"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

24 outubro, 2008

Metáfora da Cegueira

Ensaio sobre a Cegueira” é um romance do escritor português José Saramago, publicado em 1995, e traduzido para diversas línguas. A obra se tornou uma das mais famosas de Saramago e recebeu o prêmio Nobel de literatura em 1998, três anos após sua publicação. O diretor brasileiro Fernando Meirelles (“Cidade de Deus”, “O Jardineiro Fiel”) adaptou o romance de José Saramago com o título, em inglês, de “Blindness”, com estréia prevista em Uberlândia nesse mês de outubro. José Saramago e Fernando Meirelles nos trazem a comovente história sobre a humanidade em meio à epidemia de uma cegueira misteriosa. É uma investigação corajosa da natureza e de sentimentos humanos como egoísmo, oportunismo e indiferença e convida a refletir sobre o ser humano e seus mais baixos instintos, além da sua capacidade de amar e seu senso de responsabilidade.

José Saramago parece querer chamar a atenção dos seus leitores para as questões morais que regem uma sociedade e que, em várias medidas, estão sendo negligenciadas. Essa relativização moral pode e deve acontecer contanto que se pretenda à melhoria do convívio social. Isso é o que constitui a ética. Questões sociopolíticas são lançadas e talvez isso aproxime tanto o romance da realidade. O “Ensaio sobre a Cegueira” está nessa fronteira entre o real e o ficcional, na medida em que aborda questões muito recorrentes no cotidiano das pessoas. É possível dizer que a alienação é freqüente em sociedades marcadas pela imposição de hierarquias e pela dominação por meio do poder? Como falar de olhos a um mundo cego? E existe algo que possa curar essa “cegueira” da humanidade?

No livro, José Saramago traz essas questões e temas universais, retratando não só a deficiência visual, como também a mais profunda e envolvente que é a “cegueira simbólica”, destacando que nossa visão é antes de tudo uma questão cultural, sendo influenciada mais pelo mundo. Na verdade, vemos somente o que é imposto e o que nos é dado. Também temos esse lado de enxergar as coisas boas da vida, só que não é por doença, é a cegueira que acompanha a modernidade e a pessoa já não sabe mais diferenciar o que é verdadeiro e o que é falso. Por vivenciarmos tanta coisa ruim, desejamos profundamente estarmos cegos simbolicamente, já que por meio disso podemos ter a visão das coisas que escolhemos.

O romance aborda a manifestação de uma cegueira abatendo uma cidade não identificada. Aos poucos, todos acabam cegos e reduzidos a meros seres lutando por seus instintos, à medida que os afetados pela epidemia são colocados em quarentena, em condições desumanas, e os serviços estatais começam a falhar. Somente uma mulher não é atacada pelo mal da epidemia. Resta apenas a sua visão em meio à cegueira, moral e física, que aflige os homens, tornando-a a única testemunha da degradação a que foi capaz de alcançar essa sociedade absolutamente cega.

O livro apresenta o arruinar completo da sociedade. Por causa da cegueira, perde tudo aquilo que considera como civilização. “Ensaio sobre a cegueira” retrata a profunda humanidade dos que são obrigados a confiar uns nos outros quando os seus sentidos físicos os deixam. A história torna-se não só um registro de sobrevivência física das multidões cegas, mas também das suas vidas e da dignidade que tentam manter. Nossa cegueira começa sempre em nós mesmos. Esse é o vírus da cegueira que acaba nos impedindo de ver o outro e a sociedade.

Entre desumanização e humanização presente na narrativa, Saramago convida o leitor a uma revisão de valores e a tomada de consciência a respeito da situação do homem enquanto cidadão do mundo. Isso porque é possível haver humanização por meio do resgate da memória, da solidariedade e também da libertação das máscaras sociais, que alienam e aprisionam. Tal situação é agravada pela desintegração da vida humana articulada e, conseqüentemente, pelo estabelecimento da alienação dos indivíduos, seguindo o conceito de alienação marcado pela imposição de hierarquias e pela dominação por meio do poder. Acho que todos nós somos capazes de resolver as questões, de fazermos as escolhas certas. No livro isso fica muito claro. O tema essencial é a dignidade humana. E como os artifícios para mantê-la na nossa sociedade são frágeis. A linha que define a civilização da civilidade das pessoas é muito delicada. E o que mais nos aproxima da civilidade é o fato de vivermos em comunidade, de precisarmos viver em comunidade. Uns cuidando dos outros. Da família, dos amigos, da nossa cidade. “Ensaio sobre a cegueira” é uma obra que serve de reflexão aos múltiplos sentimentos humanos e às questões sociopolíticas. Vale a pena conferir, para refletir nossas escolhas políticas.

* Viviane Moreira da Rocha Graduanda em História pela Universidade Federal de Uberlândia e integrante do Núcleo de Estudos em História Social da Arte e da Cultura (NEHAC)
vivirocha25@hotmail.com

fonte:
http://www.correiodeuberlandia.com.br/coluna/NEHAC/54/nehac.html

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

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3:14 PM

 

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