"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

19 fevereiro, 2007

Pro dia nascer feliz

Por Eduardo Macedo de Oliveira

Entrou em cartaz em São Paulo, o filme “Pro dia nascer feliz”, dirigido por João Jardim. Espero que seja exibido em nossa cidade (será?). Trata-se de um documentário sobre os jovens brasileiros e o aprendizado. Conversando com alunos, professoras e diretoras sobre o cotidiano escolar em lugares distintos; ora numa escola pública no nordeste, ora numa escola particular de elite em São Paulo, revela os anseios, dilemas, incertezas, desafios e problemas de cada um deles.
Segundo o diretor Fernando Meireles (Cidade de Deus - 2002, Jardineiro Fiel - 2005) “não me lembro de outro documentário com tamanha capacidade de nos fazer refletir sobre o nosso futuro e ainda por cima emocionar como poucos filmes de ficção são capazes [...] como um lâmina precisa, o filme corta a alma” (jornal Folha de S.Paulo, 04/02/07). E qual a verdade que o filme nos revela: que o nosso sistema de ensino, leia-se público, que deveria promover a inclusão social acaba sendo um perpetuador das diferenças. “A escola brasileira “sofre” porque é o resultado vivo da incapacidade que a sociedade, o Estado e a política têm de interessar ativamente por ela e defende-la” afirma Marco Aurélio Nogueira (www.lainsignia.org).
Coincidentemente, neste mês, foram divulgados os resultados do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) de 2006. Aplicado desde 1998, o exame é aplicado de forma de forma voluntária para concluintes e egressos do ensino médio. Na primeira edição, participaram cerca de 115 mil alunos; na última, foram 2,78 milhões. O aumento tem uma explicação: muitas universidades públicas e particulares utilizam-se do Enem para pontuação em seus processos seletivos, e o ProUni (Programa Universidade para Todos). Como verificado em outros exames, os resultados foram alarmantes. Nenhuma novidade. No Brasil, investiu-se na universalização e esquecemos da qualidade no ensino. Aqui, farei um recorte focando o ProUni.
Em Uberlândia, a maioria dos participantes do Enem são alunos da escola pública, pois para concorrerem por uma vaga no ProUni, há a exigência de participação no exame. Em razão da UFU não utilizar-se do Enem em seus processos seletivos, a participação dos alunos das escolas particulares é significativamente reduzida. Aqui reside o problema.
Vítimas da ausência de qualidade no ensino médio, os alunos das escolas públicas sonham com uma vaga no ensino superior privado, via ProUni. Contraditoriamente, sabemos que a qualidade das universidades públicas é “astronomicamente” superior em relação às particulares e o ingresso nas mesmas é através de uma acirrada concorrência. Isto é, com o ProUni, nosso sistema educacional perpetua as diferenças. Também para o ensino superior, o essencial é a adoção de políticas para o aumento dos ingressantes (a qualquer preço!), mas como ocorrido na educação básica, a qualidade será apenas um detalhe. Para finalizar, perguntar não ofende: o PAIES (UFU) veio para perpetuar ou diminuir as diferenças?