalcooleiros adquirem novas dimensões, e por tabela, novos desafios, pois geram impactos relacionados às questões fundiárias, ambientais e sociais. Previsões da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (ÚNICA) indicam que a cana-de-açúcar abocanhará mais de 9,5 milhões de hectares das terras agricultáveis em nosso país, em meados da próxima década. O avanço será, principalmente, pelas regiões do Triângulo Mineiro, o sul de Goiás e o leste do Mato Grosso do Sul, substituindo, entre outras, lavouras de laranja e áreas de pastagens. Atualmente, o estado de São Paulo contribui com 72% de toda cana produzida no Centro-Sul.
Em relação à força de trabalho, o setor convive, ao mesmo tempo, com a crescente mecanização (substituição do corte manual) e a migração de trabalhadores pobres, oriundos da região nordeste e Vale do Jequitinhonha (MG) na busca de serviço pesado (e desumano) nos canaviais.
No dia 25/01/07, em solenidade realizada em Belo Horizonte, foi assinado um protocolo de intenções com os grupos sucroalcooleiros Chalet Agropecuária, Transcap Álcool e Açúcar S.A. e Destilaria São Benedito para construção de três usinas na região do Triângulo Mineiro. Em Uberlândia, o empreendimento do grupo Chalet (Usina Nova Energia) se concentrará na produção do álcool. Essa expansão é subsidiada em grande parte pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Mas uma pergunta se faz necessária: quais os impactos da expansão da monocultura (cana-de-açúcar) e da cadeia produtiva exigida para a produção de álcool e açúcar no país? O prof. Ariovaldo Umbelino de Oliveira (USP) alerta: “A monocultura sempre traz efeitos nefastos e a cana não trouxe benefícios para as populações dos locais onde se instalou, como distribuição de renda e melhoria de qualidade de vida [...] se isto tivesse ocorrido, o nordeste brasileiro seria muito rico” (disponível em www.envolverde.com.br, acessado em 19/01/07).
Segundo Antônio Vítor Rosa (USP), a demanda de água no Brasil por atividade é a seguinte: 59,35%, irrigação; 22,06%, abastecimento urbano; 11,24%, indústrias; e 7,35%, usinas sucroalcooleiras.
Enfim, a sorte está lançada. Seria oportuno que a Universidade Federal de Uberlândia acompanhasse e posiciona-se sobre esta nova conjuntura e processo de crescimento. E a Câmara Municipal? Aí é uma longa história.