"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

17 fevereiro, 2006

A vingança de Gaia

Por Eduardo Macedo de Oliveira

Em 1979, o cientista inglês, James Lovelock, lançou a hipótese gaia, isto é, que o planeta se comporta como um organismo vivo. Neste mês, será lançado no Reino Unido, o seu novo livro, "A vingança de gaia". Lovelock, lamenta a nossa má sorte, pois começamos a poluir a Terra no momento em que o Sol está demasiadamente quente. A "febre gaia", segundo o cientista, o aquecimento do planeta, é uma constatação dos climatologistas espalhados pelo mundo. Não é a primeira vez que o planeta encontra-se nesta condição. Na última vez (por outra razão), sua recuperação demorou 100 mil anos.
As conseqüências são (serão) no mínimo drásticas e dramáticas. Quem sobreviver (ou adaptar ao clima infernal) verá! As mudanças climáticas ocorrem numa velocidade espantosa e, ao mesmo tempo, resta-nos pouco tempo para agirmos.
Podemos esperar muito pouco, dos Estados Unidos, China e Índia, as maiores fontes de emissão de poluentes. Um estudo Pentágono (EUA, 2004) adverte que na próxima três décadas, a mudança climática será muito mais perigosa que o terrorismo. Será uma anarquia generalizada, lembram-se das conseqüências do Katrina?
E o Brasil? Infelizmente, caminha de mãos dadas com a poluição e a devastação, em menor grau, comparado aos países desenvolvidos e/ou com taxas de crescimento elevadas, mas igualmente preocupante.
Um exemplo: o agronegócio responde por 37% das vendas brasileiras, batendo recordes de exportação. Gera divisas, empregos e crescimento econômico. Entretanto, o impacto ambiental provocado pelo mesmo é altíssimo. Qual seria o custo ambiental da expansão do agronegócio para o Brasil e a sua população?
O que importa neste modelo é a máxima obtenção de lucro no menor tempo possível. Sua lógica: maximizar os ganhos, minimizar os investimentos e encurtar no máximo os prazos, em escala mundial (nacional) sem qualquer cuidado ecológico. O motor que preside esta lógica é a feroz competição.
Seus impactos: destruição de rios, banhados, solos, matas, cerrados e florestas, a degradação da qualidade do ar e da água, a contaminação química no ambiente e nos próprios alimentos.
Um dado: 70% dos cursos de água entre o Rio Grande do Sul e a Bahia – região que concentra a maior parte da produção agrícola do país – estão contaminados por agrotóxicos e outros produtos químicos.
Afinal, o que consiste mesmo o progresso de uma país? Ser um dos maiores produtores agrícolas e, ao mesmo tempo, maior destruidor do meio ambiente, vale a pena?
Disse Leonardo Boff, "a economia desgarrou da sociedade" e pergunta: "quais são as alternativas à desintegração?".