Contra a corrupção: internet!
Por MARCELO TAS
O atual escândalo político me lembra o Big Brother Brasil.O mensalão virou um reality show. As semelhanças são evidentes. O programa de TV acontece ao vivo, em tempo real. A cada semana, surgem novos candidatos ao paredão. O enredo depende da disputa de vida ou morte entre os personagens.
Para evitar serem ejetados da vida pública, os participantes preparam estratégias com advogados e instrutores de voz e postura. É um show de mídia.
E tem aquela semelhança bem perigosa do mensalão com o Big Brother: apagamos muito rápido o nome dos participantes da memória. Ou você se lembra quem é Xaiane, Juliana, Paulo André, Vanessa, Rodrigo, Géris ou Joseane? Antes, capas de revista; hoje, uma vaguíssima lembrança. Nos escândalos de corrupção brasileiros acontece a mesma coisa.
Ou você se lembra de algum dos envolvidos no escândalo dos precatórios? Da Máfia da Previdência? Da Máfia dos Bingos? Dos outrora famosos funcionários fantasmas da Câmara? Dos acusados pela CPI do Judiciário? Do rei do nepotismo da Paraíba? Dos vereadores que não quiseram investigar os fiscais nas regionais de São Paulo?
Daquele parlamentar que cortava gente com motoserra no Acre? Ou o nome de um dos anões do Orçamento? É muita informação para pouco espaço no hard disk da nossa memória cansada. No momento, estamos indignados com a careca e a cara-de-pau de Marcos Valério. Mas quem garante que ele não vai evaporar da nossa mente assim que aparecer o próximo vilão? Respondo: a internet.
A grande rede é uma memória coletiva que pode ser consultada e ampliada com um simples clique. Com a popularização do acesso, e com a escalada dos escândalos, surgem a cada dia novos sites dedicados à preservação da memória de falcatruas, trambiques e pisadas na bola em geral.
Na maioria das vezes, são áreas dentro de sites de ONGs, órgãos de imprensa e entidades de classe. Mas existem alguns criados e mantidos por internautas anônimos.
Além da explosão dos blogs políticos, o atual escândalo já inspirou a criação do domínio www.mensalao.com.br.
Há também uma longa lista de maracutaias em www.corrupcao.com. br. E até na Wikipedia, a maior enciclopédia de acesso público da internet mundial, já existe o verbete 'escândalo do mensalão' (http://pt.wikipedia.org/wiki/Escândalo_do_mensalão). Lá está toda cronologia dos fatos com uma constante atualização de novos links e informações.
Um dos sites anticorrupção mais antigos, ainda em atividade no Brasil, atende pelo singelo nome de Home Page dos Corruptos e dos Maus Homens Públicos (http://www.geocities. com/Paris/Opera/4700). Esse endereço extenso e complicado já recebeu mais de 170 mil visitas. Foi criado por um cidadão que resolver anotar numa folha de papel o nome de políticos corruptos em que ele nunca votaria. A idéia da lista surgiu com o famigerado caso da Máfia dos Fiscais, ocorrido em 1999, na prefeitura do inesquecível Celso Pitta, em São Paulo.
Segundo o autor do site, que prefere permanecer no anonimato, o estopim para transformar a lista de papel, que só aumentava, num endereço de internet foi um Globo Repórter, veiculado em Janeiro de 2000. O programa mostrava autoridades da cidade de Porto Calvo, Alagoas, envolvidas com prostituição infantil.
Na noite em que seria exibida a reportagem, misteriosamente a energia elétrica acabou na cidade. A antena transmissora foi destruída. O nosso amigo, criador da lista dos corruptos, percebeu que, com a internet, os métodos pré-históricos de censura perderiam o sentido. Esse momento de crise política é uma boa hora para reconhecermos e difundirmos essa grande virtude do uso da internet.
Bem usada, a rede de computadores é perfeita para pegar tubarões. Ou pelo menos para fazer com que não nos esqueçamos do nome deles na hora de votar nas próximas eleições.
Cmarcelotas@gmail.com
Publicado no jornal Estado de S.Paulo, Suplemento Informática, dia 01/08/2005.
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