"Uma vida não é nada. Com coragem pode ser muito" Charles Chaplin

31 outubro, 2005

Um gesto histórico

Por Eduardo Macedo de Oliveira

Cinquenta anos atrás, uma costureira negra americana de Montgomery (Alabama) chamada Rosa Parks, 42 anos, deflagrou uma reação histórica, uma revolução. No dia 1º de dezembro de 1955, recusou-se a ceder seu lugar num ônibus a um homem branco. Naquela época, um conjunto de leis vigentes exigiam a separação das raças nos ônibus, restaurantes e locais públicos no sul dos Estados Unidos, além de excluir os negros de vários trabalhos e de impedi-los de residirem em certos bairros. "No Estado do Alabama, os passageiros negros dos ônibus tinham de seguir certas regras: os primeiros 10 lugares eram reservados para os brancos. Mesmo se não houvesse brancos no ônibus, os negros tinham de se sentar no fundo, e se não houvesse lugar no fundo, ficar em pé. Se o setor dos brancos estivesse cheio, alguns motoristas mandavam os negros dar seus lugares no fundo para os passageiros brancos Alguns motoristas deixavam os negros entrar pela porta da frente só para pagar a passagem, mandando-os depois para a porta de trás para encontrar um lugar. Às vezes o ônibus partia entre o pagamento e a entrada do passageiro, deixando-o na rua." (Jornal Estado de S.Paulo, 26/10/05).
Ela recusou-se a ceder seu lugar conforme as regras. Foi presa e multada em U$ 14. Sua prisão motivou um boicote de 381 dias ao sistema de transporte de ônibus e despertou a liderança de um jovem reverendo chamado Martin Luther King, que mais tarde ganharia o Nobel da paz.
Os protestos se alastraram por todo território americano. No dia 24 de outubro, Rosa Parks morreu de causas naturais, aos 92 anos. Tornou-se o símbolo da luta contra a segregação racial. Os direitos civis, a partir de então, tornaram-se pauta obrigatória nos Estados Unidos, motivando novas lideranças e movimentos sociais pelo mundo afora.
É surpreendente que isto tudo ocorreu, relativamente, a pouco tempo. Um gesto solitário que mudou uma nação.
Preconceitos, injustiça e exclusão social: temos que combatê-los com rigor e determinação. Hoje não temos leis raciais, temos a exclusão econômica e social, invisíveis, mas igualmente segregadoras.
Recentemente, em nossa cidade, os estudantes fizeram um movimento em protesto contra o aumento do valor das passagens do transporte público urbano. A manifestação foi legítima e necessária, porém não seria mais eficaz um boicote aos ônibus, como o ocorrido em 1955. O boicote quase quebrou o transporte público de Montgomery (Alabama), que tinha dois terços de seus lucros provenientes dos negros.
Coragem e ousadia, palavras chaves para a defesa da justiça social e dos direitos civis. Muito obrigado Rosa Parks, sua desobediência corrigiu um preconceito hediondo.