"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

29 janeiro, 2007

Usinas da esperança?

Por Eduardo Macedo de Oliveira

Hoje, de cada dez carros vendidos no Brasil, oito podem escolher encher os tanques com álcool ou gasolina. A expansão da frota de veículos bicombústiveis, aumentou a demanda por álcool combustível. Mas não é o único fator que explica o crescimento do setor sucroalcooleiro no país. As exportações no setor, por exemplo, que em 2003, mal passavam dos 650 milhões de litros, aproximou-se em 2006, de três bilhões de litros. Somam-se, a elevada valorização do barril do petróleo e a vitória dos produtores brasileiros na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre os subsídios europeus.
Os negócios sucroalcooleiros adquirem novas dimensões, e por tabela, novos desafios, pois geram impactos relacionados às questões fundiárias, ambientais e sociais. Previsões da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (ÚNICA) indicam que a cana-de-açúcar abocanhará mais de 9,5 milhões de hectares das terras agricultáveis em nosso país, em meados da próxima década. O avanço será, principalmente, pelas regiões do Triângulo Mineiro, o sul de Goiás e o leste do Mato Grosso do Sul, substituindo, entre outras, lavouras de laranja e áreas de pastagens. Atualmente, o estado de São Paulo contribui com 72% de toda cana produzida no Centro-Sul.
Em relação à força de trabalho, o setor convive, ao mesmo tempo, com a crescente mecanização (substituição do corte manual) e a migração de trabalhadores pobres, oriundos da região nordeste e Vale do Jequitinhonha (MG) na busca de serviço pesado (e desumano) nos canaviais.
No dia 25/01/07, em solenidade realizada em Belo Horizonte, foi assinado um protocolo de intenções com os grupos sucroalcooleiros Chalet Agropecuária, Transcap Álcool e Açúcar S.A. e Destilaria São Benedito para construção de três usinas na região do Triângulo Mineiro. Em Uberlândia, o empreendimento do grupo Chalet (Usina Nova Energia) se concentrará na produção do álcool. Essa expansão é subsidiada em grande parte pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Mas uma pergunta se faz necessária: quais os impactos da expansão da monocultura (cana-de-açúcar) e da cadeia produtiva exigida para a produção de álcool e açúcar no país? O prof. Ariovaldo Umbelino de Oliveira (USP) alerta: “A monocultura sempre traz efeitos nefastos e a cana não trouxe benefícios para as populações dos locais onde se instalou, como distribuição de renda e melhoria de qualidade de vida [...] se isto tivesse ocorrido, o nordeste brasileiro seria muito rico” (disponível em www.envolverde.com.br, acessado em 19/01/07).
Segundo Antônio Vítor Rosa (USP), a demanda de água no Brasil por atividade é a seguinte: 59,35%, irrigação; 22,06%, abastecimento urbano; 11,24%, indústrias; e 7,35%, usinas sucroalcooleiras.
Enfim, a sorte está lançada. Seria oportuno que a Universidade Federal de Uberlândia acompanhasse e posiciona-se sobre esta nova conjuntura e processo de crescimento. E a Câmara Municipal? Aí é uma longa história.