"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

04 fevereiro, 2007

Futuro Sombrio

Por Eduardo Macedo de Oliveira

Estava ansioso e preocupado durante a madrugada do último dia 2. Acessava constantemente o site do Painel Intergovernamental sobre Mudança de Clima (IPCC, http://www.ipcc.ch/ ) composto por 193 países e 2.500 cientistas. Na esteira das informações e expectativas trazidas pela mídia na véspera, aguardava a divulgação da primeira parte do quarto relatório de avaliação da saúde da atmosfera.
Em razão das evidências nos últimos anos, desconfiava que as notícias não seriam muito boas, o que se acabou confirmando: que o aquecimento global é causado por atividades humanas e pior, seus efeitos serão irreversíveis nos próximos 100 anos.
Em razão dos padrões de produção e consumo de energia provocou-se uma concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, em especial, o dióxido de carbono (CO2) e metano (7,2 bilhões anuais) produzidos pela queima de petróleo e derivados, carvão, agricultura e destruição das florestas tropicais. Onze dos últimos 12 anos foram os mais quentes jamais registrados desde 1850.
O século XXI será decisivo para humanidade. A reação no mundo inteiro foi imediata, ampla e irrestrita. Parece que acordamos (tardiamente!) para as conseqüências de um modelo de existência, político, econômico e social, perverso, inconseqüente e predatório. Um exemplo: a maior petrolífera do mundo, a Exxon, anunciou que teve no ano passado o maior lucro da história do capitalismo: US$ 39,5 bilhões. Enquanto proliferam os lucros das multinacionais (detentores dos meios de produção e capital) a humanidade e demais seres vivos caminham para uma rota suicida. De que adianta lucros se a vida tornou-se insustentável?
A par das conseqüências e efeitos desastrosos, mirei nas fotos dos meus filhos e uma sensação de derrota e frustração tomou conta de mim, um mal-estar indecifrável (e insustentável). Afinal, fomos criados ao lado de conceitos como felicidade, progresso, evolução, entre outros. De repente, como um castelo de areia, desmoronam todas as nossas convicções. Temos a emoção e a razão para uma vida melhor e mais solidária, nossa existência só se justifica por esta premissa.
O que será dos filhos dos filhos dos nossos filhos? Tínhamos nas mãos um planeta belo, espetacular, extraordinário, fantástico, inigualável e misteriosamente singular no sistema solar (e no Universo) e o que nos espera: um futuro sombrio e sofrível.
Temos saída? Talvez, mas prefiro as palavras de Gilberto Dupas (Jornal Folha de S.Paulo, 30/01/07): “Urge aos governos e às instituições internacionais tomarem medidas preventivas drásticas imediatas em nome dos óbvios interesses dos nossos descendentes. Mas, como fazê-lo, se o modelo de acumulação que rege o capitalismo global exige contínuo aumento de consumo e sucateamento de produtos, acelerando brutalmente o uso de recursos naturais escassos? O dilema é ao mesmo tempo simples e brutal: ou domamos o modelo ou envenenamos o planeta, sacrificando de vez a vida humana saudável sobre a terra.”